domingo, 27 de dezembro de 2015

Stendhal - A cartuxa de Parma

Stendhal - A cartuxa de Parma

A cartuxa de Parma, Stendhal, Penguin - Companhia das Letras, São Paulo, 2012.

A cartuxa de Parma é um digno retrato de sua época. Stendhal (pseudônimo usado na literatura pelo francês Henri-Marie Beyle) escreveu essa obra-prima de 617 páginas com rapidez inacreditável: apenas 53 dias!, e a publicou em 1839. O autor é conhecido também por outro é conhecido também por outro famoso romance, O vermelho e o negro - que não deve ser confundido com o filme O escarlate e o negro, de Jerry London (1983), protagonizado por Gregory Peck. Esse romance foi considerado pela crítica um exemplo antecipado do realismo literário. Sua marca registrada são a perspicácia e a delicadeza na análise psicológica dos personagens. Houve até quem o comparasse a O Príncipe, de Maquiavel, contextualizado em outra época.

No início do século XIX a Europa ainda respirava o cheiro de pólvora das guerras napoleônicas e vivia em grande instabilidade política, cenário perfeito para intrigas partidárias, arroubos de nacionalismo e, principalmente, ambições desenfreadas pelo poder.

A história, que curiosamente apenas no final faz alusão à cartuxa que lhe dá o título, acontece entre os campos de batalha franceses e a ensolarada região de Parma, na época um dos muitos reinos da Itália. A prosa ágil de Stendhal e a estrutura da trama dão ainda mais requinte às intrigas e conspirações de bastidores, potencializadas por recursos como cartas anônimas e envenenamentos. O livro demorou para emplacar, mas em compensação recebeu elogios de notáveis da época. Balzac o considerou o  mais significativo romance do seu tempo e até deu conselhos a Stendhal para que enxugasse o texto, tornando-o mais fluido e profundo. Para André Gide foi o maior romance francês. Para completar, Tolstói confessou que encontrou na obra de Stendhal inspiração para a sua monumental Guerra e Paz (1865-1869). Assim como o personagem central de A Cartuxa de Parma, Fabrice Del Parma, Fabrice Del Dongo vagueia pelo fronte da batalha de Waterloo perguntando-se se aquilo era realmente a guerra, mais tarde Pierre Bezukhov, em Guerra e Paz, caminhará perplexo, entre os canhões da Terceira Coalizão russa contra Napoleão, em busca de um sentido para a vida.
Nesse dia, o exército, que acabava de ganhar a batalha de Ligny, estava em plena marcha para Bruxelas; era véspera da batalha de Waterloo. Por volta do meio-dia, a chuva torrencial continuava e Fabrice ouviu o troar do canhão; essa felicidade o fez esquecer por completo os horríveis momentos de desespero que aquela prisão tão injusta acabava de provocar.
Andou até noite muito avançada, e como começava a ter algum bom senso foi tentar alojamento numa casa de camponês muito distante da estrada.
Esse camponês chorava e alegava que lhe tinham levado tudo; Fabrice lhe deu um escudo e ele encontrou aveia. (...)
Uma hora antes de o dia raiar, Fabrice estava na estrada e, com muitos afagos, conseguiu fazer seu cavalo pegar um trote. Por volta das cinco horas, ouviu o canhoneio: eram as preliminares de Waterloo. (p. 69).

Fonte: Cidade Nova - Dezembro 2015, n. 12, Na Estante, por Fernanda Pompermayer.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Omar Khayyam - Rubaiyat (de Franz Toussaint)

Omar Khayyan - Rubaiyat
Rubaiyat (Omar Khayyam); tradução Manuel Bandeira (de Franz Toussaint). - Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

Um mistério: assim este livro chega a minhas mãos.

Após uma mudança de espaço físico no trabalho, eis que sob a minha mesa aparece o livro Rubaiyat, com belíssima capa, impressionando a primeira vista.

Procuro pelo dono sem êxito. Resolvo levá-lo para leitura.

Basta ler uns versos para saber a jóia que ficou perdida em minha mesa.

Imaginá-lo sendo escrito no século XI por um poeta persa que se tornou um dos autores mais populares do mundo foi um imenso prazer.

Omar Khayyan é um fenômeno, e recriado por muitas mãos, o que de certa forma gera polêmicas acerca da tradução de suas obras.

Nesta edição Manuel Bandeira optou por trabalhar sobre a tradução francesa de Toussaint (1923), pois achava que a edição inglesa de FitzGerald (1859), que popularizou Omar Khayyam no Ocidente, sendo "primorosa" do ponto de vista literário, é, do ponto de vista da fidelidade ao texto original, "inaproveitável".

Assim segue a polêmica sobre quantas "quadras" Omar deixou. Seriam 206 conforme edição iraniana de 1461 ou 464 de acordo com a edição francesa de J.B. Nicolas (1857), que trabalhava na embaiada francesa em Teerã. Seriam as 178 da edição em Teerã, em 1943, ou as 121 da edição dinamarquesa de 1927?

Importante astrônomo, matemático e pensador em sua época, chegou a nós como poeta. Sua poesia sobreviveu à sua ciência e aos seus tradutores.

Há qualquer coisa intrigante e misteriosa que faz com qeu leitores de uma era eletrônica e globalizada se deliciem com essa poesia simples e intemporal, já alerta Affonso Romano de Sant´Anna na contra-capa do livro.

Melhor que saber sobre o autor é ler suas poesias, certamente.

Ah, não procures a felicidade!
A vida dura o tempo de um suspiro.
Djemchid e Kai--Kobad hoje são poeira.
A vida é um sonho; o mundo, uma
[miragem.

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