terça-feira, 24 de setembro de 2013

Stendhal

Stendhal


1783 - Nasce em Grenoble, em 23 de janeiro, Henri Beyle, filho de Chérubin-Joseph Beyle e Caroline-Adelaide-Henriette Gagnon.

1790 - Morte da mãe.
1796 - Ingressa na escola de Grenoble.
1799 - Vai a Paris.
1800 - Viaja para a Itália como subtenente do 6. Regimento dos Dragões.
1802 - Deixa o exército. Volta a Paris.
1803- Adere aos "Ideólogos".
1804 -  Liga-se à atriz Mélanie Guilbert. Estabelece-se como comerciante na cidade de Marselha.
1806 - Volta a Paris e ingressa novamente no Exército.
1809 - Viaja a Viena.
1811 - Viaja à Itália.
1814 - Publica Vidas de Haydn, Mozart e Metastásio.
1817 - Publica História da Pintura na Itália e Roma, Nápoles e Florença.
1821 - Regressa a Paris.
1822 - Publica De Amor com o pseudônimo Stendhal.
1823 - Publica Racine e Shakespeare.
1827 - Publica Armance.
1830 - Publica Passeios em Roma.
1831 - Transferido como cônsul para Civitavecchia.
1832 - Conclui Lembranças de Egotismo, publicado postumamente.
1833 - Começa a escrever Lucien Leuwen.
1835 - Redige Vida de Henri Brulard.
1836 - Viaja a Paris.
1838 - Escreve Memórias de um Turista e A Cartuxa de Parma.
1842 - Em 22 de março tem um ataque apoplético, em Paris. Dia 23, às 2 horas da madrugada, morre.


(*) O Vermelho e o Negro
O Vermelho e o Negro é uma das obra-primas de Stendhal. O perfil psicológico e a vida de Julien Sorel, um dos personagens mais marcantes da literatura de todos os tempos, tem por fundo a França do período da restauração napoleônica, retratada ao mesmo tempo com agudo realismo e fantasia transfiguradora. O título, simbólico, evoca uma opção entre a carreira militar e a eclesiástica que se oferece ao herói, ele mesmo um símbolo, de certo modo, da idéia de vontade individual como força criadora dos acontecimentos, que anima a obra de Stendhal.



A neve cai em grossos flocos sobre Grenoble. Cobre de branco os telhados escuros e as ruas estreitas. Afugenta os transeuntes, interdita os passeios. No ardor da despedida, o pequeno grupo junto à diligência nem chega a sentir o frio. Henri Beyle está de partida para Paris: aspira conquistar o amor e a glória. Por certo, na capital sentirá falta das monanhas ao redor de Grenoble, e lamentará não ter a irmã, Pauline, o avô e o tio Romain a seu lado. Porém, em compensação não castigará os olhos com os feios traços da cidade natal. Olha para a irmã caçula, que espera indiferente pelo fim das despedidas. Perto dela, o Abade Raillane parece fitar Henri em reprovação. Entende essa viagem a Paris como uma fuga para a aventura. Teme que, sem religião nem disciplina moral, o jovem Beyle se perca. Só falta dizer adeus ao pai, que, emocionado, retém na sua a mão do filho, sem dizer uma palavra. Havia muito tempo Chérubin-Joseph Beyle perdera o hábito das confidências. As mágoas, as dificuldades e a morte precoce da esposa, em 1790, quando Henri tem apenas sete anos, o haviam endurecido ao longo da vida.

Soltando a mão do pai, contempla as casas escuras e as ruas estreitas, adivinhando as montanhas que a nevada encobre. Murmura um "adeus, Grenoble" e sobe na diligência, junto com o avô.

Com o velho doutor Gagnon aprende a admirar a beleza e a arte, e dele recebe tanto carinho como só sua mãe lhe havia dado. No canto da diligência, Henri Beyle se comove, pensando que em breve terá de despedir-se do avô. E, furtivamente, com o punho do casaco enxuga uma lágrima indiscreta.
O avô percebe-lhe o gesto, e, para distraí-lo, fala sobre os exames vestibulares e sobre o triunfo certo de seu exame na Escola Politécnica.

Mas no dia da prova, ainda cansado da viagem, Henri acorda tarde demais. Nem avô nem neto lamentam o fato; afinal, estudar engenharia fora apenas um pretexto para sair de Grenoble. O doutor Gagnon deixa o neto aos cuidados de um primo e parte. Por intermédio de Pierre Daru, homem de prestígio no governo de Napoleão, engaja-se no Exército e, em 1800, parte para a Itália.

Encanta-se com a beleza da paisagem e das mulheres.

Aaixona-se pela literatura e pela música, em particular pela ópera O Matrimônio Secreto, de Domenico Cimarosa.

Aborrecido com o Exército, em1802 desliga-se das armas, diz adeus a Angela Paietragrua, sua amada milanesa, e volta a Paris.

Apesar dos parcos recursos, Henri decide tornar-se um cavalheiro perfeito e põe-se a tomar lições de dança. Para ler Shakespeare no original, dedica-se ao estudo do inglês. Para conhecer as idéias da moda, frequenta os saões de Destutt de Tracy e lê as obras de Condillac. Mas estudos e exercícios não o fazem deixar de ser conquistador.

Corre o ano de 1804. Sua apaixão pela atriz Mélanie Guilbert o faz seguir-lhe os passos: muda-se ocm ela para Marselha e, para sobreviver, estabelece-se como comerciante. Tanto a temporada como a empresa comercial redundam em grande fracasso, e os amantes têm de se separar. Henri Beyle regressa a Paris, falido. O primo o readmite no Exército e confia-lhe uma intendência na Áustria, onde fica por dois anos. em 1810, aos 27 anos, volta a Paris, para logo em seguida partir em viagem para a Itália, a Rússia e a Alemanha. Outra vez de volta a Paris, presencia a tomada da capital pelas forças aliadas e a fuga de Napoleão, em 1814. Nada mais lhe resta fazer na França: rumo então para Milão, decidido a dedicar-se exclusivamente à literatura.

Data desses anos de derrocadas a publicação de Vidas de Haydn , Mozart e Metastásio, seu primeiro trabalho, com o pseudônimo de Bombet. Sua estréia literária provoca um grande escândalo. Giuseppe Carpani, escritor italiano, acusa-o de haver plagiado sua biografia de Haydn. Imediatamente, um certo Bombet Júnior, que se declara irmão mais novo do Bombet plagiador (e que na verdade era o mesmo Henri Beyle), acorre para defendê-lo. Pela imprensa consegue distorcer de tal modo os fatos que Carpani, verdadeiro autor da obra, acaba aparecendo aos olhos do público não só como mentiroso mas também como ladrão. O debate desperta a curiosidade dos leitores, e o livro revela-se um grande sucesso.

Três anos depois publica História da Pintura na Itália - mais um plágio - e Roma, Nápoles e Florença, evolução de suas lembranças de viagem. Porém as críticas e suas amizades com os liberais italianos despertam nos austríacos - que dominam boa parte do norte da Itália - a suspeita de que Beyle trama contra eles. Temendo ser preso, em 1821 volta a Paris. Está com 38 anos e deixa atrás de si mais um amor atormentado: Métilde Dembowski, "a maior de todas as dores que já sofrera".

A influência dos "ideólogos" revela-se claramente no tratado Do Amor, publicado em 1822 e primeira obra assinada com o pseudônimo Stendhal. Apesar da leveza do estilo, o ensaio não obtém sucesso.
Os anos seguintes vêem aparecer a Vida de Rossini (1823), um dos raros sucessos de Stendhal, e Racine e Shakespeare (1825), este considerado uma de suas obras mais importantes.

Fazendo jus à fama de conquistador, em 1824 liga-se a Clementine Curial, casada com um general de Napoleão. Durante dois anos vivem intensa paixão e as mágoas de sucessivas traições. Em setembro de 1826 o caso está terminado. Stendhal passa por uma crise terrível, que o coloca "à beira do suicídio".

A desilusão transparece em seu primeiro romance, publicado em 1827 aos 44 anos: Armance narra uma história de amor impossível, na qual o herói vai buscar a morte na bela paisagem da Grécia, e a heroína entra para o convento.

Stendhal não opta por nenhum desses caminhos para esquecer seu triste caso com Clementine. Lança-se, isso sim, nos braços de Alberte de Rubempré. Mas ao regressar de uma viagem à Espanha encontra-a nos braços de um amigo seu e desfaz a ligação. Vai procurar consolo nos encantos da italiana Giulia Rinieri de´Rochi. De Alberte e de Giulia Stendhal tira vários traços para compor a personagem de Matilde de La Mole, figura destacada de O Vermelho e o Negro.

O significado do título suscita muita discussão. Segundo alguns críticos, Stedhal quer representar o jogo da roleta. Outros vêem no vermelho o Exército, o sangue das batalhas, e no negro a Igreja, o preto das batinas. Há também os que consideram o negro uma alusão ao estado de seminarista do herói, e o vermelho o sangue que o embebe no cadafalso.

A publicação de O Vermelho e o Negro em 1830 coincide com a Revolução de Julho, que coloca no poder Luís Filipe. O novo rei envia Stendhal para Trieste, como cônsul. Porém a Áustria, que domina essa cidade na ocasião, recusa-se a aceitá-lo, temendo idéias liberais. Após cinco meses de espera, o escritor recebe ordens para assumir o consulado em Civitavecchia, próximo a Roma. O Vaticano não o vê com bons olhos, prova disso é que colocara Roma, Nápoles e Florença na lista dos livros proibidos.

Para evitar novos problemas, Stendhal decide não publicar nada enquanto estiver no exercício de funções oficiais; ms continua a escrever. Em 1832 conclui Lembranças de Egotismo, uma reconstituição de suas peripécias em Paris. No ano seguinte inicia a composição de Lucien Leuwen, romance que deixa inacabado, publicado postumamente em 1894. Talvez por não poder descrever os meios diplomáticos de Romas, onde deveria desenrolar-se a segunda parte do livro, Stendhal suspende a redação de Lucien Leuwen, que nunca mais retomaria, e começa a elaborar a Vida de Henri Brulard, minuciosa autobiografia que alguns críticos julgam ser sua obra-prima. Escondendo-se sob outro nome, Stendhal procura uma definição de si mesmo, após uma revisão o mais objetiva possível de seus atos e impulsos.

Em 1839 publica A Cartuxa de Parma, seu último romance, em que descreve o luminoso panorama italliano que tantas vezes palmilhara deslumbrado.

A Itália figura como personagem central nas Crônicas Italianas, escritas em Roma, cidade que Stendhal amarra sem o entusiasmo juvenil que o prendera a Milão, mas com uma terra melancolia.
Encontra ali o ambiente perfeito para esperar com serenidade a velhice e a morte e tentar reconstituir os fatos de sua vida. As Crônicas não focalizam nem as artes nem a beleza da paisagem, mas o elemento humano, disposto nas diferentes camadas sociais que Stendhal analisa.

Ao elaborar essas últimas obras Stendhal sente-se só e desamparado. Não conta mais com o forte primo Daru. As mulheres se afastam, seus livros não alcançam mais grande sucesso. Stendhal não havia escrito para o grande público; como dizia, sua literatura se dirigia para os séculos seguintes: "Posso fazer uma obra que não agrade a ninguém e que será reconhecida como bela no ano 2000". Um dos poucos a compreendê-lo em seu próprio tempo é Balzac, cujo artigo elogioso sobre A Cartuxa de Parma constitui uma das últimas alegrias de Stendhal.

O coração enfraquecido não lhe dá mais muito tempo de vida. Em 15 de março de 1841 sofre um primeiro ataque. Apressado, deixa Civitavecchia e retorna à França: quer morrer em sua pátria. É mês de outubro. É outono em Paris.

Cinco meses mais tarde, em 22 de março de 1842, anda pela Rua Neuve des Capucines quando cai sob um fulminante ataque de apoplexia.

Transportado para o hotel, falece na madrugada do dia seguinte. O amigo Romain Colomb providencia os serviços fúnebres, realizados na igreja de Assunção. Com mais duas pessoas apenas, acompanha o féretro até o cemitério de Montmartre. Ali repousa o homem ambicioso e ávido de amor, o escritor orgulhoso que escrevera para gerações futuras. Em vida, não conhecera a glória. Após a morte, consagra-se como um dos maiores autores do século dezenove.

Fonte: coleção obras-primas - grandes autores - vida e obra.

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