segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Eli Heil - Eli Malvina Heil

Eli Malvina Heil


Eli Heil, revelada na década de 60 pelo crítico João Evangelista de Andrade Filho, ultrapassou, em 1966, os limites da Ilha de Santa Catarina ao expor individualmente no Museu da Arte Contemporânea da USP, apresentada por Walter Zanini
Na introdução do catálogo para essa mostra, Zanini considera-a a maior revelação da nossa arte de intuição primitiva destes últimos vinte anos". É consenso de ambos os críticos ver na obra de Eli, naquela data, uma "visão expressionista de natureza cósmica, que dá magnitude ao seu pequeno mundo de morro e de currais." Esse mundo não tardará a expandir-se cada vez mais, quer como inaudita liberdade formal ao explorar inovadoramente técnicas por ela mesma inventadas, quer como ocupação de um espaço real, que se ampliará pelos desdobramentos da pintura erodida e desenhos "esfolados" de Eli pela tridimensionalidade da tapeçaria, da escultura, da cerâmica e, finalmente, pelas criações monumentais do Mundo do Ovo, no tereno da sua casa em Florianópolis. "Eu sempre achei que o ovo é o princípio de tudo", declarou a Jandira Lorenz (1985), que escreveu sobre a sua obra um livro definitivo. "O ovo para mim é redondo, é tudo aquilo que faço. É uma evolução de todos os meus sentimentos", acrescenta Eli, que possui notável dom para expressar-se pela palavra, compondo frequentes poesias sobre a própria criação, sempre ligada à sua biografia. "A arte é ver nascer do verde cérebro os mais maravilhosos seres imaginários", declara a artista a J. Lorenz, que identificará na fabulação genesíaca de Eli a transmutação permanente de significados e formas. Imagem da fertilidade, estadeiam-se no trabalho de Eli falos, seios, serpentes, germinações. Lorenz apontará certas afinidades da artista "com alguns momentos,  por exemplo, do Grupo Cobra, pelo seu furor cromático, por sua escala de antivalores (antibeleza, anti-razão, antimétier) e pelo tumulto e teatralidade de formas".  Os títulos das obras de Eli Heil falam do seu mundo: Animal desfiado, Morro faísca, Meu Morro, meu pé, Cobra garruda, Cérebro telefone, Bicho tinta, Bicho ovo, Peixe pássaro, És tu, orelha flor?, Mulher trançuda, Cavalo trança, Eu no Monte das Oliveiras. Filha de Clemente Tiago Diniz e Malvina Garcia Diniz, teve dez irmãos, do squais sobreviveram sei, nascidos no município de Palhoça. Trabalhou como balconista e aos 16 anos ensinou no grupo escolar para ajudar a família. Estudou arte o Normal Regional e fez o curso de educação física. Casou-se aos 22 anos com o comerciário José Urbano Heil e permaneceu por anos como professora de educação física de uma escola de Florianópolis (SC). Iniciou-se como autodidata na pintura em 1962. Expôs pela primeira vez em 1966, no 21. Salão Municipal de Belas Artes, em Belo Horizonte (MG). Dois anos depois, realizou mostra individual na capital mineira. Integrou a mostra coletiva Instinto e Criatividade Popular, no MNBA, do Rio de Janeiro (1975) com curadoria de Lélia Coelho Frota. Participou das exposições Arte Brasil Hoje 50 Anos Depois, em São Paulo (1974), Peintres Naifs Brésiliens de L´Imaginaire, em Paris (1976) e Artistas de Santa Catarina, Rio de Janeiro (1978), da Bienal Latino-americana de Mito e Magia, São Paulo (1979), da 6a. Bienal de São Paulo, Sala de Arte Incomum (1981). Em 1987 participou da mostra Brésil, Arts Populaires, no Grand Palais, Paris, com seu grande óleo sobre courvin Deus escolheu este lugar. É figura exponencial não apenas da arte catarinense, como também da criação brasileira no século XX.



Fonte: Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro - Século XX - Lélia Coelho Frota, págs. 173-175.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails