Mário Benedetti / A borra do café; tradução Ari Roitman e Paulina Wacht. - Rio de Janeiro: Record, 1998.
"Para onde vão as névoas, a borra do café, os calendários de outro tempo?"
(Júlio Cortázar)
"Rita teve então um gesto que pôs o ponto final, agora sim, na minha infância: me beijou. Foi na bochecha, ao lado da comissura dos lábios, e ela prolongou um pouquinho aquele contato. Tenho a impressão de que aquilo foi o meu primeiro esboço de felicidade. (...) Então eu também a beijei na bocheca, perto dos lábios, e ela sorriu, boníssima. Acho que gostou. Senti uma agitação nova, uma euforia quase heróica. Não era ainda, por razões óbvias, uma excitação sexual, mas digamos que fosse uma emoção pré-erótica."
(Mário Benedetti)
Iniciar bem o ano é ter acesso a um romance de Mário Benedetti. Uma conversa que se extende, tendo a infância que o personagem Cláudio percorre , em sua iniciação adolescente, em sua puberdade, os bairros de Montevidéu, graças à mobilidade doméstica da família, que mudava de lugar constantemente. Poderia ser a construção de sua biografia por estar impregnado do passado como se fosse a vida em si, e o faz, metaforicamente, sem sair desse exílio em que vive e que nunca abandona.
São fatos cotidianos de Montevidéu que o autor explora, fáceis mas não simples, transparentes mas não vazios, líricos mas não piegas, contados todos com a poesia que é característica de sua obra narrativa. O livro transmite otimismo, é cálido e intranscendente, está escrito em sua contra-capa. Nada complicado, nada rebuscado, nada pretencioso. É, enfim, um desses que se tem que ler, não por nada, mas apenas porque sim, o que não é pouco. Digo, por ser de Benedetti, já se tem motivo suficiente.
Mário Benedetti nasceu em 1920 em Paso de los Toros. Em 1973, teve que sair de Montevidéu depois do golpe militar e foi viver em Madri. Com a redemocratização do país, voltou ao Uruguai, dividindo seu tempo entre os dois países. É autor de mais de 50 livros, entre eles, Quem de nós, Montevideanos, Correio do Tempo , A trégua, O amor, as mulheres e a vida, entre outros.
sim, tem que ler ao Mario Benedetti! quasi li todos...
ResponderExcluirobrigada pelo comentario, sabe nao é foto, é um trabalho digital...
bjs
Myra,
ResponderExcluirMais feliz com tua presença.
Benedetti é mesmo espetacular!
Beijo no coração.