domingo, 26 de setembro de 2010

Louisa May Alcott - Mulherzinhas



Mulherzinhas, de Louisa May Alcott, tradução de Vera Maria Marques Martins. Título original: Little Women, Editora Nova Cultural Ltda, 2003 - São Paulo - SP.


- Sem presentes, o Natal não vai ser Natal - resmungou Jô, deitada no tapete.
- É horrível ser pobre! - suspirou Meg, olhando para o vestido velho que usava.
- Não acho justo que algumas meninas tenham tantas coisas bonitas, e outras não tenham nada - acrescentou a pequena Amy, fungando, revoltada.
- Nós temos mãe, pai e umas às outras - ponderou Beth em tom satisfeito, lá de seu cantinho perto da lareira.
Por alguns momentos, ninguém falou.
Os quatro rostinhos iluminados pelo fogo animaram-se por um instante.
- Não temos pai e não teremos por muito tempo - Jô lembrou, abatendo os ânimos.

Tenho dois exemplares do livro. Um adquirido em coleção de banca, a que faço referência, o outro ganhei em um concurso de contos (primeiro e único) que participei. Inicio o IV capítulo desta obra sem compreender o motivo desta demora na procura de sua leitura apesar das excelentes referências dos leitores (tanto feminino quanto masculino) familiares, o que estou por comprovar adiantando aqui esta resenha. Havia feito uma brincadeira em postagem anterior de trazer uma leitura mensal clássica. Começar por Mulherzinhas, já vejo como iniciar com chave de ouro pois a leitura é envolvente, com abordagem nos aspectos da convivência e do amor em família no contexto social envolvendo as discrepâncias da vida cotidiana em época de guerra.

A leitura foi um hábito na família de Louisa May Alcott, autora de "Mulherzinhas", não como uma obrigação, mas como um prazer, já influenciados pelo patricarca da família, Bronson Alcott, conhecido por seus revolucionários métodos de ensino, na própria escola, a Temple School, onde a interação dos alunos e a crença de que o aprendizado deve ser um prazer para as crianças.A autora, que teve esta obra por encomenda da editora Niles, de Boston, transformou o pedido de "um livro para meninas" no mais surpreendente sucesso que escreve em Orchard House, entre maio e julho de 1868. O romance, baseado nas experiências de Louisa e de suas irmãs desde a puberdade até o casamento, retrata as mudanças da sociedade da época. A escritora se inspira na vida e na personalidade da mãe e das irmãs para criar as personagens Marmee (Abigail), Meg (Anna), Beth (Elisabeth), Amy (May) e Jo (ela própria).

O grande sucesso de 'Mulherzinhas" levou a independência financeira a autora que havia dito em tempos difíceis, desgastada com a pobreza da família: "Hei de fazer alguma coisa, não importa o quê... lecionar, costurar, representar, escrever, qualquer coisa para ajudar minha família; e serei rica e famosa e feliz antes de morrer, vocês vão ver se não!" Esta parece ser a trilha de Louisa, confrontando uma sociedade que oferece poucas oportunidades de emprego às mulheres. Louisa sai à procura de trabalho, disposta a fazer qualquer coisa para ganhar dinheiro, dentro das possibilidades ao alcance de uma menina adolescente. Em 1862, com o início da Guerra Civil Americana, Louisa trabalha como enfermeira voluntária, "A Enfermeira do Frasco", assim conhecida por combater o mau cheiro que impregna as dependências do hospital, onde aquire o hábito de passar água de lavanda no corpo e nos móveis e objetos ao seu redor. Inspiração para o livro "Hospital Sketches", as cartas que escrevia para casa contando tais condições precárias de higiene e ventilação, assim como a indiferença dos profissionais diante da deplorável situação.

Em 1870 Louisa participa ativamente do movimento pela abolição da escravatura e pela aprovação do direito ao voto feminino. Em 1879 viria a ser a primeira mulher da região de Concord a se inscrever no colégio eleitoral da cidade. Publica também "Homenzinhos" além de uma série de livros para leitores jovens que tornaram-se seus fãs pela escrita inovadora, diferente da literatura da época. Seu último romance é publicado em 1886: "Jo´s Boys", entretanto, a saúde precária por ter adquirido febre tifóide como enfermeira durante a guerra, falece em 1888, dois dias após a morte do pai.

3 comentários:

  1. E isto acaba nos lembrando que quando trabalhamos, nenhum sonho foge de seua realização...

    As vezes demoramos a ler um livro, mas depois vira amor a primeira leitura.

    Fique com Deus, senhorita Lígia Guedes.
    Um abraço.

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  2. Execlente resenha! (só precisa corrigir a data 1970 - viu como estou atento?)

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  3. Também, como o Barros, me assustei com o 1980. Você tem leitores conquistados, então, porque atentamos bem para sua resenha.
    O blog, de fato, conquista. São vastas as informações, são bem compartilhadas.
    Idéias tão bem preparadas merecem esta contribuição da leitura e, ainda, votos para o estimado prêmio.
    Um abraço e boa sorte.

    O Elefante de Costas.

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