sábado, 2 de fevereiro de 2019

Arte Pública


  • Tamboretes de festa de largo. Stools used in open-air festivals - Salvador, Bahia - 1998
  • TAMBORETES de Festas de Largo da Bahia. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019. Disponível em: . Acesso em: 02 de Fev. 2019. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

No fluir do processo que vai concentrando, no século XX, 70% da população brasileira nas cidades grandes, várias manifestações de arte pública ocorrem com frequência crescente em âmbito urbano. Transculturam-se conhecimentos e experiências de coletividades rurais e novas informações e vivências urbanas, com uma riqueza e variedades imensa e também grande celeridade no seu aparecimento e desaparecimento.




Algumas demoram-se mais no tempo porque os indivíduos que as geram têm um projeto pessoal de registro dessa mudança drástica e conseguem até espaços mais permanentes, públicos, onde realizam a sua bricolagem histórica e biográfica. Tal é o caso de Antônio de Oliveira, de Manuel Josete Molina, de Raimundo Machado, que viveram praticamente durante todo o século XX, migraram do interior para grandes centros e refletiram em seu trabalho a chegada da imagem em movimento do cinema. As técnicas tradicionais de trabalhar a madeira associam-se, em suas vastas composições, a uma verdadeira máquina gestual dos grupos humanos ali representados, movida por eletricidade. E conciliam forma e significado do seu legado cultural com a nova tecnologia suscitada pelo modelo da civilização industrial.

Passando destas obras de grande porte para a duração efêmera do mobiliário dos bares populares em Salvador, mostramos aqui a modernidade da verdadeira geometria sensível de banquinhos agrupados durante o dia, de arrumação permutável, apanhada por Adenor Gondim em dezenas de composições diferentes, que variam de dia para dia.

Efêmera pela própria natureza é também a escultura em areia feita na orla da Zona Sul do Rio de Janeiro, assinada por artistas como Isaac Soledade Couto (Nova Iguaçu, RJ, 1972) e Giovanni A. da Silva (Bom Jesus, RS, 1961), que pode ser religiosa, arquitetônica, erótica, animalista.


Nego [Geraldo Simplício]
1943, Aurora/CE


Também não privatizável, e possibilitando a sobrevivência do artista através da visitação do público com o pagamento de uma entrada de cinco reais, está a obra monumental do Jardim do Nego, no Campo do Coelho, distrito de Nova Friburgo, Rio de Janeiro. Nego é o nome artístico de Geraldo Simplício (Aurora/CE, 1943), que se iniciou na escultura em sua terra como santeiro e fazedor de ex-votos, migrante para o Rio de Janeiro desde os anos 60. Antes escultor em madeira, ao transferir-se, em 1969, para o Rio de Janeiro, Nova Friburgo, Nego passa a esculpir na terra grandes figuras que, cobertas de plástico, vão se cobrindo de musgo, interagindo com a natureza. Entre os seus temas: A família nordestina em busca de água, auto-retratos, numa clara construção de biografia. Em O presépio interativo, de quase 6m de altura, uma manjedoura vazia espera o visitante que desejat deitar-se nela, cercado pelas imagens de Nossa Senhora, São José, os Reis Magos, uma parteira, o boi e o burro de Belém. Roberto Conduru (1998) considera o seu trabalho pertencente "ao campo ampliado da escultura contemporânea, condição em que as obras tridimensionais se situam entre os domínios tradicionais da escultura, da arquitetura e do paisagismo".


Nego
Jardim do Nego Nego´s Garden
Menino Boy
Nova Friburgo, Rio de Janeiro, 1980





Pintores de encomenda em espaço público

É ainda na pintura mural de bares e padarias do Rio de Janeiro que encontraremos, já com  mais permanência  presença autoral, a pintura de Nilton Bravo (1937, RJ). Profissional desde os 15 anos de idade, cobrando por metro quadrado de pintura realizada, após ter realizado painéis em cerca de  1.500 estabelecimentos, Nilton comenta que, já nos anos 80, escasseia o tipo de encomenda à que atendeu durante décadas. A preferência foi para os azulejos decorados. Também as encomendas para murais de residências diminuíram, prevalecendo a escolha do mármore, do aço escovado e do vidro fumê pela clientela. Nilton pertence a uma família de profissionais da pintura de encomenda: o avô, Manuel, foi pintor de parede na Itália. Voltando ao Brasil, pintou igrejas e casas particulares, passando o ofício ao filho, Lino. Nilton e seu pai, Bravo Filho, ficaram sócios, e por muitos anos pintaram a quatro mãos, começando das extremidades do espaço a ser decorado e encontrando-se no centro dele. Com a morte do pai, em 1966, Nilton assume sozinho o negócio, que lhe possibilitou viver com conforto de classe média por toda a vida. A paleta e a pincelada dos Bravos, pai e filho, eram as mesmas, e a técnica, a do afresco. A assinatura com o telefone, no canto inferior da obra, a pista certa para o recebimento de novas encomendas. A clientela, na sua maioria portuguesa, pedindo paisagens da terra natal ou deixando a seu critério a escolha do tema. Nilton em geral escolhia para os bares uma paisagem bucólica, tropical, com casinhas inseridas em vegetação exuberante, à beira-rio, ou de lago, com garças, araras, passarinhos, árvores em flor. E trigais com moinhos para as padarias. Fez alegorias para o carnaval, cenários para cinema, teatro e televisão. Gosta de arte acadêmica e, para si mesmo, pinta sobre tela temas afetos a ela: naturezas mortas, retratos, paisagens feitas ao ar livre. A idéia de parceria foi retomada nos anos 80, agora no circuito erudito de arte, pelo artista conceitual Luiz Alphonsus, que o convidou para trabalhar a quatro mãos. Juntos, realizaram, em 1988, a exposição Rio de Norte a Sul, na Galeria Ipanema, no Rio de Janeiro, em telas onde os grandes frisos de Nilton convivem, num mesmo trabalho, com as imagens de interiores de bares que Luís desenvolve. Os dois artistas apresentaram também nessa mostra trabalhos individuais.

Em 1988 Luiz diz em entrevista a Wilson Coutinho que se trata ali da "fusão de duas culturas, uma espécie de samba-rock, o encontro da Zona Norte com a Zona Sul". O trabalho público de Nilton interessa artistas como Roberto Magalhães e Rubens Gerchman. A partir dessa data sua obra integrará coleções particulares de arte contemporânea, mas sua identificação continua a ser com os artistas acadêmicos. Com o encanto em desaparição dos antigos botequins, demolidos ou redecorados com azulejos, a municipalidade do Rio, ainda na década de 80, tombou os painéis remanescentes de sua autoria. Para o crítico Frederico Morais, "Nilton é um fenômeno interessante da arte de encomenda e de um imaginário conservador, rural, tranquilo, que acredita no Brasil grande e na força da agricultura." Já os artistas contemporâneos apontam para o seu clima romântico, para o descanso que suas paisagens edênicas oferecem à vida crispada das cidades.

Em nível bem mais modesto, mas também de grande alcance, vemos que a encomenda a profissionais da pintura é pratica vigente tanto nos subúrbios como nas favelas cariocas. No Morro de Santa Marta, no Rio de Janeiro, trabalhou ativamente no final dos anos 70 e 80 o artista César Siry (César Francisco, 1958), nascido, criado com seus oito irmãos e casado ali, tornando-se por sua vez pai de família, morando no Beco dos Crioulos. Desde menino, na escola, olhava os pintores de rua decorarem espaços com letreiros, figuras, painéis. Também copiava traços de revistas em quadrinhos como Mickey, Pato Donald, Zorro e Super-Homem (entrevista a Ricardo Gomes Lima, 1981). Começou bem cedo nesse ofício, ficou conhecido e pintou com esmalte sintético e tinta a óleo imagens nas paredes de igreja católica, de centro espírita, de biroscas, de salas de aula, de salão de beleza, de quadra de ensaio de samba no morro. Ligado ao samba, além de compositor, pintou com os materiais de sempre as paredes da quadra da Unidos de São Clemente e fez alegorias e figurinos para o bloco Império de Botafogo no Carnaval. Reconhecido como profissional da pintura pela comunidade do Santa Marta, César foi sendo chamado para trabalhos em diversos lugares da cidade, como Cantagalo, Rocinha, Chapéu Mangueira e outros. Com a reestruturação do bloco de empolgação Furiosa, no Grêmio Recreativo Bloco Carnavalesco Império de Botafogo, foi considerado pela Federação das Favelas do Rio de Janeiro, em 1976, o melhor figurinista do ano. Expôs seus cartões de figurinos na Sala do Artista Popular do Instituto Nacional do Folclore em 1984.

Também pinta telas com cenas e personagens do Morro e vive do trabalho de desenhista publicitário. Hoje reside em outra localidade.

A exemplo das pinturas de César Siry, vemos também nas paredes da quadra do renomado bloco de embalo Bafo da Onça, também no Rio, as pinturas do Aciolly, assinadas, e, em bairros da Zona Norte, como Acari, a mesma presença do pintor comunitário (muitas vezes desconhecido por não aderir à prática de deixar a assinatura com telefone) pintando mercados, açougues, padarias, papelarias, com imagens de São Jorge e D. Pedro II, naturezas-mortas com pães. Também em São Paulo, migrantes com a mão bem espontânea e pintores de formação acadêmica têm retratado a cidade em lanchonetes e bares.

Acreditamos que em todo o Brasil essa prática se dá, em maior ou menor escala, como testemunha a atividade de Maurício, em Belém do Pará, nos anos 80, que alia à propaganda solicitada pelos clientes bonitos murais, como o do morador da cidade lendo na rede o seu exemplar de A Província do Pará.

Em Belo Horizonte, artistas como o mineiro Norberto Thibau, também profissional de faixas e letreiros de encomenda, têm o propósito de "levar a arte às massas", circulando com mostras itinerantes da sua escultura em madeira por espaços públicos da cidade. Ele chega a reunir conjuntos de mais de 20 de suas esculturas pintadas e variando de 60 cm a 1,5m de altura. São figuras populares como lavadeiras, violeiros, homens do campo que ele encontra "em minhas andanças por aí". "Essas mesmas", continua , "que precisam conhecer a arte, e muitos não têm acesso às galerias." Norberto iniciou-se na escultura com o barro, aos 13 anos de idade, preferindo mais tarde a madeira. "Tenho sustento nas faixas e prazer nas esculturas", declara.

Em Areias (SP), Raimundo Ribeiro (1938, Belo Horizonte), ativo em Taubaté e Areias, tem realizado por encomenda esculturas monumentais, de Monteiro Lobato e seus personagens em praças públicas, bem como de peões boiadeiros (Barretos, SP) e outros temas para fazendas, sítios, prefeituras do interior.

Não deixa também de ser arte pública - arte em trânsito - a pintura dos lameiros de caminhão do mestre Bebiano, da Paraíba - que seriam objeto de admiração de Raimundo Colares -, bem como os minuciosos frisos pintados à mão por artista ambulantes especializados nas laterais das carrocerias dos caminhões, a um tempo geométricos e semióticos, obedecendo a padrões fixos em todo o país. Mais frequentemente, os pintores ambulantes da pára-lamas pintam nos lameiros paisagens bucólicas com casinhas e coqueiros, como a aspiração de um lar idealizado que os motoristas têm tão pouco tempo para frequentar. Por outro lado, essas imagens românticas vêm associadas a frases em geral humorísticas, algumas até satíricas, ou que traduzem uma filosofia de vida e que já foram objeto de livro e inúmeros artigos na imprensa. "Quem vive do passado é museu", "Feliz foi Adão, que não teve sogra nem caminhão", "Turista forçado", "Montado na morte, em busca da sorte", "Pobre quando come frango um dos dois está doente", "Pobre só vai na frente quando a polícia vem atrás", "Moro na estrada e passeio em casa" é uma mínima amostragem dessa literatura em pílulas pragmáticas.

Como último mas não menos importante item deste verbete, há ainda os grafites artísticos urbanos, feitos com spray, que têm a rua como o lugar por excelência de seu acontecer.

Desenhos e pinturas representando caricaturas, personagens de história em quadrinhos, charges políticas, elementos abstratos ou realistas, começam a ser frequentes nas grandes cidades no século XX, quando no final dos anos 60 jovens do Bronx, Nova York, deram início a essa prática artística, que surgiu como cultura da periferia paralela ao hip-hop e ao break. O propósito dessa arte de rua: amenizar a brutalidade do entorno urbano e dar acesso a manifestações artísticas fora dos espaços acadêmicos e dos museus. Nos anos 80 a arte de rua apareceu com força na Europa - Amsterdã, Londres, Paris, Berlim -, praticada por moradores de edifícios e fábricas abandonados. Os grafiteiros conviviam aí com grupos de artistas, músicos, mímicos. Alguns grafiteiros ganharam notoriedade no grande circuito das artes, como Jean-Michel Basquiat, Keith Haring, Kenny Scharf. A Bienal de São Paulo, de 1983, mostrou o trabalho de alguns desses artistas, o que acarretou, na próxima, a valorização dos grafites de Alex Vallauri, Matuch e Zaidler. O norte-americano John Howard, com 17 anos de Brasil, em 1987 foi partidário do grafite como coisa anônima, coletiva. Julio Barreto, também em São Paulo, usa uma técnica de "máscara" - recorte em cartolina - para realizar seu trabalho detalhista.

Damos aqui imagens de grafites realizados com o idêntico propósito de aliviar a aridez do entorno urbano por grupos do Rio de Janeiro, como o liderado em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, por Orlando Rafael, que fez parte da geração de artistas que se reunia no Parque Laje nos anos 80. Muros e tapumes eram frequentemente grafitados pelo grupo para figurar questões sociais num período em que o país se redemocratizava. No caso de Vila Valverde, em Nova Iguaçu, em 1997, Orlando e a educadora Cristina Mendonça atuaram no sentido de recriar, juntamente com os pichadores anteriores, muros de residencias e de logradouros públicos. Além de constituir uma educação artística para a comunidade com a incorporação das pichações aos novos grafites, essa ação contribuiu para minimizar a geração de violência entre os moradores. No Rio de Janeiro, na década de 90, surgiu uma nova e importante manifestação de grafites, concomitante a um ainda maior recrudescimento da violência.

Os nomes de Marcelo Eco e Fábio Ema se destacam nessa geração, realizando uma ação artística que se propões a amenizar a degradação do entorno urbano das periferias, e, ao mesmo tempo, nos bairros elegantes da Zona Sul, protestar contra a injustiça social. Ema coordena hoje uma ONG em São Gonçalo, onde dá aulas de arte para jovens.


Memória e presente esculpidos em movimento.

Entre os artistas que expuseram o seu trabalho em espaço público no meio urbano destacam-se os mineiros Antônio de Oliveira e Raimundo Machado, bem como o paulista Manoel Josete Molina. Alcançando idade avançada, com 80, 90 anos de vida, nascidos na primeira década do século, eram originários de áreas rurais, de cultura caipira, e as suas obras são duplamente inovadoras. Primeiro, pela tecnologia com roldanas, que inventaram para movimentar eletricamente seu trabalho. Segundo, pela recuperação pessoal da história, através de cenas em que figuras por eles esculpidas e pintadas retratam o universo pré-industrial de sua infância e formação, somadas a cenários que reproduzem o mundo fabril, além de situações de festa e de sociabilidade no campo e na cidade. Na realidade, o que os três fazem, ao reconstituir fatos que viveram e testemunharam, é narrar uma história a um tempo mítica e pessoal do Brasil, "escrita" com figuras artesanais em movimento. Depois deles, com outros propósitos narrativos, há no Rio de Janeiro o trabalho de Adalton Fernandes Lopes (1938).


Adalton Fernandes Lopes
1938, Niterói/RJ

Diferentemente de seus predecessores, Antônio de Oliveira, Molina e Raimundo Machado, Adalton, no mínimo uma geração abaixo da deles, prefere o registro do que lhe é contemporâneo. Modela seus personagens em barro, pinta-os e movimenta-os também com eletricidade, através de engenhoso sistema de sua invenção. O arco de seus conjuntos de figuras cobre o sagrado (Vida de Cristo) e o profano (cenas eróticas), e pode abranger em certos casos até 450 personagens, como em Carnaval, que mostra o desfile de uma escola de samba. Como Antônio de Oliveira, mas diferentemente de Molina e Machado, Adalton faz diversas incursões pelo terreno do humor e da irreverência. Na coleção Jacques van de Beuque, hoje museu da Casa do Pontal, vemos dele ainda um Circo. A antropóloga Angela Mascelani escreveu sobre o conjunto do seu trabalho (1999): "Ainda que o autor mantenha os detalhes que caracterizam a vivência de cada diferente situação (vida de Cristo, carnaval, circo, erotismo, trabalho etc.) a semelhança fisionômica dos personagens sugere tratar-se dos mesmo indivíduos no desempenho de vários papéis sociais da vida cotidiana. Através de seus bonecos, Adalton criou uma visão especial da vida urbana, privilegiando os momento de lazer, encontro (jogos, festas, danças) e as atividades que têm a rua como espaço principal, consagrando-se como artista inventivo e sensível". Ver: Antônio de Oliveira, Arquitetura, Carnaval, Festas, Futebol, Manoel Josete Molina, Profeta Gentileza, Raimundo Machado Azeredo, Religião, Representações dramáticas, Véio



Totó Playing table soccer
23 cm - Déc. 90  1990s
Rio de Janeiro  CP
Acervo do Museu Casa do Pontal, Rio de Janeiro, RJ.



Public Art

With the flow of the 20th century process which was concentrating 70% of the Brazilian population in the cities, a number of expressions of public art occurred ever more frequently in an urban environment. There was a cross-cultural process of rural collective kwowledge and experiences with new information and urban wxperiences of enormous wealth and variety, which would come and go at a very fast rate. SOme took longer had a personal project of recording this drastic change, and even gained more permanent public spaces, where they expressed their historical and biographical bricolage. This is the case with Antônio de Oliveira, Manuel Josete Molina and Raimundo Machado, who lived practically the full 20th century, migrated from the countryside to large urban centers and whose work reflected the arrival of the cinema´s moving image. The traditional techniques of working with wood are associatec, in their vast compositions, with a genuine administrative machinery of the electrically run human groups represented there. And they reconcile shape and the meaning of their cultural legacy with the new technology originating from the model of industrial civilization.

Moving on from these large-scale works to the ephemeral duration of popular bar furniture in the city of Salvador, Bahia State, we show here the modernity of the authentic sensitive geometry of basrstools piled up during the day, in permutable order, captured by Adenor Gondin in dozens of different compositons, varying from day to day.

The sand sculptures on Rio de Janeiro´s beaches in the South Zone are also ephemeral by nature, signed by the artist Isasc Soledade Couto (Nova Iguaçu, State of Rio de Janeiro, 1972) anda Giovanni A. da Silva (Bom Jesus city, Rio Grande do Sul State, 1961), among others, and may be religious, architectural, erotic or animalist.

Nego [Geraldo Simplício]
1943, Aurora/CE

Another monumental work that cannot be privatized is Nego´s Garden, in Campo do Coelho, in the district of Nova Friburgo, state of Rio de Janeiro. Nego is the artistic name of Geraldo Simplício (Aurora, Ceará State, 1943), who began as a sculptor in his native land as a maker of saints and ex-votos, and moved to Rio de Janeiro in the 1960s. His early sculptures were in wood, but when he moved to Nova Friburgo, in 1969, Nego began sculpting large figures on the ground that was covered in plastic to gather moss, interacting with nature. Some of his themes are: The Northeastern family in search of water, self-portraits, in a clear biographical composition. In The interactive Nativity, almost 6m high, an empty manger awaits the visitor who might want to lie in it, surrounded by the images of the Virgin Mary, St. Joseph, the three wise men, a midwife, the ox and ass of Bethlehem. Roberto Conduru believes that this work belongs to "the extended field of contemporary sculpture, a status in which three-dimensional works are between the traditional domains of the sculpture, architecture and ladscape art."

Customized painters in public areas

It is also in murals painted in bars and bakeries in the city of Rio de Janeiro by Nilton Bravo (1937, Rio de Janeiro) thar we find a more permanet presence of the author´s signature. Nilton has been working since he was 15 years old, covering each square meter with paintings, and after having painted panels in around 1,500 establishments, he comments that, sinc the 1980s, there has been little demand for the work that he has done for decades. Decorated tiles are in vogue. Orders for homes´murals have also diminished, while customers perfer marble, brushed steel and smoked glass. Nilton belongs to a family of professional customized painters: his grandfather Manuel painted murals in Italy. On his return to Brazil he painted churches and private homes, passinf the trade on to his son, Lino. Nilton and his father, Bravo Filho, wwete partners and for many years painted together, beginning at each end of the area to be decorated and meeting in the middle. When his father died in 1966, Nilton took over the business on his own, which gave him conditions to live in middle-class comfort for the rest of his life. The palette and brushtroke of Bravo´s father and son were the same and the technique was in fresco. Their signature with the phone number in the bottom corner of the work was the right road to new order. Most of the customers were Portuguese, asking for ladscapes from their homeland, or leaving the choice of theme to the artist´s discretion. Nilton generally chose a tropical coutry landscape for bars, with small houses amidst the exuberant vegetation, on the bank of a river or lake, with herons, macaws, birds, and flowering trees. And wheat fields with windmills for the bakeries. He made floats for Carnival, sets for the cinema, theatre and television. He likes academic art and at his own leisure he paints themes relating to it: still lifes, portraits, landscapes painted in the open air. He again took up the idea of a partnership in the 1980s, now in the "high" art circuit, with conceptual artist Luiz Alphonsus, who invited him to work with him. Together in 1988 they held the exhibition Rio de Norte a Sul, in the Ipanema Gallery, in the city of Rio de Janeiro, on canvases where Nilton´s large friezes coexisted in the same work with the images of bar interiors developed by Luiz. Both artists also displayed individual works in that exhibition. In 1988, Luiz said in a interview to Wilson Coutinho that there was a "merger of two cultures, a kind of samba-rock, the meeting of the North and South Zones". Nilton´s public work is of interest to artists such as Roberto Magalhães and Rubens Gerchman. After that dat his work was included in private contemporary art collections, but the continues to identify with academic artists. With the disappearing charm of the old corner bars, demolished, or redecorated with tiles, in the 1980s the city of Rio protected the remaining panels painted by him as monuments. Critic Frederico Morais said: "Nilton is an interesting phenomenon of customized art and of a calm, rural, conservative imagination that believes in a great Brazil and the force of farming". Contemporary artists, on the other hand, mention his romantic mood, the peace in his Eden-like landscapes in a crowded urban life.

At a much more modest but widespread level, we see that professional customized painters practice a trade prevailing both in the suburbs and slums of Rio. Artist Cesar Siry 9Cesar Francisco, 1958) worked actively in the late 1970s and 1980s on Santa Marta Hill in Rio de Janeiro, where he was born and bred with his eight siblings, married there and in turn became a father, living in the Crioulos Alley. Since he was a schoolboy, he would watch street painters decorating spaces with signs, figures, and panels. he would also trace from comic magazines, for example, Mickey Mouse, Donald Duck, Zorro and Superman (Interview to Ricardo Gomes Lima, 1981). He began this trade very early in life, became known and used synthetic lacquer and oil paint to paint pictures on the walls of Catholic churches, spiritualist centers, bars, classrooms, beauty salons, and the samba rehearsal center in the slum. He was involved in samba, and besides being a composer, used his usual materials to paint the walls of the Unidos de São Clemente samba school center and to make floats and costumes for the carnival group Império do Botafogo. Renowned as a professional painter by the Santa Marta community, Cesat was invited to work elsewhere in the city, in other slums such as Cantagalo, Rocinha, and Chapéu Mangueira. in 1976 he was considered by the Rio de Janeiro Slum Federation the best designer of the year when he restructured the Furiosa Troupe Club. He exhibited his costume sketches in the Popular Artist Room of the National Folklore Institute in 1984. He also painted canvases with scenes and characters from the slum, and worked as an advertising draftsman. Today he lives elsewhere.

Signed paintings by Aciolly, like those by Cesar Siry, are also found on the walls of the center of the famous Bafo da Onça carnival association in Rio. In the North Zone, in neighborhoods such as Acari, the community painter is present (very often anonymous, without his name and phone number), painting markets, butcher shops, bakeries, and stationers with pictures of St. George and D. Pedro II, and still lifes with bread. in São Paulo, migrants, self-taught artists with spontaneous design, and painters with an academic background have painted several panoramas of the city on the walls of snackbars and local bars.

We believe that this work is done all over Brazil to a greater or lesser degree, as witnesses Mauricio´s work in Belém, capital of the State of Pará, during the 1980s, which combines customized advertising, with attractive walls showing, for example, the city dweller in his hammock reading his copy of the A Província do Pará newspaper.

In the city of Belo Horizonte, the idea of artistis such as Minas Gerais-born Norberto Thibau, also in the trade of personalized banners and name signs, is to "take art to the masses", circulating with traveling saples of his paper sculptures in the city´s streets. He has a collection of more than 20 of his painted sculptures, varying in height from 60 cm to 1.5 meter. They are commonplace figures, such as washerwomen, violists, and a rural dweller that he meets "on my wanderings around". "These people" he continues, "need to learn abaut art and many don´t have access to art galleries." Norberto began sculpting in clay when he was 13 years old, later preferring wood. "I earn my living from the banners and pleasure from the sculptures", he says.

Raimundo Ribeiro (Belo Horizonte. 1938), working in Taubaté and Areias (São Paulo), made customized monumental sculptures of writer Monteiro Lobato and his characters for public squares, as well as cowhands (Barretos, São Paulo) and other themes for farms, ranches and rural town halls.

The painted running boards of trucks by master Bebiano in the state of Paraíba are also a public art - art in transit - admired by Raimundo Colares - as are the tiny friezes hand painted by traveling artists skilled in painting the sides of truck chassis, both geometrical and semiotic alike, adopting set patterns all over the country. More often, traveling mudguard painters illustrate the sides with country scenes, little houses and coconut palms, dreaming of an idealized home where the drivers sspend little time. On the other handd, these romantic pictures are associated with generally humorous, some even satirical phrases, or those conveying a philosophy of life, and were the subject of a book and numerous articles in the press. "Who lives in the past is the museum". "Adam had luck, neither mother-in-law nor truck", "Forced tourist", "Traveling with death, searching for wealth", "When a poor man eats chicken one of them is ill", "A por man is only ahead when the police are after him", "Life on the roads and leisure at home" are a tiny sample of this literature in pragmatic doses.

Last but not least, in this entry is the urban graphite art from spray cans whose place par excellence is the street. Drawings and paintings representing caricatures, comic strip characters, political cartoons, or abstract or realistic elements now appear frequently in the large cities in the 20th century, when in the late 1960s young people from the Bronx, New York, began to adopt this art, beginning as a fringe culture in the 1960s, parallel to hip-hop and break dance. The purpose os this street art is to mitigate the brutality of the urban environment, and provide access to art expressions outside academies or museums. In the 1980s, street art was a craze in Europe - Amsterdam, London, Paris, Berlin -, Painted by squatters, living in abandoned buildings and factories. Graphite artists lived there with groups of artists, musicians, and mimics. Some graphite artists became famous in the large arts circuit, namely Jean-Michel Basquiat, Keith Haring and Kenny Scharf. The 1983 São Paulo Biennial showed the word of some of these artists, which led to valorization at the next Biennial of graffitti by Alex Vallauri, Matuck and Zaidler. in 1987, North American John Howard, living 17 years in Brazil, considered graffiti as swomething anonymous, collective. Julio Barreto, also in São Paulo, uses a "mask" technique = cardboard cutout - to do his detailed work. We show here some pictures of graffiti with the same idea to brighten up the grayness of the urban environment by groups from Rio de Janeiro, such as the one commanded in Nova Iguaçu, in Rio de Janeiro, by Orlando Rafael, who belonged to the generation of artists who met in Parque Laje, a well-known school of art in the city of Rio de Janeiro, in the 1980s. Walls and flashboards were often "graffited" by the group, to pinpoint social issues at a time when the country was reviving its democrcy. In the case of Vila Valverde, in Nova Iguaçu, in 1997, in 1997, Orlando and educator Cristina Mendonça worked toward recycling walls of homes and public places jointly with the earlier "scribblers". This work was not only art educarion for the community by including the scribbles in the new graffiti, but also contributed to minimizing the growing violence among the inhabitants. In the city of Rio de Janeiro, in the 1990s, a new and important graffiti wave arose, concomitant to the increase of violence. Names such as Marcelo Eco and Fábio Ema highlight from this generation, as they propose an artistic action to soften the degradation of the urban surroundings peripheries and, at the same time, protest against the social injustice in the elegant South Zone neigh-borhoods. Ema coordinates today a Non-Government Organization in São Gonçalo, Rio de Janeiro, where he teaches his art to the young.


Memory and the present, carved in motion

Three of the artists worth mentioning who exhibited their work in public areas in the cities are Antônio de Oliveira and Raimundo Machado, both from the state of Minas Gerais, and Manoel Josete Molina from São Paulo. They were of an advanced age, 80 or 90 years old, born in the early 20th century, and came from the country-side, wth country culture, which made their work doubly innovative. First, because of the technology with pulleys that they invented to eletrically move their work. Next, due to the personal revival of history, which they did in the scenes where figures carved and painted by them portray the pre-industrial world of their chiildhood and education, plus scenarios that reproduce the industrial world, festivals and sociability in town and country. In fact, qhat the three did is to recreate events that they lived and witnessed, telling a story in a mythical and personal time in Brazil, "written", with handmade figures in motion. After them, for other narrative proposities, there is in Rio de Janeiro the work of Adalton Fernandes Lopes (1938).


Adalton Fernandes Lopes
1938, Niterói, State of Rio de Janeiro

Untike his predecessors Antônio de Oliveira, Molina and Raimundo Machado, Adalton, at least a generation youmger, preferred to register what is contemporary to him. He molds his characters in clay, paints them and moves them by electricity, using a clever system of his own invention. His sets of figures range from the sacred (Life of Christ) to the profane (erotic scenes) and may include, in certain cases, up to 450 characters, such as Carnival, illustrating a samba school parade. Like Antônio de Oliveira, but opposed to Molina and Machado, Adalton makes several incursions into the land of humor and irreverence. In the Jacques van de Beuque collection, today the Casa do Pontal museum, we can also see his Circus. Anthropologist Angela Mascelani wrote about his overall work (1999): "Although the author maintains the details that characterize the experience of each different situation (life os Christ, Carnival, circus, eroticism, work etc.), the similar physiognomy of the characters suggests that they are the same individuals playing various social roles in everyday life. Through his dolls, Adalton created a special view of urban life, focusing also the moments of recreation, meeting (games, festivals, dances) and mainly street activities, revealing the inventiveness and sensitivity of the artist". See: Antônio de Oliveira, Arquitetura, Carnaval, Festas, Futebol, Manoel Josete Molina, Profeta Gentileza, Raimundo Machado Azeredo, Religião, Representações dramáticas, Véio


Fonte: Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro - Século XX - Lélia Coelho Frota, págs. 64-79.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails