"A história de Lula o filho do Brasil",
Denise Paraná, é baseado no belo trabalho realizado através de pesquisas biográficas em São Paulo e no sertão de Pernambuco, e na tese de doutorado em Ciências Humanas, entitulada "Da cultura da pobreza à cultura da transformação - A história de Luiz Inácio Lula da Silva e sua família". Belo trabalho de pesquisa, tão somente. Como livro que se propôs a ser contado em forma 'quase romanceada', poderia ter sido mais bem elaborado, considerando que a autora tinha a faca e o queijo na mão, isto é, riquíssimo material de pesquisa sobre a vida de Lula e sua família, que é relatada até o ano de 1980. Faltou profundidade se considerado a energia que Lula possui e por consequência, sua trajetória de vida. O livro relata a história de um brasileiro simples, como a maior parte do povo Brasileiro, onde vencer o dia-a-dia através do trabalho talvez fosse a grande vitória da trajetória de vida. Como a vivência deste brasileiro foi construída no compasso da história do país, é fato marcante a história deste grande homem, Lula, atual presidente de nosso país, que venceu as dificuldades que a vida apresentou não com esmorecimento. Lula bem soube vivenciar os momentos que a vida apresentou, avançar ou 'não avançar' como parte do caminhar. Saber ser paciente, uma vitória, pois nem sempre as surpresas do caminho são flores somente. Erguer-se diante da tristeza, sorrir para levar ânimo onde o fio de esperança transparente se faz, isto aprendeu com a força da origem simples, junto a natureza, na infância, no nordeste deste país. É uma história de vida linda, por certo. A narrativa da pesquisadora tem um tom acima do necessário quando fala da vida simples do povo, retratado na vida do Lula. Ser pobre não é sinônimo de ser infeliz, que fique aqui registrado. A beleza da vida está no exterior, refletido do interior. Não gostei do tom que se fez ao patriarca da família de Lula, ou seja, o pai de Lula. O problema do alcoolismo não é retratado com a ênfase e seriedade necessárias. Problema social num país em que o pobre é o bêbado problemático, inconveniente, muito longe das bebidas finas servidas em ambientes fechados. O pai de Lula foi um homem ausente, por certo, mas foi no valor do trabalho que ele tanto pregou aos filhos, embora não o soubesse como, que ficou marcada a trajetória do filho do Brasil, Lula; não tão somente captado através da presença amiga da mãe de Lula. Por sinal, uma mulher lindíssima, com um belo sorriso mostrando que a vida é alegre, independente de bens materiais, pois antes que tudo, o amor conduz a nobre patamares de vivência. Soube perdoar até a quem a magoara, por conhecer que somos todas vítimas sociais e reconhecer na mãe do filho de seu marido também um ser humano falho. O livro não perdoa este ponto, tratando, infelizmente, a doença ,por vezes, como um 'castigo' imputado as pessoas. Triste, pois que seríamos todos doentes? O que de certa forma não deixa de ser verdade, sendo a terra o hospital geral. O amor ao próximo, certamente, Lula aprendeu das lições de vida da mãe. Tom desnecessário enfatizado no livro se fez quanto ao ato de procriar. Na forma como se apresenta o livro parece tudo muito desprazeroso, com a mulher com o triste papel de apenas aceitar tudo, como se não fizesse parte de sua história, que por certo é difícil, sofrida, mas o que é a vida se não momentos de prazer, dor, felicidade. Por sinal, parir também é um ato muito interessante (eu tive 4 partos normais). A mulher do interior pode e é feliz na difícil vida que leva pois não pede muito, não gasta muitos recursos da natureza, o que também é um lado extremamente importante neste mundo de carências. Só para complementar esta questão de filho do Brasil, digo que não é feio não. O filho do Brasil pode ser lindíssimo. Pobre, batalhador e lindo. Falando em lindo, linda foto de Lula e um sobrinho, quando jovem. As crianças pobres do interior do país, apesar da vida difícil podem ser felizes, tanto ou quanto mais que aquelas criadas com todo conforto nas cidades, mas que desconhecem o contacto com a natureza que lhe proporciona olhar acima e adiante. O tom dado as crianças pode ser um alerta para a situação que o país apresenta para as questões do interior, entretanto, este foi um pouco exagerado. Outro ponto a ser reforçado é a presença da esposa de Lula, D. Marisa em sua trajetória política, que por certo foi além do que apresentado. Guerreira, batalhou junto, ajudou Lula a ser quem é e como toda mulher, acaba por ficar apagada em cena (não me refiro ao filme, ainda). Tem um tópico entitulado 'Mulheres e Política' que não ficou bem esclarecido. Não há em nenhum momento, no texto referente a este tópico um nome sequer de mulher. Seria exatamente esse o objetivo da autora, deixar esta pegadinha para o leitor, fica aqui a reflexão. Outra curiosidade (vi a foto no livro): a soma dos números da matrícula na prisão é o número 13. Ponto positivo para o livro por conta do relato quanto a questão dos registros de nascimento em cartório no Brasil que acaba por ocasionar inconsistências quando de preenchimento (nome, sobrenome). A título de exemplo, meu pai, por engano, quando do registro de nascimento foi omitido o 'Silva' no registro da certidão de nascimento, o que ocasionou menos uma família 'Silva' no Brasil (pelo menos registrada). Não é fácil para um simples trabalhador analisar este livro pois o mesmo entrecruza com a história de tantas vidas. Vidas que constroem este país com o suor das mãos e a certeza de que poderiam, podem e poderão muito e muito mais. Confesso que não acabei de ler o livro. Apenas li algumas partes e vi certamente as belas fotos familiares que o compõem.

A história de Lula: o filho do Brasil/Denise Paraná. - Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.