sexta-feira, 29 de julho de 2011

O que é poesia?

O que é Poesia? / Edson Cruz, organizador. Rio de Janeiro: Confraria dos Vento:  Calibán, 2009. 144p.

Livro prático que se lê em dois tempos, de conteúdo aprofundado através da fala de seus muitos autores literalmente chamados de "poetas à queima-roupa" por se arriscarem a responder perguntas espinhosas, e ingênuas, legítimas e difíceis. E o responderam, as três perguntas ora concentradas no livro:

O que é poesia para você?
O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?
Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que estas escolhas?

As respostas as mais variadas surpresas, profundas, outras aleatórias, técnicas, sensíveis, próprias das percepções, vivências de cada autor mas com um quê poético que só um verdadeiro poeta sabe adentrar no jogo onde cada palavra colocada pode faz a diferença na emoção de quem lê.

Ficaremos com a intrigante pergunta inicial (O que é poesia para você?):

Márcio-André: É quando o mundo se curva diante de uma palavra: o espaço se comprime, o tempo se expande, passado e futuro sonham-se mutuamente enquanto presente e tudo passa a ter um sentido tão pleno e arrebatador que pouco pode-se resguardar além de algumas palavras.

Micheliny Verunschk: A poesia para mim é a forma mais eficaz de alcançar algo inatingível, a essência do real ou, antes, o real em essência. É também o único modo pelo qual posso enxergar o mundo. Ela está um degrau acima da filosofia e um degrau abaixo do amor.

Nicolas Behr: Poesia é tudo o que você está sentindo agora.

Eunice Arruda: A poesia, para mim, é uma das formas de viver. Que está incorporada em meus dias. Significa captar, no cotidiano (ou em outra dimensão que não ouso nomear), as emoções. Os pensamentos. Para depois devolvê-los ao mundo transformados em outra linguagem: a da poesia. Mas, muitas vezes, abandonei este caminho - a estrada real - para conhecer o atalho. Visitar a cor de outras ramagens.

Glauco Mattoso: a poesia é uma metralhadora na mão dum palhaço. Seu poder de fogo pode ser apenas intencional, e seu efeito apenas hilário, mas o franco-atirador, ao expor-se em sua ridícula revolta, no mínimo consegue provocar alguma reação, ainda que meramente divertindo o público, e alguma reflexão sobre o papel patético dos idealistas e visionários, que, no fundo, somos todos nós.


Autores na antologia:

Affonso Romano de Sant´Anna, Amador Ribeiro Neto, Ana Elisa Ribeiro, André Vallias, Aníbal Beça, Antonio Cícero, Augusto de Campos, Bárbara Lia, Carlito Azevedo,  Carlos Felipe Moisés, Claudio Daniel, Claudio Willer, Eunice Arruda, Fabiano Calixto, Felipe Fortuna, Flávia Rocha,  Floriano Martins, Frederico Barbosa, Glauco Mattoso, Horácio Costa, Jair Cortés, João Miguel Henriques,  João Rasteiro, Jorge Rivelli, Jorge Tufic, José Kozer, Luis Serguilha, Luiz Roberto Guedes, Marcel Ariel, Márcio-André, Marcos Siscar, Micheliny Verunschk, Nicolas Behr, Nicolau Saião, Ricardo Aleixo, Ricrdo Corona, Ricrdo Silvestrin, Rodolfo Hãsler, Rodrigo Petronio, Sebastião Nunes,  Tavinho Paes, Victor Paes, Virna Teixeira, Washington Benavides.

sábado, 9 de julho de 2011

El Puente - Mário Benedetti



Para cruzarlo o para no cruzarlo

ahí está el puente

en la otra orilla alguien me espera

con un durazno y un país



traigo conmigo ofrendas desusadas

entre ellas un paraguas de ombligo de madera

un libro con los pánicos en blanco

y una guitarra que no sé abrazar



vengo con las mejillas del insomnio

los pañuelos del mar y de las paces

las tímidas pancartas del dolor

las liturgias del beso y de la sombra



nunca he traído tantas cosas

nunca he venido con tan poco



ahí está el puente
para cruzarlo o para no cruzarlo
yo lo voy a cruzar

sin prevenciones

en la otra orilla alguien me espera
con un durazno y un país.

(Mário Benedetti)

Mário Benedetti nasceu em 1920 em Paso de los Toros. Em 1973, teve que sair de Montevidéu depois do golpe militar e foi viver em Madri. Com a redemocratização do país, voltou ao Uruguai, dividindo seu tempo entre os dois países. É autor de mais de 50 livros, entre eles, Quem de nós, Correio do Tempo, O amor, as mulheres e a vida, já resenhados aqui onde Nós Todos Lemos.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Um cemitério de pássaros
(para Lígia Guedes) - Bento Moura

"...por toda a minha vida..."
Técnica mista o 40 cm - SP, 2011
por Bento Moura

Ninho_Niño
por Bento Moura
interessa no mundo?
da valia dos escombros
Senão em risos opacos, vozes disjuntas


Interessa qualquer coisa transmutada
Dito nomes, feito símbolos


Interessa qualquer coisa assim
Feito aceno breve, sorrateiro
Reluzente de esgar

De bruma partida nos olhos contritos -
debruados numa valsa, numa dúvida
vago esgar de peito caindo, caindo


Noite ida, noite ida
Dei prá acalentar a escuridão
como se fosse um pedaço de beijo


Ou um tombo de mariposa no abismo
Na vidraça
Na vidraça um pardal


Enxague
retalhada voz sentida
aquietada, estática


era para ser uma janela


No degrau do quintal
quando amanhece e o dia
se faz claro sobre as asas deixadas


vazias
perdidas
como os acenos perdidos - e onde as asas eram quase asas de voar.


(Bento Moura)

Recebi esta belíssima homenagem de Bento Moura que me deixou extremamente emocionada pelo carinho.

Receber este belo poema é como receber uma delicada flor e passar um período a admirar, a exalar seu perfume e tão somente depois chegar a tocar suas delicadas pétalas.

Assim foi. Estou meses a apreciar, a compreender cada palavra, sentir a emoção com que foi escrita, enfim, somente agora venho postá-la, visto já estar familiarizada com cada letra que se fez frase, que formou idéia e especialmente emoção. E olha que vindo de um artista como Bento...

Tem momentos que a emoção substitui as palavras. Este poema é um belo presente que já se fez inseparável e somente agora compartilho aos amigos.

domingo, 19 de junho de 2011

Pablo Neruda - A poesia

(Pablo Neruda)

Tem momentos em nossas vidas que a reflexão nos leva a nos desligarmos de leituras longas. Somente a poesia talvez cumpra este papel de reconecção, de completude, velhas companheiras de caminhada.

Observava o quão lindo é o encontro do homem com a poesia tão bem expresso nas palavras de Pablo Neruda, grande conhecedor dos sentimentos humanos, através desta belíssima poesia:

E foi nessa idade... Chegou a poesia
para me buscar. Não sei, não sei de onde
saiu, de inverno ou rio.
Não sei como nem quando,
não, nao eram vozes, não eram
palavras, nem silêncio,
porém desde uma rua me chamava,
desde os ramos da noite,
de repente entre os outros,
entre fogos violentos
ou regressando sozinho,
ali estava sem rosto
e me tocava.
Eu não sabia o que dizer, minha boca
não sabia
nomear,
meus olhos eram cegos,
e algo golpeava em minha alma,
febre ou asas perdidas,
e me fui fazendo só,
decifrando
aquela queimadura,
e escrevi a primeira linha vaga,
vaga, sem corpo, pura
tontice, pura sabedoria
de quem não sabe nada,
e vi de repente
o céu
degranado e aberto,
planetas,
plantações palpitantes,
a sombra perfurada,
crivada
de flechas, fogo e flores,
a noite esmagadora, o universo.

E eu, mínimo ser,
ébrio do grande vazio
constelado,
à semelhança, à imagem
do mistério,
me senti parte pura
do abismo,
rolei com as estrelas,
meu coração se desatou no vento.

(De Memorial de Isla Negra - Pablo Neruda)

sábado, 11 de junho de 2011

Festival Varilux de Cinema Francês 2011



Está ocorrendo desde o dia 8 de junho o "Festival Varilux de Cinema Francês", até o dia 16 de junho do corrente ano.


Filmes como Copacabana, O Pai dos Meus Filhos, Vênus Negra, Xeque Mate, Os Nomes do Amor, Um Gato em Paris, Lobo estão na programação, no CINEMAGIC, em Macaé, RJ.

(Copacabana)

Se você estiver passando por alguma das 22 cidades brasileiras: Belém, Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Campos, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, João Pessoa, Juiz de Fora, Macaé, Maceió, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, Santos, São Luis, São Paulo, Vitória, vale conferir!

(Lobo)




sexta-feira, 27 de maio de 2011

Elo - Carla Guedes


(Imagem Grafite: L Guedes)

Sentir a causa inteligente que me move
vai além do crivo cerrado da razão.
É abrir as comportas da alma, e, num dilúvio,
inundar-se da comoção
de ser pedaço.

[Pedaço do todo, partes que conjuntas
constroem o vitral colorido
das vidraças sagradas
do templo da natureza.]

Sentir a ação primeira
é impelir-se a ser correnteza
E nos fortes elos da corrente, de mãos dadas,
calcar rumo ao tão perto coração desamparado
do próximo.

É descobrir-se candeia e altear-se
perante a estrada sombria e escura,
Ser grato pelo pão singelo à mesa
que nos dá a força propulsora
do passo.

É contemplar sem abismos o crepúsculo avermelhado
e o cosmo salpicado de astros que vagueiam pelo infinito.
buscar a felicidade nas oportunidades oferecidas,
acreditando que a vida não está presa a esmo
do acaso.

É sentir o infinito pulsando dentro de si,
e descobrir que o elo
com a causa primeira das outras coisas todas
é de fato o sentimento motivo da criação:
o amor.

(Carla Guedes - Verso in' verso)

sábado, 21 de maio de 2011

Um Homem de Família

"Um Homem de Família"
Lançamento: 2000 (EUA)
Direção:        Brett_Ratner
Atores:          Nicolas Cage, T Leoni, Josef Sommer, Jeremy Piven.
Duração:       125 min
Gênero:         Comédia

Sinopse

Jack Campbell é um investidor de Wall Street jovem e solteiro vivendo uma vida de rico em Nova Iorque. Ele se surpreende quando sua ex-namorada, Kate, tentou ligar para ele após anos sem se verem.
Após uma conversa com o seu mentor na empresa, Jack resolve não atender no momento. Naquela noite de natal, ele resolve ir a pé até a sua casa, passando por uma loja de conveniências. No caminho acaba convencendo um vencedor da loteria, irritado, chamado Cash a não atirar no vendedor. Ele oferece ajuda à Cash antes de ir dormir em sua cobertura.
Tudo muda num passe de mágica quando na manhã seguinte ele acorda em um quarto no subúrbio de Nova Jersey com Kate, a sua atual esposa, com quem anteriormente ele havia deixado de se casar e ainda com duas crianças que ele se quer conhecia. Jack percebe então que esta é justamente a vida que ele teria se não tivesse se transformado em um investidor financeiro quando jovem. Ao inves disso, ele tem uma vida modesta, onde ele é um vendedor de pneus e kate é uma advogada não-remunerada.

O filme Um Homem de Família faz profundas reflexões acerca da essência da busca da vivência do ser humano: ser feliz. Na história específica, as facetas que compoem esta busca na vida de um homem são expressas por seu relacionamento com o trabalho e a família.

 A divertida história se passa em dois mundos na vida deste homem (Nicolas Cage): no topo do capitalismo (a vida de um alto executivo) e seu relacionamento empresariado como na vida de um trabalhador de nível social mediano, ou seja, um vendedor de pneus e seus relacionamentos sociais e familiar (mulher e dois filhos).

 Ponto alto na sutileza com que é tratado um tema tão importante quanto relacionamento amoroso e familiar x vida profissional, o valor da amizade, entre outros.



Bom filme!

sábado, 14 de maio de 2011

Cora Coralina



Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas (Cora Coralina) nasceu no dia 20 de agosto, em Goiás, GO 1889 e morreu em 10 de abril, em Goiânia, GO, em 1985.


TODAS AS VIDAS


Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando pra o fogo,
Benze quebranto,
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro,
Ogã; pai-de-santo...
Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d´água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.

"Amo a terra em místico amor consagrado, num esponsal sublimado procriador e fecundo."


Cora Coralina começou a escrever aos 14 anos de idade. Desde então, nunca mais abandonou a literatura, paixão que lhe garantiu o repúdio da sociedade local. A poesia não fazia parte das tarefas corriqueiras de uma mulher no interior de Goiás em princípios do século XX.

Resolveu dedicar-se com afinco à literatura depois de uma desilusão amorosa. Tinha 18 anos quando se apaixonou por um rapaz que estudava no Rio de Janeiro e estava passando férias em Goiás. A mãe dele cortou o relacionamento e antecipou o retorno do filho. Como diria Cora anos depois: "as mulheres do passado, não sabenod ser carinhosas - que que aquele tempo de dureza e severidade não ajudava - tornavam-se cruéis".

Apesar do preconceito, Cora aprendeu métrica, leu grandes poetas da língua portuguesa, como Camões, Bilac, Tomás Antônio Gonzaga, Garret e Gregório de Matos, e passou a colaborar para o Anuário Histórico e para um semanário publicado em sua cidade.

Em junho de 1911, a poetisa conheceu o novo chefe de polícia local, Cantídio, um homem que era 21 anos mais velho do que ela. A mãe de Cora proibiu terminantemente o namoro, de modo que, na madrugada do dia 25 de outubro daquele mesmo ano, o casal fugiu para o interior de São Paulo. Cora estava grávida de dois meses. O casal teve seis filhos - Paraguassu, Enéias, Cantídio, Jacintha, Maria Isis e Vicência -, 16 netos e 29 bisnetos.

Após a mudança para o interior paulista, Cora colaborou para diversos jornais, entre eles O Democrata, do qual seu marido era um dos redatores. Esporadicamente, também contribuía para o periódico A Informação Goiana, impresso no Rio de Janeiro mas distribuído no estado de Goiás.
Somente aos 75 anos Cora publicou seu primeiro livro, Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. Doze anos depois, em 1976, lançou Meu livro de cordel, sem grande repercussão. Em 1979, ao ser "descoberta" por Carlos Drummond de Andrade, a obra de Cora Coralina ganhou projeção nacional: "Se há livros comovedores", escreveu Drummond a respeito da estréia da autora, "este é um deles. (...) Cora Coralina: gosto muito desse nome, que me invoca, me bouleversa, me hipnotiza, como no verso de Bandeira."

"Escrever é uma recriação da vida, e, recriando a vida, eu me comunico. Não invento, não sou uma criadora, sou uma recriadora da vida. Esta é a marca mais viva do meu espírito junto à minha capacidade de dizer uma mentira."
(Cora Coralina)

"Seu Vintém de cobre é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida!"
(Trecho de carta de Carlos Drummon de Andrade)



Fonte: 100 Anos de Poesia - Um panorama da poesia brasileira no século XX - volume II - organização Claufe Rodrigues e Alexandra Maia - O Verso Edições - 2001 - Rio de Janeiro.

sábado, 7 de maio de 2011

Clarice Fotobiografia - Nádia Battella Gotlib


Clarice Fotobiografia / Nádia Battella Gotlig. 2a. edição - São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.


"Pegar o vivo e tirar o seu imóvel retrato e olhar-se no retrato e pensar que o flagrante deixou uma prova, a desse retrato já morto."
(Um Sopro de Vida - Clarice Lispector)

Clarice Lispector (1920-1977), nascida em Tchetchélnik, na Ucrânia (Rússia), e naturalizada brasileira, é escritora já reconhecida pela crítica, tanto no Brasil quanto no exterior, por sua obra ficcional e por sua atividade na imprensa carioca, desenvolvida ao longo de 37 anos de produção. Nascida durante a viagem dos pais, judeus imigrantes que vieram com as três filhas para o Brasil, morou em Maceió e Recife, depois, no Rio de Janeiro, em seguida, em países europeus (Itália, Suiça, Inglaterra) e nos Estados Unidos e, novamente, no Rio de Janeiro. Este livro registra, numa narrativa visual criada a partir de imagens acompanhadas de legendas e, de no final, textos explicativos mais detalhados, os momentos mais marcantes desse percurso de vida e obra pautado na busca, sempre renovada, de exprimir o inexprimível da natureza humana, em linguagem criativa, experimentada como selvagem "matéria viva pulsando".

A autora de Clarice Fotobiografia  já avisa de antemão: a prova e o enigma envolverá o leitor / espectador desta Fotobiografia. Os encontros mágicos podem ocorrer a partir de algumas transcrições de textos seus, ou de modo mais sutil, em cada detalhe gráfico: certas paisagens, pedaços de cidades, pessoas sós ou em grupo, na caligrafia de certas cartas e dedicatórias, em espaços interiores, em papéis ora desgastados pelo tempo, ora em sépia, ora voluntariamente rasgados, sinais gráficos do que existiu, como são também sinais os registros de passeios, posturas de corpo, olhares, gestos.

O livro é um deleite não somente aos olhos pois é uma construção histórica a partir da vida de Clarice e seus familiares através de imagens e textos que foi assim distribuída:

1. Da Ucrânia ao Brasil: em exílio.
2. Em Maceió: a infância nordestina
3. Em Recife: À beira do capibaribe
4. Rio de Janeiro: a mocidade carioca
5. Em Belém do Pará: a vida a dois
6. Em Nápoles: "O Mediterrâneo é azul, azul"
7. Em Berna: "Cemitério de sensações"
8. Em Trquay: o gosto pelo cinzento
9. Em Washington: quase sete anos
10. No Rio de Janeiro: a volta definitiva
11. Ainda no Rio de Janeiro: Horas de estrela
12. Para sempre: a obra viva
13. Do Brasil à Ucrânia: em Tchetchélnik

sábado, 30 de abril de 2011

As Cem Melhores Crônicas Brasileiras - Joaquim Ferreira dos Santos


As Cem Melhores Crônicas Brasileiras - Joaquim Ferreira dos Santos, Objetiva - Rio de Janeiro - RJ, 354 pág.

Sobre o Amor
(Ferreira Gullar)

"Houve uma época em que eu pensava que as pessoas deviam ter um gatilho na garganta: quando pronunciasse - eu te amo -, mentindo, o gatilho disparava e elas explodiam. Era uma defesa intolerante contra os levianos e que refleti sem dúvida uma enorme insegurança de seu inventor. Insegurança e inexperiência. Com o passar dos anos a idéia foi abandonada, a vida revelou-me sua complexidade, suas nuanças. Aprendi que não é tão fácil dizer eu te ano sem pelo menos achar que ama e, quando a pessoa mente, a outra percebe, e se não percebe é porque não quer perceber, isto é: quer acreditar na mentira. Claro, tem gente que quer ouvir essa expressão mesmo sabendo que é mentira. O mentiroso, nesses casos, não merece punição alguma."
(continua - pág. 279)

As crônicas desta antologia se consagram como pequenas obras-primas de emoção, baseadas nos espantos e alegrias, decepções e surpresas do cotidiano. Contam a história de um país e de um gênero que outrora foi considerado menor. Fenômeno de aceitação popular, a crônica superou o preconceito e se instalou como iguaria fina, assinada por mestres da nossa literatura.

Amorosa, bem-humorada, leve e refinada, a crônica brasileria conquistou seu lugar e inventou um estilo, modo de escrever e viver. Mistura as artes do espírito sensível com os fatos da atualidade, mesmo que seja aquela realidade passando embaixo apenas da janela do autor. Pois é falando na primeira pessoa, com voa poética ou perplexa, jornalística ou irônica, que o cronista nos encanta.

Craque do gênero, Joaquim Ferreira dos Santos fez esta seleção sem se deixar amarrar pelas leis acadêmicas, mas orientando-se pelo poder que as crônicas têm de seduzir - marca essencial  de todas reunidas neste volume, que se tornaram clássicos de referência da nossa educação literária e sentimental.

O livro apresenta crônicas escolhidas pelo curador no uso da sua subjetividade máxima, como convém ao gênero, e desafiam a idéia de apenas narrar seu tempo. Acabaram indo aonde ninguem poderia imaginar. Eternas. Peças de referência com representantes de primeira ordem:

De 1850 a 1920
( o cronista entra em cena e flana pela cidade)
Machado de Assis
João do Rio
Lima Barreto
José de Alencar
Olavo Bilac

De 1920 a 1950
(Com a bênção dos modernistas de bermudas)
Rubem Braga
Vinicius de Moraes
Oswald de Andrade
Alcântara Machado
Rachel de Queiroz
Mario de Andrade
Humberto de Campos
Graciliano Campos

Os anos 1950
(A década de ouro de uma geração de craques)
Paulo Mendes Campos
Rubem Braga
Antônio Maria
Vinicius de Moraes
Sérgio Porto
Marques Rebelo
Mario Filho
Rubem Braga
Carlos Drummond de Andrade
Paulo Mendes Campos
Nelson Rodrigues
Rachel de Queiroz
Stanislaw Ponte Preta
Rubem Braga
Luís Martins
Fernando Sabino
Antônio Maria

Os anos 1960
(Discursos na rua, humor nas páginas)
Stanislaw Ponte Preta
Jospe Carlos Oliveira
Antônio Maria
Elsie Lessa
Carlos Drummond de Andrade
Paulo Mendes Campos
Nelson Rodrigues
Millôr Fernandes
Clarice Lispector
José Carlos Oliveira
Clarice Lispector
Fernando Sabino

Os anos 1970
(Longe daqui, aqui mesmo)
Campos de Carvalho
Lourenço Diaféria
Caetano Veloso
Chico Buarque
Márui Quintana
João Saldanha
Ivan Lessa
José Carlos Oliveira
Fernando Sbino
João AntÔnio
Clarice Lispector
Millôr Fernandes
Ivan Lessa

Os anos 1980
(Sexo e assombrações)
Luis Fernando Verissimo
João Ubaldo Ribeiro
Aldir Blanc
Caio Fernando Abreu
Artur da Távoa
Lygia Fgundes Telles
Moacyr Scliar
Ivan Angelo
João Ubaldo Ribeiro
Caio Fernando Abreu

Os anos 1990 (A vida privad virou uma comédia)
Otto Lara Resende
Zuenir Ventura
Luis Fernando Veríssimo
Carlos Heitor Cony
Ignácio de Loyola Brandão
Roberto Drummond
Ferreira Gullar
Luis Fernando Verissimo
Mario Prata
Arthur Dapieve
Marcos Rey
Otto Lara Resende

Os anos 2000
(Próxima estação, internet)
Arnaldo Jabor
Xico Sá
Carlos Heitor Cony
Tutty Vasques
Marcelo Rubens Paiva
André Sant´Anna
Danuza Leão
Martha Medeiros
João Paulo Cuenca
Ricardo Freire
Antônio Prata

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Rubem Fonseca - A Coleira do Cão

Rubem Fonseca - A Coleira do Cão - 5.ed. - Rio de Janeiro : Agir, 2010. Conto Brasileiro.

"Fiquei de repente calado e sentindo a coisa que me dá de vez em quando, nas ocasiões em que os dias ficam compridos e isso começa de manhã quando acordo sentindo uma aporrinhação enorme e penso que depois de tomar banho passa, depois de tomar café passa, depois de fazer ginástica passa, depois do dia passar passa, mas não passa e chega a noite e estou na mesma, sem querer mulher ou cinema, e no dia seguinte também não acabou. Já fiquei uma semana assim, deixei crescer a barba e olhava as pessoas, não como se olha um automóvel, mas perguntando, quem é?, quem é?, quem-é-além-do-nome?, e as pessoas passando na minha frente, gente pra burro neste mundo quem é?"
(A Força Humana - pág. 31)


Cá estou no feriado a folhear a extraordinária narrativa de Rubem Fonseca. A Coleira do Cão é o segundo livro do autor, publicado em 1965. Questiona a prisão do homem a sua existência, vindo a imagem do cão que, mesmo liberto, carrega um pedaço da corrente. A imagem do prisioneiro de si mesmo.

Nas oito histórias do volume, "A força humana", "O gravador", "Relatório de Carlos", "A opção", "O grande e o pequeno", "Madona", "Os graus" e "A coleira do cão", conto que dá nome ao livro, Rubem Fonseca exercita, em contos longos, a capacidade de imersão completa no universo narrado. Uma das obras literárias mais ricas e complexas de nosso tempo, que pões cada leitor diante de sua própria imagem em meio à beleza e à violência do mundo.

"Havia uns trinta anos que eu não chorava;é uma coisa estranha que preciso contar em detalhes. Após algum tempo os olhos se fecham; você sente as lágrimas molhando o seu rosto e uma sensação de alívio como se você fosse um homem envenenado e uma veia se abrisse e lentamente pusesse para fora todo o sangue ruim, fazendo-o sentir-se melhor a cada gota que saísse - mais leve, mais leve, mais bom, mais puro, mais digno, mais feliz na sua automisericórdia."

Rubem Fonseca nasceu em 1925 e é autor de 25 livros, dentro os quais romances, novelas, coletâneas de contos e O romance morreu, que reúne crônicas publicadas no Portal Literal. Recebeu cinco vezes o premio Jabuti e em 2003 os prêmios Juan Rulfo e Camões.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Francine Prose - Para Ler como um Escritor

Prose, Francine, 1947 - Para ler como um escritor : um guia para quem gosta de livros e para quem quer escrevê-los / Francine Prose; tradução, Maria Luisa X. de A. Borges. - Rio de Janeiro : Jorge Zahar, 2008.

Difícil acreditar que algum ser humano não tenha se imaginado autor de um livro em um momento na vida. Afinal, escrever um livro faz parte da felicidade neste terreno planeta, bem já o disseram. Seja um relato de uma biografia, seja fantasiar um romance onde os personagens possam carregar o que se aprendeu na vida, seja um momento de inspiração transportado quem sabe a uma ficção. Como concretizar ou como saber a qualidade do que se pretende escrever é o ponto de estímulo ou desânimo aos pretensos e inúmeros autores.

"a maioria das pessoas que tenta escrever experimenta não só necessidade de coragem como desalento, à medida que as consequências reais ou imaginárias - falhas e humilhações, exposição e inadequação - dançam diante de seus olhos através da tela ou da página e inadequação - dançam diante de seus olhos através da tela ou da página vazias. O medo de escrever mal, de revelar algo que gostaríamos de manter oculto, de cair no conceito dos outros, de violar nossos próprios padrões elevados, ou de descobrir algo sobre nós mesmos que preferiríamos ignorar são apenas alguns dos fantasmas amendrontadores o suficiente para levar o escritor a se perguntar se não haveria emprego disponível como lavador de janelas de arranha-céus." (pág. 243)


Adentrar na leitura de Para ler como um escritor é em primeiro lugar uma curiosidade de se permitir responder a pergunta: é possível ensinar alguém a ser escritor? Se a resposta é uma questão de talento, disciplina ou técnica, a discussão segue acalorada, mas o que o livro proporciona por uma autora de mais de 20 anos de experiência em criação literária é antes que respeitar o conhecimento adquirido de quem relata que talento não se ensina, mas defende que é possível aprender sim - e muito - com os grandes mestres da literatura. E o que é melhor, de uma forma objetiva mas sem perder a magia de se adentrar pelos caminhos das letras livremente e atentamente, detalhadamente, demorando-se em cada palavra, como afirma Francine Prose, romancista, crítica, ensaísta e professora de literatura e criação literária há mais de 20 anos em universidades como Harvard, Columbia e Iwoa, autora de vários livros, alguns já publicados no Brasil.

O livro Para ler como um escritor sugere listas de títulos que instigam a curiosidade pela variedade e diversidade. A primeira lista relata títulos já traduzidos e editados em língua portuguesa, ou seja,
Livros para Ler Imediatamente:

(01) Akutagawa, Ryunosuke. Contos fantásticos
(02) Alcott, Louisa May. Mulherzinhas
(03) Anônimo. A canção de Rolando
(04) Austen, Jane. Orgulho e preconceito
(05) Austen, Jane. Razão e Sensibilidade
(06) Bábel, Isaac. O exército de cavalaria
(07) Baldwin, James. Vintage Baldwin
(08) Balzac, Honoré de. Prima Bette
(09) Barthelme, Donald. Sixty Stories
(10) Brodkey, Harold. Quatro histórias ao modo quase clássico
(11) Baxter, Charles. Believers: A Novella and Stories
(12) Beckett, Samuel. The Complete Short Prose, 1929-1989
(13) Bowen, Elizabeth. The House in Paris
(14) Bowles, Jane. Duas senhoras bem-comportadas
(15) Bowles, Paul. Paul Bowles: Collected Stories and Later Writings
(16) Bronte, Emily. O Morro dos Ventos Uivantes
(17) Calvino, Italo. As cosmicômicas
(18) Carver, Raymond. Where I´m Calling From: Selected Stories
(18) Carver, Raymond. Catedral
(20) Cervantes, Miguel de. Dom Quixote
(21) Chandler, John. The Stories of John Cheever
(22) Díaz, Charles. Bleak House
(23) Dickens, Charles. Dombey and Son
(24) Dostoivski, Fiodor. Crime e castigo
(25) Dybek, Stuart. I Sailed With Magellan
(26) Eisenberg, Deborah. The Stories (So Far) of Deborah Eisenberg
(27) Eliot, George. Middlemarch
(28) Elkin, Stanley. Searches and Seizures
(29) Fitzgerald, F. Scott. O grande Gatsby
(30) Fitzgerald, F. Scott. Suave é a noite
(31) Flaubert, Gustave. Madame Bovary
(32) Fox, Paula. Desesperados
(33) Franzen, Jonathan. As correções
(34) Gallant, Mavis. Paris Stories
(35) Gaddis, William. The Recognitions
(36) Gates, David. The Wonders of the Invisible World: Stories
(37) Gibbon, Edward. Declínio e queda do Império Romano
(38) Gogol, Nikolai. Almas mortas
(39) Green, Henry. Doting
(40) Green, Henry. Loving

Para compor a bagagem que todo bom escritor - ou bom leitor - precisa ter, a autora sugere ainda
Livros Brasileiros para Ler Imediatamente:

(01) Abreu, Caio Fernando. Onde andará Dulce Veiga
(02) Alencar, José de. Iracema
(03) Almeida, Manuel Antonio de. Memórias de um sargento de milícias
(04) Amado, Jorge. Tenda dos milagres
(05) Andrade, Mário de. Macunaíma
(06) Azevedo, Aluísio. O cortiço
(07) Buarque de Holanda, Sérgio. Raízes do Brasil
(08) Callado, Antonio. Reflexos do baile
(09) Cardoso, Lucio. Crônica da casa assassinada
(10) Carvalho, Bernardo. O sol se põe em São Paulo
(11) Cony, Carlos Heitor. Quase memória
(12) Cunha, Euclides da. Os Sertões
(13) Denser, Márcia. Animal dos motéis/Siana caçadora
(14) Dourado, Autran. Ópera dos mortos
(15) Drummond de Andrade, Carlos. Prosa completa
(16) Fagundes Telles, Lygia. As meninas
(17) Figueiredo, Rubens. Barco a seco
(18) Fonseca, Rubem. A coleira do cão
(19) Fonseca, Rubem. A grande arte
(20) Freyre, Gilberto. Casa-grande-senzala
(21) Guimarães Rosa, João. A hora e a vez de Augusto Matraga (in Sagarana)
(22) Guimarães Rosa, João. Grande sertão: veredas
(23) Guimarães Rosa, João. O recado do morro (in No Urubuquaquá, no Pinhém)
(24) Hatoum, Milton. Dois irmãos
(25) Hilst, Hilda. Ficções
(26) João Antônio. Malagueta, Perus e Bacanaço
(27) Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma
(28) Lins do Rego, José. Fogo morto
(29) Lins, Osman. A rainha dos cárceres da Grécia
(30) Lisboa, Adriana. Um beijo de Colombina
(31) Lispector, Clarice. A paixão segundo G.H.
(32) Lispector, Clarice. Laços de família
(33) Machado de Assis. 50 contos (org. John Gledson)
(34) Machado de Assis. Dom Casmurro
(35) Machado de Assis. Memorial de Aires
(36) Machado, Aníbal. A morte da porta-estandarte e outras histórias
(37) Marques Rebelo. A estrela sobe
(38) Nabuco, Joaquim. Minha formação
(39) Nassar, Raduan. Lavoura arcaica
(40) Nava, Pedro. Baú de ossos
(41) Noll, João Gilberto. A fúria do corpo
(42) Pena, Cornélio. A menina morta
(43) Piñon, Nélida. Fundador
(44) Pompéia, Raul. O ateneu
(45) Queiroz, Rachel de. Memorial de Maria Moura
(46) Ramos, Graciliano. Memórias do cárcere
(47) Ramos, Graciliano. São Bernardo
(48) Ribeiro, Darcy. Maíra
(49) Ribeiro, João Ubaldo. Viva o povo brasileiro
(50) Rodrigues, Nelson. Teatro completo
(51) Sabino, Fernando. O encontro marcado
(52) Sant´ Anna, Sérgio. Um crime delicado
(53) Santiago, Silviano. Histórias mal contadas
(54) Santos, Joaquim Ferreira dos (org.). As cem melhores crônicas brasileiras

"Quanto mais lemos, mais rapidamente somos capazes de executar o truque mágico de ver como as letras foram combinadas em palavras dotadas de sentido. Quanto mais lemos, mais compreendemos, mais aptos nos tornamos a descobrir novas maneiras de ler, cada uma ajustada à razão que nos levou a ler um livro particular." (pág. 17)

terça-feira, 22 de março de 2011

Mário Benedetti - O amor, as mulheres e a vida

O amor, as mulheres e a vida / Mario Benedetti : tradução Julio Luís Gehlen. - Campinas, SP : Verus, 2010.

Não resisti a prosa de Mario Benedetti (vejam postagens anteriores - Correio do tempo e Quem de nós), e aqui ainda estou a folhear um livro de poesia, na verdade, uma Antologia de Poemas de Amor.

A poesia que aqui segue muito faz lembrar um filme que assisti recentemente, Antes de Partir, em que os personagens tem como tema principal de suas vidas que se escoam através de uma doença terminal o valor de um sorriso.

Esta poesia, específica, fala do sorrir, este simples ato mas de suma importância na vida, na verdade, de extrema importância.

Sorrir não é um ato fácil pois diz respeito a um ato dos mais sinceros e despretenciosos, em que as máscaras não existem, como bem relata o autor no poema a observar sua amada neste ato a se mostrar especial e única. Como um...

ARCO ÍRIS


Às vezes
é claro
você sorri
e não importa quão linda
ou quão feia
quão velha
ou quão jovem
quão muito
ou quão pouco
você realmente
seja


sorria
como se fosse
uma revelação
e seu sorriso anula
todas as anteriores
caducam no momento
seus rostos como máscaras
seus olhos duros
frágeis
como espelhos ovais
sua boca de morder
seu queixo de capricho
suas bochechas perfumadas
suas pálpebras
seu medo


sorria
e você nasce
assume o mundo
olha
e ao olhar
indefesa
nua
transparente


e por aí
se o sorriso vem
de muito
muito dentro
você pode chorar
simplesmente
sem dilacerar-se
sem desesperar-se
sem convocar a morte
nem sentir-se vazia


chorar
só chorar
então seu sorriso
se ainda existe
se torna um arco-íris.

(Mário Benedetti - pág. 31, 32)

sábado, 19 de março de 2011

Mario Benedetti - Quem de nós

Quem de nós: uma história de amor / Mário Benedetti ; tradução Maria Alzira Brum Lemos. -
Rio de Janeiro : Record, 2007.

"Incorremos em vários erros, mas acho que o nosso grande equívoco, o mais irremediável, foi nunca falar sobre eles. A única franqueza possível, aquela que possui a maioria dos casais que diariamente se insulta, amaldiçoa e desfruta por igual de suas etapas de ódio e apaziguamento, foi isso que perdemos. Eles estão constantemente atualizando a imagem do outro, sabem reciprocamente a que se ater, mas nós estamos atrasados, você em relação a mim, eu em relação a você."

Após ler a poesia e a prosa descontraída de Mario Benedetti no livro Correio do tempo, conforme tópico anterior, difícil foi não reler o romance Quem de nós por pura saudade da prosa caudalosa de Benedetti.

Quem de nós é um romance extraordinário, retrata, ao longo de três partes, o triângulo amoroso entre os amigos Miguel, Alicia e Lucas, cujos laços afetivos remontam à infância, aos bancos escolares.

Em "Miguel", parte dedicada ao vértice mais delicado da relação, o leitor entra em contato com as anotações do marido que há poucos dias levara a esposa Alicia ao porto de Montevidéu, e cujo último aceno já era a certeza de que ela não mais voltaria; iria a Buenos Aires ao encontro de Lucas, com quem sempre partilhara os mesmos interesses. Ao longo de anos, os dois homens trocaram cartas, e sempre, ao pé da missiva, houve a furtiva intromissão da mulher: "carinhosas lembranças ao bom amigo Lucas".

Na parte dedicada a "Alicia", a narrativa ganha a forma epistolar, e a mulher explica em um longo texto ao ex-marido as razões de sua partida. É patente, nas palavras dela, sua desilusão em perceber que miguel, dono de uma enorme insegurança, acabou empurrando-a aos braços do amigo.

Por fim, a genialidade de Mario Benedetti se reafirma na última parte do livro. "Lucas" (escritor e tradutor) apresenta seu relato do triângulo sob os contornos de um conto, no qual personagens de sua ficção dialogam com os protagonistas desta primorosa novela de Benedetti, cuja genialidade lhe valeu um lugar no panteão dos maiores escritores da América Latina.

Belíssima narrativa!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Mario Benedetti - Correio do tempo


Correio do Tempo / Mario Benedetti ; tradução Rubia Prates Goldoni. - Rio de Janeiro : Objetiva, 2007.

Bela a capa do livro Correio do tempo de Mario Benedetti.  Difícil não lembrar de um amigo blogueiro que parece fascinado por imagens com tema de mulher submersa. Surpresa para a capa, pois sendo um autor como Benedetti, já se imagina o belo conteúdo que nos aguarda deste extraordinário autor. Especial já se torna o livro pelos dois motivos expostos.

Um livro de contos, com um tom engraçado permeando toda a leitura, entremeado com belas poesias, aqui apresento a denominada título do livro:

 Correio do tempo

No correio do tempo se acumulam
a paixão desolada/ o gozo trêmulo
e lá fica esperando seu destino
a paz involuntária da infância/
há um enigma no correio do tempo
uma aldrava de queixas e candores
um dossiê de angústia/ promissória
com todos os valores declarados

No correio do tempo há alegrias
que ninguém vai exigir/que ninguém nunca
retirará/ e acabarão  murchas
suspirando o sabor da intempérie
e no entanto/ do correio do tempo
sairão logo cartas voadoras
dispostas a fincar-se em algum sonho
onde aguardem os sustos do acaso

Lembro do intrigante romance 'Quem de Nós', do autor e de como fiquei impressionada com a linguagem intimista envolvendo o leitor com a trama do início ao término do trabalho. Seus temas abordam preferencialmente as mais profundas inquietações da alma humana: amor, morte, tempo, miséria, injustiça, solidão, esperança. Tudo isto com uma linguagem simples e direta deixando o leitor fã incondicional de sua narativa.

Em Correio do tempo não foi diferente: nostalgia, amor e desamor, alegria, abandono, lembranças do passado e reencontros. Mario Benedetti emprega toda a sua habilidade para compor uma coleção de breves relatos que é, ao mesmo tempo, um mosaico de sentimentos e estados da alma que só um escritor como ele é capaz de revelar.


Os contos neste livro tratam dos mais diversos tipos de encontros e despedidas: uma criança passa um fim de semana na casa do pai separado; um homem doente escreve ao amigo pela última vez; uma mulher, isolada, avalia sua relação amorosa com o cônjuge; sobreviventes de dois naufrágios diferentes se encontram acidentalmente numa ilha deserta. A maestria de Benedetti é evidente nos mínimos detalhes. E, principalmente, no humor sutil, que percorre suas histórias mesmo nos momentos mais improváveis e que se tornou uma de suas marcas registradas
Mario Benedetti nasceu em setembro de 1920, em Paso de los Toros, Uruguai. Trabalhou como vendedor, taquígrafo, contador, funcionário público e jornalista. Entre 1938 e 1945, morou em Buenos Aires. Ao retornar a Montevidéu, passou a trabalhar no semanário Marcha.

Dono de uma vasta obra, traduzida em todo o mundo. Morou, nos 12 anos de exílio, na Argentina, Peru, Cuba e Espanha.  Benedetti é considerado um dos principais autores latino-americanos da atualidade.

Na obra:  Sinais de fumaça, Fim de semana, Conciliar o sono, Jacinto, Cambalache, Sonhou que estava preso, Conversa, O dezenove, Não há sombra no espelho, Assalto na noite, Velho Tupí, Os robinsons, Mais ou menos hipócritas, Ausências, Correio do tempo, Com os golfinhos, Terapia da solidão, Bolsa de viagens curtas, A velha inocência, A morte é brincadeira, Um gosto azedo, Secretária eletrônica, Testamento hológrafo, As estações, Primavera dos outros, Nuvem de verão, Revelação de outuno, O inverno próprio, O acabou-se.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Antología Plural de la Poesía Uruguaya del Siglo XX - Washington Benavides, Rafael Courtoisie y Sylvia Lago

Antología Plural de la Poesía Uruguaya del Siglo XX


Antología Plural de la Poesía Uruguaya del Siglo XX - studio preliminar, selección y notas: Washington Benavides, Rafael Courtoisie y Sylvia Lago, segunda edición, junio de 1996, Seix Barral.


El Puente

Para cruzarlo o para no cruzado
ahí está el puente

en la otra orilla alguien me espera
con un dranzno y un país

traigo conmigo ofrendas desusadas
entre ellas un paraguas de ombligo de madera
un libro con los pánicos en blanco
y una guitarra que no sé abrazar

vengo con las mejillas del insomnio
los pañuelos del mar y de las paces
las tímidas pancartas del dolor
las liturgias del beso y de la sombra

nunca he traído tantas cosas
nunca he venido con tan poco

ahí está el puente
para cruzarlo o para no cruzarlo
yo lo voy a cruzar
sin prevenciones
en la otra orilla  alguíen me espera
con un durazno y un país

(Mario Benedetti)




Estudio Preliminar, selección y notas:

Washington Benavides nació en Tacuarembó en 1930. Poeta, crítico y ensayista, ha realizado una destacada labor docente y de difusión de la poesia en Uruguay. Entre otros libros, ha publicado: Tata Vizcacha (1961), Las milongas (1965), Poemas de la ciega (1968), Hokusai (1975), Fontefrida (1979), Murciélagos (1981), Finisterre (1986), Fotos (1986), Tía Cloniche (1990), Lección de exorcista (1991), El molino y el agua (1993) y La luna y el profesor (1994).


Rafael Courtoisie nació en Montevideo en 1958. Es narrador, poeta y ensayista. Ha publicado el libro de relatos Cadáveres exquisitos (1995) y la trilogía integrada por El Mar Interior (1990), El Mar Rojo (1991) y El Mar de la Tranquilidad (1995). En poesía ha aparecido, entre otros: Contrabando de auroras (1977), Tiro de gracia (1981), Orden de cosas (1986), Cambio de estado (1986), Textura (1992). En 1995 fue galardonado con el Premio de Poesía de la Fundación Loewe.


Sylvia Lago nació en Montevideo en 1932. Es catedrática de Literatura Uruguaya en la Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación y dirige el Departamento de Literatura Uruguaya y Latinoamericana de la misma facultad. Su obra narrativa comprende las novelas Trajano (1960), Tan solos en el verano (1962), La última razón (1970) y tres libros de relatos: Detrás del rojo (1967), Las flores conjuradas (1972) y El corazón de la noche (1985).



Autores na Antologia

María Eugenia Vaz Ferreira (Montevideo, 1874-1924): El Ataúde Flotante, Vaso Furtivo,La rima vacua, Enmudecer, Único Poema, La Estrella Misteriosa;

Julio Herrera y Reissig (Montevideo, 1875-1910): Desolación Absurda, Solo Verde-Amarillo para Flauta, Llave de U, El despertar, Claroscuro, El Caudillo, La Sombra Dolorosa, Decoración Heráldica, La Culpa, Tertulia Lunática;

Delmira Agustini (Montevideo, 1886-1914): La Sed, Lo Inefable, Ofrendando el Libro a Eros, Fiera de Amor, Otra Estirpe, Visión;

Carlos Sabat Ercasty (Montevideo, 1887-1982): En El Mar, Los Adioses, Libro de La Ensoñación, Soneto;

Fernán Silva Valdés (Montevideo, 1887-1975): El Rancho, La Flecha;

Juana de Ibarbourou (Melo, 1892 - Montevideo, 1979): La Hora, Rebelde, Vida-Garfio, Raíz Salvaje, El Estanque, Encuentro;

Esther de Cáceres (Montevideo, 1903-1971): No Pasarás por el Camino, Porque me Traían tu Sueño, Tú Harás Suave Mi Sueño, Huyes de mis Manos, Canto de las Flores, El Silencio, Las Campanas del Valle, El Ángel del Jardín;

Selva Márquez (Montevideo, 1904-1981): Alguien está Llamando, La Puerta Abierta, Una Noche Cualquiera, El Secreto, Mariposa Nocturna, Regreso, Dando Vueltas, Drama, En La Cocina Ahumada;

Líber Falco (Montevideo, 1906-1955): Una Noche en Malvín, La Moneda, Visita, Decadencia, Lo Inasible, Para Vivir, Desgracia, Pensando en Luis A. Cuesta, Apunte, He Visto a una Niña Triste...;

Sara de Ibáñez (Tacuarembó, 1909 - Montevideo, 1971): Isla en La Tierra, Pasión y Muerte de la Luz, Tiempo III, Nada, Triunfo del Guerrero, Apóstrofe IV,  Guijas, Para la Muerte, Testamento;


Juan Cunha (Sauce de Illescas, 1910 - Montevideo, 1985): Lejos la Cuidad Lejos, A Mi Espalda, Guitarreos, Ya Casi se me fue la Tarde,Repaso, Me voy le Dije al Alba, Y Aquello Solo Allá, Quiero Saber a qué Ladera;

Idea Vilariño (Mongtevideo, 1920): El Encuentro, Entre, Maldito Sea el Día, Oye, Si te Murieras Tú, Voy a Mascar Arena;

Mario Benedetti (Tacuarembó, 1920): Dactilógrafo, Después, Monstruos, Corazón Coraza, Marina, Hasta Mañana, Botella al Mar, Desaparecidos, El Puente, Los Años, Utopías, Mar de la Memoria;


Amanda Berenguer (Montevideo, 1921): La Cinta de Moebius; Del Cuerpo, El Pescador de Caña;

Gladys Castelvecchi (Rocha, 1922):  Posdata, Carteando, Físicas, Mito, Caronte, Penélope;

Ida Vitale (Montevideo, 1923): Palabras, Estilo, A La Velocidad Del Miedo, Invierno, Cuadro, Valores, Contra Engaños;

Humberto Megget (Paysandú, 1926 - Montevideo, 1951): Noticia, Raúl Javier Cabrera, Ay Ay Cómo me Duelen, Tengo Ganas de Risas Raquel, Yo Mi Sobretodo Verde, Tengo El Sueño, Va a Dormirse Una Luz, Cuando nos Recojan Los Frutos;

Jorge Medina Vidal (Montevideo, 1926): Entramos Inconscientes en la Noche, Maestro Chino, Elogio de la Melancolía;

Milton Schinca (Montevideo, 1926): Propagase el Testimonio de Cierta Sustancia, Mediten Frente a Esplendores de una Única Flor, Yo, Redactor Publicitario, Vuelve Jaime Furman, Otro Cumpleaños de Artigas, Te Caíste de la Luz...;

Washington Benavides (Tacuarembó, 1930): Diferencias, Negativo de una Canción, Cuando se Vive al Borde, El Viejo Loco Del Dibujo, No es un Tigre de Papel, Anda un Amigo, Canción de los Lentes, Foto de Trovador, La Revelación Oído en un Teléfono, Prontuario;

Saúl Ibargoyen Islas (Montevideo, 1930): Los Hombres Gordos, Retrato, Aquí Estamos, El Sueño de las Muchachas,  Calle Isla de Flores,La Siempre Enemiga, De: Epigramas..., Inscripción en la Tumba de Ibrahim, Allá en Pérouges;

Nancy Bacelo (Batlle y Ordoñez - Lavalleja, 1931): Sin Aires, En Medio de un Minuto, Cantares, Digo, Doy Vueltas y Qué Carta, La Borrachera de Esta Vida, Varios Esquemas se Cayeron, Ora pro Nobis;

Marosa Di Giorgio (Salto, 1932): Me Acuerdo de los Repollos..., Ellos Tenían Siempre la Cosecha Más Roja..., A Veces, en el Trecho de Huerta..., Los Hongos Nacen en Silencio..., Anoche, Volvió, Otra Vez... De Súbito, Estalló la Guerra, Yendo por Aquel Campo..., Había Nacido con Zapatos..., Bajó Una Mariposa..., Los Leones Rondaban la Casa;

Circe Maia (Montevideo, 1932): Yêndose, La Muerte, Es Así,El Puente, Est Mujer, Sonidos, Poemas de Caraguatá, El Medio Transparente, Espejos,Voces en el Comedor;


Suleika Ibáñez (Montevideo, 1937): La Noche del Zoo, Oficio Iluminista, Amor, Solitário, Noche de Cerveza;

Salvador Puig (Montevideo, 1939): Diálogo del Alba, Presencia del Cielo, Al Comandante Ernesto "Che" Guevara, Tango Infinito, Legenda, Si Tuviera que Apostar;

Cristina Peri Rossi (Montevideo, 1941): Silencio, Linguística General, Contemplación,  Los Hijos de Babel, Antropología, El Bautismo, La Búsqueda, Erótica, El Parto;

Enrique Fierro (Montevideo, 1942): Quiero ver una Vaca, Travestía, Para Walt Whitman, Enterrado en el Cementerio de Harleigh, Quê se le va a Hacer; 


Jorge Arbeleche (Montevideo, 1943): Y Aunque no Seamos ni Jóvenes ni Bellos, El Espacio de las Puertas, Con Martha en Florencia, Meseta, Ágape, Nilo;

Hugo Achugar (Montevideo, 1944): Midas, Marimoña, Himeneo, Veranos, Ilusiones de Pareja, Ser y Estar, A Propósito de Apolo y de las Ratas;

Elías Uriarte (Rocha, 1945): Circunvalaciones, Arriba, Hay Quien Desde Adentro Toca el Dolor, Límites que Conforman Figuras,  Donde no Todo Sea Reflejo..., Equivocamos las Distancias..., La Palabra Amor del Rey..., La Noche Cuida...;

Eduardo Milán (Rivera, 1952): Elena Damilano, Lírica (Madura), Para Regis Bonvicino, Decir Ahí Es Una Flor Difícil, La Aridez de Esos Páramos...,  Ahí va por el Camino Como un Ciego, ?De Qué Hablas?, Mirlo en Cien Versiones de Mirlo, Elena, Eliana o Luna;


Rafael Courtoisie (Montevideo, 1958): Las Jaulas de la Pacîencia, Período Verde, Objetos del Silencio, Vidrio, Aldaba, La Derrota, Certeza del que Duda, Los Robadores de Sueño, Llanto Del Héroe, La Rebelión de las Costureras;


Silvia Guerra (Maldonado, 1961): Y Yo Sola en mi Cuarto, Dependiendo Siempre de ese Impreciso Punto,  Cuando en Realidad lo Único Buscado, Maquilla la Sonrisa, Para Laura y Selene;


Jorge Castro Vega (Montevideo, 1963): Mateo V, 14, Icaro,Odisea, Cato XXV, Falso Testimonio, Construcción, Confesión de Fe, El Esperarte, Como un Navajo ante un Teleobjetivo..., Declaración Pública, Fidelidad al Modelo, The Rest is Silence, Hexagrama 49;

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