domingo, 27 de fevereiro de 2011

Adeus, China - O Último Bailarino de Mao - Li Cunxin

Adeus, China / Li Cunxin; [versão brasileira da editora] - 1. ed. - São Pualo, SP : Editora Fundamento Educacional, 2009.

"Lembro-me de um ano que nossa comuna tentou plantar amendoim em pequenos pedaços de terra, mas a safra foi decepcionante. Depois da colheita, um grupo de meninos mais ou menos da minha idade - 6 ou 7 anos - foi para o terreno plantado, levando pás e cestos de bambu, na esperança de encontrar, como fazíamos com os inhames, alguns amendoins perdidos. Depois de horas e horas de busca, o resultado foi quase nenhum. Mas eis que um dos meninos descobriu, nos limites do terreno, um buraco de rato. Que sorte para um vando de garotos famintos! Ele começou a cavar imediatamente. Ficamos todos em volta dele, como que atraídos por um ímã. Ratos sempre estocam alimentos para o inverno daí o misto de excitação e inveja com que observávamos a cena. Estávamos todos de pé, porque se acreditava que ajoelhar ao lado de um buraco de rato fazia o túnel desabar e desaparecer. O menino cavava o mais rápido possível, com o traseiro para cima. Várias vezes quase perdeu o túnel, bloqueado pelos ratos. Então, vimos que havia ramificações em direções diferente, com três pontos de armazenagem: um de amendoins descascados, outro de amendoims meio descascados e um terceiro de amendoins com casca. Os ratos, porém, não foram encontrados. Provavelmente, tinham uma rota secreta de fuga.
O menino de sorte levou para casa quase meio cesto de amendoins. Secretamente, fiquei com pena dos ratos que tinham perdido a comida. Afinal, eles também poderiam morrer de fome no inverno. "Mundo cruel" eu pensei, "em que crianças competiam com ratos por comida." (pág. 24)

Adeus, China, livro de fácil e fluente leitura desbrava a rotina e cultura da família Li, mais especificamente a vida de Li Cunxin, que como tantas outras famílias de camponeses em um vilarejo desesperadamente pobre do nordeste da China, luta pela sobrevivência no pós-guerra e chega ao estrelato no Ocidente, um relato verdadeiro e extraordinário da vida de um garoto. História de grande coragem e determinação provando que nada é impossível quando se tem a perseverança por meta.

"Senti as lágrimas dela escorrendo pelos meus cabelos.
- Somos muito pobres! Os deuses no céu não respondem às nossas preces e até o diabo nos abandonou. Não há esperança para nós - ela suspirou.
- Pare com isso! Não diga isso! - pedi. Eu detestava vê-la tão triste.
Ela continuou, como se não me houvesse escutado:
- Como eu gostaria de ter dinheiro para lhe comprar um carrinho de brinquedo! Mas não temos dinheiro nem para a comida!
- Um dia eu vou ter bastante comida! - jurei para mim mesmo.
Ela me abraçou, ainda soluçando. Não sei quanto tempo durou aquele abraço, mas desejei que não acabasse nunca. (pág. 29)."

Nesta bela passagem, Li Cunxin aos 5 anos de idade chega em casa com o carrinho do visinho e a mãe o faz devolver ante seus protestos. Longe estaria sua mãe de imaginar que seu filho que tantas vezes foi estudar sem ter o que comer seria em breve uma estrela, o queridinho do Ocidente. Uma história de persistência onde é relatado a infância, vida em Pequim e grande trajetória de vida no Ocidente:

"Naquela noite, ao jantar, depois que a 'niang' contou a todos o que eu tinha feito, meu 'dia' falou:

- Apesar de não termos dinheiro e comida, de não podermos comprar roupas e de vivermos em uma casa pobre, temos ORGULHO. Orgulho é o que temos de mais precioso na vida. Desde os tempos difíceis vividos por nossos antepassados, a família Li sempre teve orgulho e dignidade. Sempre tivemos uma boa reputação. Quero que vocês todos se lembrem disto: nunca percam o orgulho e a dignidade, por mais difícil que seja a vida." (pág. 29)

A História de Li Cunxin é exemplo de luta onde chegar a um ponto desejado depende somente de determinação, foco e esforço independente se o mundo te diga o tempo todo não. Depende basicamente de você e o primeiro passo é reconhecer quais desejos o movem. E Li Cunxin chegou com dignidade e amor.

2 comentários:

  1. Na verdade, na fome, até os ratos viram alimentos...

    E interessante a sinopse.

    Fique com Deus, menina Lígia Guedes.
    Um abraço.

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  2. Daniel Sávio,

    Na verdade, não precisamos ir longe para
    encontrarmos situações similares ao exemplificado no livro.

    Obrigada pelo comentário e visita.

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