Cresci lendo Monteiro Lobato. Muito de minha criatividade e liberdade de pensamentos devo a seus textos que levam a reflexão, ultrapassa limite temporal. Meu primeiro livro de Monteiro Lobato foi a Chave do Tamanho, lido na escola. Lembro que o livro me impressionou muito. Levava temas como paz mundial ao universo infantil.
Para Maria Célia Paulillo, em artigo científico: "Ao longo dos anos, a história da literatura fixou uma imagem multiforme e um tanto contraditória de Monteiro Lobato. De uma lado, afirma-se o escritor inventivo, considerado o criador de nossa literatura infantil; de outro, configura-se o crítico de pintura que tripudiou sobre os quadros inovadores da pintora modernista Anita Mafalti; ora cita-se o fazendeiro que ridicularizou seus agregados na figura do Jeca Tatu, ora exalta-se o cidadão progressista defensor do petróleo nacional. O novo livro de Marisa Lajolo, Monteiro Lobato: um brasileiro sob medida, vai além dessa imagem, mostrando que a carreira poliédrica do escritor foi fruto de uma visão de mundo arrojada e moderna, sempre em perfeita sintonia com o seu momento histórico."
Segundo ainda a pesquisadora "Sempre atento a sua realidade, Lobato soube incorporar, em uma obra ficcional pautada pela fantasia e pelo humor, informações muitas vezes coincidentes com o currículo escolar. Em contraposição à escola convencional, alvo de freqüentes críticas das personagens lobatianas, o Sítio do Pica-Pau Amarelo surge como uma escola alternativa. Nela, conhecimentos de gramática, matemática, geologia e até rudimentos de uma política nacionalista de petróleo são veiculados e assimilados de forma crítica, independente e freqüentemente questionadora, especialmente quando a relação de ensino-aprendizagem se dá entre Dona Benta e a discípula Emília.
Nos anos 40, quando ainda nem se pensava em Mercosul, o autor acalentou um desdobramento latino-americano de sua obra, por meio de um projeto em que a história da América fosse contada às crianças pelo vulcão andino Aconcágua. O projeto, que não chegou a ser implementado, é inovador e ousado, tanto no plano intelectual como editorial. Primeiro, porque propõe um novo modo de contar a história da América, isto é, a partir de um ponto de vista diferente do colonizador europeu. Segundo, porque procura ampliar o mercado de leitores, atingindo um público além de nossas fronteiras."
Como já dizia Monteiro Lobato: "um país se faz com homens e livros"! Vida longa a literatura Lobatiana!
Sobre a autora: Marisa Lajolo nasceu e vive em São Paulo e cursou Letras na Universidade de São Paulo, onde também concluiu Mestrado e Doutorado. É Professora Titular do Departamento de Teoria Literária da Unicamp, onde - com apoio do CNPq e da Fapesp - coordena o projeto Memória de Leitura (http://unicamp.br/iel/memoria) em cujo bojo foi realizada parte da pesquisa da qual resultou este livro. Publicou A formação da leitura no Brasil, Do mundo da leitura para a leitura do mundo, A leitura rarefeita, Literatura infantil brasileira: história e histórias, além de ter organizado inúmeras antologias e publicado artigos em revistas especializadas no Brasil e no exterior.
Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil 2000: Livro altamente recomendável.
Monteiro Lobato : um brasileiro sob medida / Marisa Lajolo. - São Paulo : Moderna, 2000. Projeot Gráfico Moema Cavalcanti.