quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Raul Bopp

Raul Bopp, 1962

"Jacarés em férias
mastigam estrelas que se derretem dentro d´água"

O gaúcho Raul Bopp, descendente de alemães criadores de gado, nasce no dia 4 de agosto, em Santa Maria - RS e morre em 2 de junho, no Rio de Janeiro, RJ. Aos 16 anos, fez sua primeira viagem, indo do Paraguai ao Mato Grosso a cavalo, só retornando ao Rio Grande do Sul quando decidiu estudar Direito. Mas seu anseio por viajar era tão grande, que ele deu um jeito de cursar a faculdade em cidades diferentes. Estudou em Porto Alegre, Recife, Belém e Rio de Janeiro.

Em Belém, começou a escrever Cobra Norato, onde narra as aventuras de um jovem depois de entrar no corpo da mitológica figura com formato de cobra sucuri, devoradora de quem invade seus domínios. Para descrever o vigor, a violência e o caos da floresta, Bopp recorreu a versos livres, sem obedecer aos critérios da poética estabelecida. Cobra Norato tem parentesco com o Macunaíma, de Mário de Andrade, e o Martim Cererê, de Cassiano Ricardo, por suas origens comuns nas lendas da Amazônia, explorando o mito da viagem no tempo e no espaço.

Em 1926, o poeta chegou a São Paulo. A princípio se envolveu com o grupo Verde-Amarelo, tendência modernista de acento xenófobo, cujo principal nome era Plínio Salgado, mas logo se uniu a Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, sendo um dos responsáveis pela Revista de Antropofagia. Com a publicação de Cobra Norato e também de Urucungo - poemas negros, conquistou respeito e admiração. Oswald afirmou que, "em Cobra Norato, pela primeira vez, se realizou a poesia brasileira grandiosa e sem fraude".
Em 1932, o poeta ingressou na carreira diplomática. Serviu no Japão, em Los Angeles, Lisboa, Zurique, Barcelona, Guatemala, Berna, Viena e Lima, tendo sido embaixador na Áustria e no Peru. Ao se aposentar, em 1963, escreveu memórias de suas andanças pelo mundo e de sua participação no movimento modernista.
Aos 90 anos de idade, Raul Bopp partiu em sua última viagem.


Cobra Norato

Um dia
eu hei de morar nas terras do Sem-fim

Vou andando caminhando caminhando
Me misturo no ventre do mato mordendo raízes

Depois
faço puçanga de flor de tajá de lagoa
e mando chamar a Cobra Norato

- Quero contar-te uma história
Vamos passear naquelas ilhas decotadas?
Faz de conta que há luar

A noite chega mansinho
Esrelas conversam em voz baixa
Brinco então de amarrar uma fita no pescoço
e estrangulo a Cobra.

Agora sim
me enfio nessa pele de seda elástica
e saio a correr mundo

Vou visitar a rainha Luzia
Quero me casar com a sua filha
- Então você tem que apagar os olhos primeiro
O sono escorregou nas pálpebras pesadas
Um chão de lama rouba a força dos meus passos


"Sentir-se-á, sempre, neste poema bizarro e vitalista (Cobra Norato), uma imagem de coisas brasileiras através da visão expressionista de um artista originalíssimo."
(Àlvaro Lins)


Obras do autor

POESIA: Cobra Norato, 1931; Urucungo - poemas negros, 1932; Poesias, 1947; Cobra Norato e outros poemas, 1954; Antologia poética, 1967; Putirum; poesias coisas do folclore, 1969; Mironga e outros poemas, 1978.

ARTIGOS E CRÍTICAS: América, 1942; Movimentos modernistas no Brasil, 1966.

PROSA: Notas de viagem: uma volta pelo mundo em trinta dias, 1960; Notas de um caderno sobre o Itamarati, 1960; Memórias de um embaixador, 1968; Coisas do Oriente, 1971; "Bopp passado a limpo" por ele mesmo, 1972; Samburá: notas de viagens & saldos literários, 1973; Vid e morte da antropofagia, 1977; Longitudes: crônicas de viagens, 1980.

EM COLABORAÇÃO: caminhos para o Brasil (com Américo R. Neto e Eng. Donald Derron), 1928; Geogragia mineral (com José Jobim), 1938. Sol e banana: notas sobre a economia no Brasil (com José Jobim), 1938.



Fonte: 100 Anos de Poesia - Um panorama da poesia brasileira no século XX

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails