domingo, 31 de maio de 2020

Djamila Ribeiro - Quem tem medo do feminismo negro?



Djalma Ribeiro -
Quem tem medo do feminismo negro?


O livro de Djamila Ribeiro, Quem tem medo do feminismo negro? inicia com sua autobiografia.

Destaca a infância e juventude, a convivência com sua avó Billie Holiday, a quem a convivência a faria distante de seu sentimento de inadequação, medo e dor nas relações sociais, sejam escolares ou onde residia. Convivência que lhe traria sentido de vida, pois sua infância e juventude foi marcada pelo impedimento da fala e uma existência plena em diversos espaços.

A mentira entra em sua história de vida ainda na juventude, para suportar a dor da exclusão a que era exposta.

Mesmo cursando jornalismo, a vaga que lhe coube em uma empresa foi a de faxineira, a qual agarrou a oportunidade oferecida pois precisava manter as mensalidades da faculdade.

Após a morte da mãe e pai doente, se permitiu sair do ciclo de exclusão e se demitir da empresa que não a promovia porque "o chefe gosta muito do seu café, em time que se está ganhando não se mexe".


Djamila Ribeiro
 - Quem tem medo do feminismo negro?

Somente quando trabalhou na Casa de Cultura da Mulher Negra redescobriu sua força.

Trabalhando na biblioteca conviveu com autores como bell hooks, Carolina Maria de Jesus, Lima Barreto, Sueli Carneiro, Alice Walker, Toni Morrison.

Aprendeu a falar por outras vozes, a se enxergar por outras perspectivas.

Notou que as especificidades das mulheres negras não eram consideradas, descobriu pelo olhar de autores outros a invisibilidade da mulher negra como sujeito do feminismo.

Com Chimamanda Ngozi Adichie, escritora Nigeriana alertou sobre os perigos da história única e importância de se pensar estratégias para garantir essa multiplicidade de histórias.

Assim de autores como bell hooks, teórica e ativista estadunidense, a visão de compartilhamento de mulheres negras e brancas contra o sexismo foi uma perspectiva ganha.

Entre dar aulas em cursinhos comunitários e trabalhar como voluntária em ações sociais e trabalhar na biblioteca os textos escritos para a revista da ONG se ampliam em reflexões, identificando a máscara do silêncio que a oprime e se fortalecendo para falar pelos orifícios da mesma máscara que necessita ser estilhaçada.

Saber da dúvida de sua origem histórica queimada (Nigéria ou Guiné-Bissau) nos documentos relacionados à escravidão a fortaleceu a contar sua história.

Pelos olhos de Toni Morrison escritor, redescobriu o direito ao acesso ao amor que lhe fora negado.


"O amor nunca é melhor do que o amante. 
Quem é mau, ama com maldade, 
o violento ama com violência,
o fraco ama com fraqueza,
gente estúpida ama com estupidez 
e o amor de um homem livre nunca é seguro".
(o olho mais azul - Toni Morrison).


Segue redescobrindo sua força nos textos de Alice Walter, autora de A cor púrpura e De amor e desespero: História de mulheres negras.

Ler Patricia Hill Collins a fez perceber a estratégia de ver a força da falta como mola propulsora de construção de pontes.

Segue pesquisando autores como a historiadora negra Beatriz Nascimento, Suelli Carneiro, fundadora do Geledés, Instituto da Mulher Negra e autora de "Enegrecer o feminismo. A situação da mulher negra na América Latina", que afirma que ao falar de mulheres, deve-se utilizar a pergunta de que mulheres estamos falando. Mulheres não são como um bloco único - elas possuem pontos de partida diferentes. Fala da importância de dar nome e trazer à visibilidade para se restituir a humanidade.

Conclui que busca pelo alargamento do conceito de humanidade, pois vê essa luta como essencial e urgente, pois enquanto se veem em risco, a humanidade toda corre risco.

O livro segue com a seleção de artigos  publicados no blog da CartaCapital entre 2014 a 2017:

"O verdadeiro humor dá um soco no fígado de quem oprime".
Quando opiniões também matam.
Seja racista e ganhe fama e empatia.
Falar em racismo reverso é como acreditar em unicórnios.
As diversas ondas do feminismo acadêmico.
Mulher negra não é fantasia de carnaval.
Quem tem medo do feminismo negro?
A vingança do Goleiro Barbosa.
Uma mulher negra no poder incomoda muita gente.
Repúdio ao blackface.
Zero hora, vamos falar de racismo?
A hipocrisia em xeque.
O racismo dos outros.
Ser contra as cotas raciais é concordar com a perpetuação do racismo.
Cansado de ouvir sobre machismo e racismo?
Respeitem Serena Williams.
Homens brancos podem protagonizar a luta feminista e antirracista?
Quem se responsabiliza pelo abandono da mãe?
Para as meninas quilombolas a hashtag não chega.
Simone de Beauvoir e a imbecilidade sem limite dos outros.
"E se sua mãe tivesse te abortado?"
Nem mulatas do Gois nem dentro de Grazi Massafera.
Vidas negras importam ou a comoção é seletiva?
Xuxa e a fetichização da pobreza.
"O racismo é uma problemática branca", diz Grada Kilomba.
"Bela, recatada e do lar": Que coisa mais 1792.
O que a miscigenação tem a ver com a cultura do estupro?
Eduardo Paes e a desumanização da mulher negra.
Feminismo negro para um novo marco civilizatório.
O mito da mulher moderna.
Racismo: Manual para os sem-noção.
O que é o empoderamento feminino?
Estrangeira no próprio país.
A  Mulata Globeleza: Um manifesto.


Djamila Ribeiro nasceu em Santos, em 1980. Mestre em filosofia politica pela Unifesp e colunista das revistas Elle e CartaCapital on-line, foi secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo. Coordena a coleção Feminismos Plurais, da editora Letramento, pela qual lançou o livro O que é lugar de fala? (2017).

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