domingo, 16 de outubro de 2011

Jorge Amado - Mar morto

Mar Morto - Jorge Amado

"Agora eu quero contar as histórias da beira do cais da Bahia. Os velhos marinheiros que remendam velas, os mestres de saveiros, os pretos tatuados, os malandros sabem essas histórias e essas canções. Eu as ouvi nas noites de lua no cais do mercado, nas feiras, nos pequenos portos do Recôncavo, junto aos enormes navios suecos nas pontes de Ilhéus. O povo de Iemanjá tem muito que contar.
Vinde ouvir essas histórias e essas canções. Vinde ouvir a história de Guma e de Lívia que é a história da vida e do amor no mar. E se ela não vos parecer bela, a culpa não é dos homens rudes que a narram. É que a ouvistes da boca de um homem da terra, e, dificilmente, um homem da terra entende o coração dos marinheiros. Mesmo quando esse homem ama essas histórias e essas canções e vai às festas de dona Janaína, mesmo assim ele não conhece todos os segredos do mar. Pois o mar é mistério que nem os velhos marinheiros entendem."
(Posfácio de Ana Maria Machado)

Reler Mar Morto, de Jorge Amado, é antes que reler um dos livros mais populares, escrito por encomenda do editor José Olympio, que tentava ajudar financeiramente o escritor baiano, recém-libertado da prisão no Rio de Janeiro, onde ficara detido por motivos políticos. É antes que reler as histórias da beira do cais da Bahia. O mar não é um mero cenário ou pano de fundo, mas protagonista dos grandes e pequenos dramas de pescadores, marinheiros, malandros, macumbeiros e prostitutas.

Ora doce e sereno, ora transbordante pela fúria, o mar da Bahia conduz a vida de Guma, jovem e destemido mestre de saveiro, dividido ente o amor de Lívia, que o faz desejar a estabilidade de um lar na parte alta da cidade, e o chamado de Iemanjá, que o atrai para as ondas e um dia o levará para as míticas terras de Aiocá, como levou seu pai.

O mar - um mundo de homens que saem para enfrentar o oceano - em suas batalhas pela sobrevivência - e das mulheres que o esperam, muitos deles repetindo o destino de pais e avós.


Praia Imbetiba - Macaé - RJ
Esta vista da praia de imbetiba, na cidade de Macaé, RJ, permeou minha infância (existiam dois trampolins nesta pedra à direita onde aprendi a pular e nadar no primeiro deles) e adolescência onde jovens passeavam bronzeadoas no fim de semana em frente a barracas de cachorro-quente em conversas animadas ou tomavam refrigerante e dançavam no extinto bar de madeira mocambo, ou simplesmente passeavam na brisa fresca em frente ao mar, em frente ao hotel panorama, que por vezes tinham grana para tomar um drink em ocasiões especiais.

Hoje esta mesma praia está verticalizada de hotéis muitas vezes vazios de clientes executivos mas cheios da presença da indústria nesta maravilhosa cidade eterna Princesinha do Atlântico mesmo que a queiram entitular a Rainha do Ouro Negro, a capital mundial do petróleo.

Foi olhando para esta paisagem no retorno do trabalho na última sexta-feira que não resisti em registrar a cena deste lindo céu lilás que sempre revigora nossos sonhos de saber que em oposição a tanto aço, a tanta necessidade da indústria se fazer presente para o crescimento deste país, a natureza estará lá falando mais forte. Neste pensamento, retorno ao tempo em que meu pai aos 19 anos chegou a esta cidade vindo da Bahia, a procura de trabalho deixando a Bahia onde o cacau já não imperava e a mão de obra se tornava escrava, depositando esperança na cidade de Macaé que bem o acolheu como a tantos trabalhadores que hoje vem de todas as partes do mundo e cada vez mais estarão aqui chegando devido as contingências cada vez mais evidentes de uma crise que se vislumbra a nível mundial onde o trabalho estará cada vez mais disputado, a mão de obra qualificada menos valorizada, escrava do sistema capitalista cada vez mais imperante.

Macaé é uma cidade que considero irmã da Bahia, similar em características de seu povo simples, alegre, que tem no mar um amplo campo de sustento. Foi talvez por isto que quando na adolescência li o livro de Jorge Amado, Mar Morto, me identifiquei tanto com seus personagens, suas lutas.

 O mar, cenário incontestável de esperança de continuidade de gerações muitas vezes traz surpresas, mostra sua força mas por vezes se deixa ficar e é nestes momentos que a vida simplesmente acontece, seja para um pescador, um marinheiro, um petroleiro.

Jorge Amado (1912 - 2001) foi um dos mais importantes escritores brasileiros do século XX. Seus livros foram traduzidos para dezenas de idiomas e adaptados para o cinema, o teatro e a televisão. Entre seus livros mais famosos estão Capitães da Areia, Gabriela, cravo e canela, Dona Flor e e seus dois maridos, A morte e a morte de Quincas Berro Dágua e Tenda dos Milagres.

3 comentários:

  1. li quando tinha 18 anos hoje tenho 37 e digo ate hoje ficou no meu coraçao este livro nunca esqueci foi o primeiro livro que li do começo ao fim

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Maria Silva,

      Conheci Jorge Amado nos bancos escolares. Me impressionou a linguagem intimista onde destroça os personagens e denuncia as diferenças sociais que possam estar camufladas ou desconhecidas dos desavisados. Um grande autor que completaria 100 Anos de existência neste ano.
      Obrigada pela visita e comentário.

      Excluir
  2. nossa minha prima falo muito desse livro p mim, mais ainda não achei para ler, e não encontro no google p ler . to loca p ler..

    ResponderExcluir

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails