sábado, 31 de dezembro de 2011

Aluísio Azevedo - O cortiço

O cortiço - Aluísio Azevedo - São Paulo: Saraiva, 2009 (Clássicos Saraiva)

Encerro o ano com um romance brasileiro, o clássico O Cortiço, de Aluísio Azevedo. Impressionante narrativa em que o autor expõe abertamente toda a rotina do espaço criado, o cortiço, e sua gente simples, suas lutas diárias e a engrenagem que envolve as relações deste espaço vivo com o exterior onde cada habitante luta por si e pelos demais, chegando a se isolar das demais camadas sociais por instinto de proteção deste espaço.

"- Aguenta! Aguenta!
De cada casulo espipavam homens armados de pau, achas de lenha, varais de ferro. Um empenho coletivo os agitava agora, a todos, numa solidariedade briosa, como se ficassem desonrados para sempre se a polícia entrasse ali pela primeira vez. Enquanto se tratava de uma simples luta entre dois rivais, estava direito! "Jogassem lá as cristas, que o mais homem ficaria com a mulher!", mas agora tratava-se de defender a estalagem, a comuna, onde cada um tinha a zelar por alguém ou alguma coisa querida.
- Não entra! Não entra!
E berros atroadores respondiam às pranchadas, que lá fora se repetiam ferozes.
A polícia era o grande terror daquela gente, porque, sempre que penetrava em qualquer estalagem, havia grande estropício; à capa de evitar e punir o jogo e a bebedeira, os urbanos invadiam os quartos, quebravam o que lá estava, punham tudo em polvorosa. Era uma questão de ódio velho."

Muitas histórias são relatadas no percurso da narrativa tendo como ponto central a vida de João Romão, negociante português, proprietário do cortiço, que ambiciona enriquecer e projetar-se socialmente  que custo for, até mesmo da exploração de Bertoleza, escrava a que se une visando atingir seus objetivos. Outros portugueses tem foco na narrativa, como Miranda, proprietário do sobrado visinho ao cortiço, principal inimigo de João Romão por possuir status social e as terras que faltam à sua ambição de domínio do completo espaço físico que compõe aquelas paragens. Rita Baiana, mulata alegre também figura como personagem central, onde transforma com seu jeito contagiante os moradores da comunidade o cortiço, chegando a transformar o sério português Jerônimo, funcionário exemplar da pedreira anexa ao cortiço, seduzido por seus encantos, chegando a corromper-se ao sistema.

" Era João Romão quem fornecia tudo, tudo, até dinheiro adiantado, qando algum precisava. Por ali não se encontrava jornaleiro cujo ordenado não fosse inteirinho parar às mãos do velhaco.  sobre este cobre, quase sempre emprestado aos tostões, cobrava juros de oito por cento ao mês, um pouco mais do que levava aos que garantiam a dívida com penhores de ouro ou prata.
Não obstnte, as casinhas do cortiço, à proporção que se atamancavam enchiam-se logo, sem mesmo dar tempo a que as tintas secassem. Havia grande avidez em alugá-las: aquele era o melhor ponto do bairro para a gente do trabalho. Os empregados da pedreira preferiam todos morar lá, porque ficavam a dois passos da obrigação.
O Miranda rebenava de raiva.
- Um cortiço! - exclamava ele, possesso. - Um cortiço! Maldito seja aquele venderio de todos os diabos! Fazer-me um cortiço debaixo das janelas!... Estragou-me a casa, o malvado!"

O livro O cortiço é um retrato da condição social de um povo. Envolvente do início ao final. Excelente.

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