sexta-feira, 23 de julho de 2010

Ficção - Histórias para o Prazer da Leitura - Uma Antologia - Miguel Sanches Neto



"Editada por Cícero Sandroni, Eglê Malheiros, Fausto Cunha, Laura Constância Sandroni e Salim Miguel, a revista Ficção (Rio de Janeiro: janeiro de 1976 a setembro de 1979) foi um verdadeiro tributo ao conto. Com um projeto descentralizador, ela uniu província e metrópole, fazendo um mapeamento da produção contemporânea do país. A literatura brasileira de ficção da época passou necessariamente pela revista, que foi sua principal vitrine."

"Dirigida por escritores com vivências jornalísticas, Ficção criou um estilo editorial de êxito. Foi profissional e idealista ao mesmo tempo. Soube conjugar uma vocação crítica a um perfil de mercado. Falou a jovens e a escritores consagrados, fundando uma rede que ligou o país."

Antologia, paixão nacional, pelo menos é o que deixa claro o livro "Ficção - Histórias para o Prazer da Leitura, de Miguel Sanches Neto. Prefaceado sob título de "Acima de tudo contistas" o livro inicia prometendo rever os anos 70 como "a década dos contistas". E afirma que "Em nenhum outro momento este gênero foi tão praticado entre nós, consolidando tendência nacional para o texto curto, que parece ser a marca de uma literatura em que as narrativas de maior fôlego são exceções." Verdade ou não, a intenção de se registrar não somente os autores consagrados mas colocar ladeado aos mesmos o contista comum já é um mérito de louvor esta Antologia. Mas em questão de letras teria mesmo letras ditas especiais, eis a questão. Assim, autores nacionais unidos a estrangeiros compõem este belo livro-revista.

"Do ponto de vista gráfico, 'Ficção' trazia um tamanho adequado tanto para a estante quanto para a leitura mais arejada...Assim, recursos modernos de jornalismo foram postos a serviço da literatura, comprovando, graficametne, o slogan criado por Cícero Sandroni: "Histórias para o prazer da leitura". Tratava-se de um estilo gráfico contemporâneo, moderno e ao mesmo tempo sóbrio, tudo para criar um apetite de leitura.

Um conto parece fácil confecionar, mas para ser imparcial, interessante, necessita somente da 'verdade' do autor exposta. Muito antes do homem imaginar a prática dos recursos que o levariam as peripécias em ar, mar estas já se haviam concluído em sua imaginação e avançado em terra pela narrativa oral. Aventuras o arrancavam de sua vida primitiva e o levavam a patamares de sonho permitindo um retorno ao sobrenatural (e quem sabe dos Deuses).

Sumário
Amigas, ou a liberdade secreta - Sônia Coutinho
O último rei - Marina Colasanti
A Nova Califórnia - Lima Barreto
Manuela em dia de chuva - Autran Dourado
O aprendiz - Domingos Pellegrini
Um pedido de demissão - Wander Piroli
Boa de garfo - Luiz Vilela
A balada do falso Messias - Moacyr Scliar
Mágoa de vaqueiro - Hugo de Carvalho Ramos
Estrada Estreita - Luís Fernando Emediato
A verdadeira estória/história de sally can dance (and the kids) - Caio Fernando Abreu
Os mortos - Flávio Moreira da Costa
As queridas velhinhas - Salim Miguel
Zélida Tavares, cuja filha, meus Deus, que mavaldeza - Flávio José Cardozo
A resposta - Lêdo Ivo
A horta de arame - Ignácio de Loyola Brandão
Prisões - Antônio Carlos Viana
Crimes de um repórter inquieto - José Louzeiro
Interlúdio em San Vicente - João Silvério Trevisan
Os acrobatas liam Júlio Cortázar antes de subir ao trapézio - Aguinaldo Silva
Domingo tem cinema! - Roniwalter Jatobá
A igreja do diabo - Machado de Assis
Miss Corisco - Antônio de Alcântara Machado
Almoço de confraternização - Sérgio Sant´Anna
Coruja é bicho bom? - José J. Veiga
Não se pode mais nem relinchar em paz? - Millôr Fernandes
entre outros finalizando com o interessante conto:
O cem pés - Edilberto Coutinho

Finalizo com o texto: O varal, a missão.

A ordem chegara advinda da hierarquia máxima, para a primeira tarefa daquele tumulturado dia: pegar o saco, recolher todas as 'peças' (palavras pronunciada com muita ênfase) expostas fora do local (corredor de passagem do alojamento), observar o local anteriormente, após leitura do extenso contrato firmado entre as partes. Partira com o contrato embaixo do braço (não houve tempo hábil de leitura) e chegando ao local observara que trabalhavam concentradíssimos onde apenas alguns interrompiam a tarefa sob o olhar discreto e baixo: "bom dia". Identificara facilmente o varal atravessando o corredor de fora a fora onde pequenas peças de imprescindível e igual uso masculino, cores as mais variadas possíveis dando um colorido excepcional ao ambiente, excetuando-se uma 'peça' de tom rosado que certamente teria sido vermelha um dia a se destacar entre as demais. Surpresa se fez ante uma fila indiana, todos fortes, braços cruzados na porta da sala. Protesto geral, pensei. Já deveriam estar cientes da tarefa máxima e antes que suas peças fossem extintas estavam a reclamar direitos. 'Vai descer com a turma do mar (melhor evitar nomes oficiais)', gritara um baixinho de bigodinho fino. Tremera inicialmente, agora a atividade estava inerente a outros órgãos. Complicado seria na hora da devolução visto que a cor do uniforme deveria ser única. Retornei a cadeira imaginando quão difícil ia ser ficar sem concluir a prestimosa missão inicial. Como o saco voltou vazio imaginei logo que já fora despedida e talvez a presença da turma do mar (externa) até garantisse chegar em terra mais rapidamente. Boa sugestão, somente aí entendia a dica amiga do bigodinho. O almoço foi tipo 'Urigueler' (verificar palavra) pois minha mão entortava todos os talheres que o prestimoso enfermeiro (grudara em mim como uma cobaia em potencial), companhia certa, teimava em trazer insistindo que a fome poderia ser um mal aliado piorando a situação. 'Papa', 'Alfa', 'Victor', entonadas palavras dançavam em minha mente e cheguei a acreditar que melhor seria determinar que todos os objetos que voassem (a lembrança do filme King Kong na torre não saía de minha pobre mente) a uma distância inferior a 2km do local, incluindo pássaros, outros, retornassem à terra e transferido o varal específico da turma de branco para o heliponto como sinal de paz. Pena que não houve tempo hábil para a sugestão. Fui arrastada para o primeiro objeto que conseguiu descer naquele dia. Quanto a tarefa emergencial nem houve tempo de fazer a passagem de serviço. "Prática, prática!" Uff, acordada pela colega em meio a aula de gestão, atônita estava ante a lembrança que o próximo módulo seria a prática das possibilidades assimiladas naquele curso noturno.

(Josefa)

Ficção: histórias para o prazer da leitura / organização Miguel Sanches Neto. - Belo Horizonte : Editora Leitura,2007.
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