Choderlos de Laclos |
1759 - Laclos entra para a Escola de Artilharia de La Fère.
1763 - Liga-se ao regimento de Toul.
1769 - Sere em Grenoble.
1779 - Destacado para a ilha de Aix.
1782 - Publica As Relações Perigosas (*).
1783 - Em La Rochelle, seduz Marie-Soulange Duperré.
1784 - Com a ajuda de Marie-Soulange escreve A Educação das Mulheres. A srta. Duperré dá à luz um filho, Étienne.
1785 - É eleito membro da Academia de La Rochelle.
1786 - Casa-se com a srta. Duperré e reconhece seu filho.
1788 - Deixa o Exército e entra para o serviço do duque de Orléans. Nasce Soulange, sua segunda filha.
1789 - Acompanha o duque de Orléans a Londres.
1790 - Retorna à França e torna-se membro do Clube dos Jacobinos.
1792 - Em Toulouse, torna-se chefe do Estado-Maior do Exército dos Pireneus, com o grau de general.
1793 - É preso em 1. de abril por ser considerado um orleanista. Em 10 de maio tem decretada sua prisão domiciliar.
1794 - É libertado em 3 de dezembro.
1795 - Nasce seu terceiro filho, Charles. É nomeado secretário-geral das Hipotecas.
1800 - É reintegrado ao Exército com o grau de general-de-brigada. Em abril é designado para o Exército do Reno. Em agosto é designado para o Exército da Itália.
1801 - Volta a Paris.
1803 - É designado para Tarento, quartel-general francês no sul da Itália. Morre no dia 5 de setembro.
(*) As Relações Perigosas
Obra-prima de análise e elaboração narrativa, As Relações Perigosas é o único livro importante de Laclos, observador perspicaz dos costumes de sua época, final do século XVIII. A estrutura do romance, com suas sutilezas de construção e desenvolvimento, valoriza as características dos personagens. Espécie de manual maquiavélico erótico, é um verdadeiro estudo psicológico da alma humana. Esta obra está entre o que de melhor já se produziu na literatura francesa e mundial.
Paris, século XVIII. Numa mesa de canto no Café de la Régence, Diderot discute, com outros literatos e filósofos, o assunto do dia: como apressar a transformação social que a França vem sofrendo. O poder real está bastante desacreditado, mas para se chegar à Revolução é preciso destruir, de uma vez por todas, os privilégios dos aristocratas. Ao mesmo tempo, no café Procope, Voltaire elogia a física de Newton e discorre sobre a Razão. Numa mesa próxima, um pequeno grupo também defende a Razão, porém aliada ao Sentimento, e enaltece a vida simples e virtuosa, em contato com a natureza, como prega Rousseau, o grande pensador do Iluminismo.
Obra-prima de análise e elaboração narrativa, As Relações Perigosas é o único livro importante de Laclos, observador perspicaz dos costumes de sua época, final do século XVIII. A estrutura do romance, com suas sutilezas de construção e desenvolvimento, valoriza as características dos personagens. Espécie de manual maquiavélico erótico, é um verdadeiro estudo psicológico da alma humana. Esta obra está entre o que de melhor já se produziu na literatura francesa e mundial.
Paris, século XVIII. Numa mesa de canto no Café de la Régence, Diderot discute, com outros literatos e filósofos, o assunto do dia: como apressar a transformação social que a França vem sofrendo. O poder real está bastante desacreditado, mas para se chegar à Revolução é preciso destruir, de uma vez por todas, os privilégios dos aristocratas. Ao mesmo tempo, no café Procope, Voltaire elogia a física de Newton e discorre sobre a Razão. Numa mesa próxima, um pequeno grupo também defende a Razão, porém aliada ao Sentimento, e enaltece a vida simples e virtuosa, em contato com a natureza, como prega Rousseau, o grande pensador do Iluminismo.
Desde meados do século anterior os cafés multiplicam-se rapidamente por Paris, tornando-se ponto de encontro de artistas, intelectuais e filósofos que se ocupam em discutir o presente e programar o futuro do país. Vivem eles um dos períodos mais movimentados da história da França.
Nessa França, fervilhante de idéias, ação e transformação, vem ao mundo Pierre-Ambroise-François Choderlos de Laclos, em 18 de outrubro de 1741, em Amiens, filho de Jean-Ambroise Choderlos de Laclos e de Marie-Catherine Galois. Sua família, embora modesta pertence à nobreza, possui elevada cultura e revela forte gosto pelas letras. Até a adolescência o pequeno Pierre-Ambroise recebe uma educação cuidada e vive com tranquilidade, carinho e afeto na casa de seus pais.
Em 1756 explode a Guerra dos Sete Anos. As tropas francesas combatem em toda a Europa, acumulando sucessivos fracassos. Apesar do panorama desfavorável do Exército francês, Laclos sente-se atraído pela carreira militar e ingressa no corpo de artilharia.
Em 1759, aos dezoito anos, é nomeado aspirante na Escola de Artilharia de La Fère. Ao formar-se, incorpora-se na brigada das colônias destinada a expedições à Índia e ao Canadá. As viagens não chegam a se realizar. Pelo Tratado de Paris, firmado no fim da Guerra dos Sete Anos, a França perde seus poderes sobre aqueles dois países, que passam a pertencer à Inglaterra.
Laclos e seu regimento partem para Toul em 1763. Três anos mais tarde transferem-se para Steasburgo; logo depois estão em Grenoble. Por mais ativa que fosse, a vida militar deixa aos oficiais muito tempo ocioso. Laclos aproveita-o para frequentar a sociedade e escrever poesias. Nem dramas nem excessos marcam o período de sua juventude. Durante os sete anos que passa em Grenoble, seus superiores não se cansam de lançar-lhe elogios. Mas Laclos parte para Valence e leva consigo o romance Ernestine, considerado a obra-prima de uma amiga, sra. Riccoboni. Lá, o transforma em ópera cômica e o encena em 1777.
O prestígio literário da sra. Riccoboni atrai para o teatro a mais alta aristocracia francesa. A estréia, no entanto, redunda em completo fracasso. A platéia vaia do princípio ao fim.
Ainda com as vaias ecoando-lhe nos ouvidos, Laclos deixa Paris e volta ao quartel, onde sua reputação de oficial competente e devotado se mantém intata.
Corre o anod e 1779. Choderlos está com 38 anos, e é encarregado de construir uma fortaleza na ilha de Aix, apesar de ele sonhar com a guerra. As forças francesas, em luta pela independência das colônias inglesas na América, enfrentam os exércitos britânicos. Passam-se três anos de luta, e os vencedores voltam cobertos de glórias. Quanto a Laclos, tudo que conquistara foram elogios - e críticas - pela construção da fortaleza de Aix e o posto de capitão-comandante, encarregado de complexas missões.
Mas ser apenas militar não lhe basta mais. Quer fazer algo maior, como escrevr um livro "qeu fizess escândalo e fosse comentado mesmo depois de sua morte". No dia 4 de setembro de 1781 pede seis meses de afastamento para dedicar-se à tarefa. No dia 23 de março de 1782 As Relações Perigosas está à venda.
Sucesso imediato. Satiricamente retratada, a aristocracia reage com indignação.
Escrito sob a forma de cartas trocadas entre os personagens, As Relações Perigosas mostra a decadência moral da sociedade aristocrata do século XVIII. A intenção do autor aparece claramente expressa no frontispício do romance, onde se lê: "As Relações Perigosas, ou Cartas Recolhidas em uma Sociedade e Publicadas para a Instrução de Algumas Outras". Em seguida há a citação de Rousseau, tirada do prefácio da Nouvelle Héloise: "Vi os costumes de meu tempo e publiquei estas cartas".
Ao tomar conhecimento de As Relações Perigosas, o marechal de Ségur, ministro do Exército, ordena o retorno imedito do escritor para o seu regimento, que então se encontra em Brest. Duro golpe para Laclos. Não suporta a idéia de trocar os prazeres da glória pelos deveres do quartel. Graças à interferência do marquês de Montalembert, consegue do ministro um posto em La Rochelle. Ali conhece a jovem Marie-Soulange Duperré. É ela que o ajuda na elaboração de A Educação das Mulheres, ensaio em que defende a igualdade entre os sexos e que seria publicado apenas em 1903.
Usando de todo o conhecimento sobre a arte de seduzir, Laclos conquista a jovem em 1783, apesar da diferença de idade - está com 42 anos, e ela, com dezoito. Só se casariam, contudo, em 1786, dois anos após o nascimento de seu primeiro filho, Étienne.
Logo após o casamento, Laclos faz circular por Paris e La Rochelle uma carta dirigida "aos senhores da Academia Francesa" na qual se manifesta contra os elogios daquela instituição ao marechal de Vauban, considerado um mestre em fortificações e um verdadeiro deus para o Exército francês. Em resposta a Laclos, o ministro da Guerra retira-lhe o direito de gozar um mês de afastamento pelas núpcias e ordena-lhe que se reintregue imediatamente às tropas, então em Metz. Laclos permanece no Exército até outubro de 1788, quando seu regimento é transferido para La Fère e ele passa a trabalhar para o duque Orléans. Em pouco tempo torna-se o único conselheiro de seu amo. Ativo e cauteloso, observa o que se passa ao redor e age em segredo, ampliando suas ligações com grupos revolucionários e frequentando três clubes, onde se reúnem alguns dos homens mais importantes do movimento.
O inverno que precede a Revolução é o pior do século. A colheita fora desastrosa, e o povo passa fome. Seguindo os conselhos de Laclos, Filipe de Orleans faz largos gestos filantrópicos, e em pouco tempo torna-se um ídolo do povo. Mas seus ideais de transformação política e social não encontram ressonância nso comandantes da Revolução, que consideram perigosa sua popularidade. A Luís XVI tampouco agradam os atos do duque. Para distanciá-lo da corte, envia-o a Londres. Corre o ano de 1789, e Laclos acompanha o duque.
Durante a estada em Londres, Filipe de Orléans dedica-se a resolver seus problemas financeiros. A Laclos, ninguém vê. Fechado em seu gabinete de trabalho, encarrega-se da correspondência do duque e, ao mesmo tempo, prepara uma retirada honrosa para si próprio.
Mas em 5 de fevereiro de 1790 é assinada a aliança entre Inglaterra, Prússia e Holanda.
Depois de tentar em vão obter o cargo de embaixador em Londres, o duque de Orléans resolve voltar à França. Encontra Paris tumultuada: a Revolução explodira em 1789. pessoalmente, nada sofre. Na assembléia, recebe calorosos aplausos da ala esquerda. Laclos continua a seu lado, embora sua importância houvesse diminuído bastante, assim como seu salário. Laclos, então, lança-se abertamente na política, acreditando que só mesmo da Revolução poderia esperar alguma coisa. Adere à Sociedade dos Amigos da Constituição e passa a fazer parte do Clube dos Jacobinos, centro de reunião de um grupo de revolucionários.
Luís XVI acompanha atentamente a evolução dos acontecimentos no reino, prevendo a violência que se desencadearia. O soberano resolve deixar as Tulherias para a Semana Santa em Saint-Cloud. No caminho, é barrado por populares enraivecidos. Na manhã seguinte toda a imprensa monarquista ataca Laclos, acusando-o de haver incitado o povo a impedir a viagem de Luís XVI. Sua reputação cai sensivelmente.
Em 21 de junho de 1792 Paris amanhece sem rei: é constatada a fuga de Luís XVI. Num célebre reunião dos jacobinos, Laclos propõe elaborar-se uma petição assinada por milhares de cidadãos para ser enviada à Assembléia, declarando vago o trono. A Assembléia recusa a proposta. Desgostoso com a política, ele não vê outra solução a não ser voltar para a vida militar: por meio de indicações, consegue o posto de comissário do poder executivo em Châlons, onde as forças francesas enfrentam os exércitos da Prússia. Sob suas ordens, a França conquista a importante vitória de Valmy.
No dia 22 de setembro de 1792 é proclamada a República. Laclos, aos 52 anos, é nomeado chafe do Estado-Maior do Exército dos Pireneus, e parte com a família para Toulouse. Após envolver-se em discussões políticas, é designado governador-geral dos estabelecimentos franceses da Índia. Há tempos ele vem solicitando essa colocação. O outro lado do mar seria, na realidade, sua única salvação: como colaborador do duque de Orléans, angariara o ódio de todos. A mudança para a Índia, porém, não se realiza.
A situação de Filipe de Orléans não é menos complicada: é preso, julgado e condenado à guilhotina. Laclos, cujo nome sempre estiver aligado ao orleanismo, também é preso, mas graças à influência de um velho amigo do tempo de La Rochelle, o escritor é transferido do cárcere para a prisão domiciliar. Pouco tempo depois, contudo, recebe nova ordem de prisão. Em 3 de dezembro de 1794 é novamente libertado.
Suas amizades lhe garantem um emprego que lhe permite viver como um burguês. Nomeado general-de-brigada em 27 de fevereiro de 1800, Laclos, aos 59 anos e com os membros paralisados pelo reumatismo, solicita um posto ativo, e é designado para o Exército do Reno. Em abril do mesmo ano serve na Basiléia, e em junho é indicado para um comando em Grenoble. Permanece ali durante pouco mais de um mês: em agosto transfere-se para a Itália, com todos os seus homens, cavalos e material. Retorna à França em 1801, onde fica, por três meses, junto da mulher e dos filhos - "o grande Étienne, a esperta Soulange e o gordo Charles". No ano seguinte porém, como membro do Comitê de Artilharia, sua atividade volta a ser intensa.
Na primavera de 1803, aos 62 anos, recebe ordens de partir para São Domingos, a fim de combater os negros amotinados. De última hora é alterado seu roteiro: deve ir para Tarento, sul da Itália, região de prais quentes e pantanosas, onde grassam as febres mais temidas que os soldados inimigos. Ao cabo de uma longa e penosa viagem, por estradas horríveis e sob um sol tórrido, chega finalmente a seu destino. Vítima de disenteria, Lalcos fica preso ao leito desde o dia 2 de agosto até a hora de sua morte. Não tem mais forças nem para escrever. Seu ajudante-de-campo trata-o como "o filho mais dedicado". O soldado velho e cansado pressente que vai morrer. Em nenhum momento pronuncia o nome de Deus. Em lugar de preocupar-se com o futuro misterioso, volta-se para a vida que ficará atrás de si, única realidade que pode conceber. Dita para a mulher conselhos detalhados sobre a administração a ser dada à sua pequena fortuna e sobre o futuro dos filhos. Envia cartas a Marmont e Bonaparte, pedindo-lhes que cuidem de sua família. No dia 5 de setembro de 1803, após 35 dias de doença, morre o autor de As Relações Perigosas. Gouvion Saint-Cyr manda sepultá-lo na pequena ilha de São Pedro, diante da enseada de Tarento, no meio de um forte qeu recebe o nome de Laclos. Diz-se, porém, que em 1815 suas cinzas foram espalhadas ao vento.
Fonte: coleção obras-primas - grandes autores - vida e obra.
Laclos e seu regimento partem para Toul em 1763. Três anos mais tarde transferem-se para Steasburgo; logo depois estão em Grenoble. Por mais ativa que fosse, a vida militar deixa aos oficiais muito tempo ocioso. Laclos aproveita-o para frequentar a sociedade e escrever poesias. Nem dramas nem excessos marcam o período de sua juventude. Durante os sete anos que passa em Grenoble, seus superiores não se cansam de lançar-lhe elogios. Mas Laclos parte para Valence e leva consigo o romance Ernestine, considerado a obra-prima de uma amiga, sra. Riccoboni. Lá, o transforma em ópera cômica e o encena em 1777.
O prestígio literário da sra. Riccoboni atrai para o teatro a mais alta aristocracia francesa. A estréia, no entanto, redunda em completo fracasso. A platéia vaia do princípio ao fim.
Ainda com as vaias ecoando-lhe nos ouvidos, Laclos deixa Paris e volta ao quartel, onde sua reputação de oficial competente e devotado se mantém intata.
Corre o anod e 1779. Choderlos está com 38 anos, e é encarregado de construir uma fortaleza na ilha de Aix, apesar de ele sonhar com a guerra. As forças francesas, em luta pela independência das colônias inglesas na América, enfrentam os exércitos britânicos. Passam-se três anos de luta, e os vencedores voltam cobertos de glórias. Quanto a Laclos, tudo que conquistara foram elogios - e críticas - pela construção da fortaleza de Aix e o posto de capitão-comandante, encarregado de complexas missões.
Mas ser apenas militar não lhe basta mais. Quer fazer algo maior, como escrevr um livro "qeu fizess escândalo e fosse comentado mesmo depois de sua morte". No dia 4 de setembro de 1781 pede seis meses de afastamento para dedicar-se à tarefa. No dia 23 de março de 1782 As Relações Perigosas está à venda.
Sucesso imediato. Satiricamente retratada, a aristocracia reage com indignação.
Escrito sob a forma de cartas trocadas entre os personagens, As Relações Perigosas mostra a decadência moral da sociedade aristocrata do século XVIII. A intenção do autor aparece claramente expressa no frontispício do romance, onde se lê: "As Relações Perigosas, ou Cartas Recolhidas em uma Sociedade e Publicadas para a Instrução de Algumas Outras". Em seguida há a citação de Rousseau, tirada do prefácio da Nouvelle Héloise: "Vi os costumes de meu tempo e publiquei estas cartas".
Ao tomar conhecimento de As Relações Perigosas, o marechal de Ségur, ministro do Exército, ordena o retorno imedito do escritor para o seu regimento, que então se encontra em Brest. Duro golpe para Laclos. Não suporta a idéia de trocar os prazeres da glória pelos deveres do quartel. Graças à interferência do marquês de Montalembert, consegue do ministro um posto em La Rochelle. Ali conhece a jovem Marie-Soulange Duperré. É ela que o ajuda na elaboração de A Educação das Mulheres, ensaio em que defende a igualdade entre os sexos e que seria publicado apenas em 1903.
Usando de todo o conhecimento sobre a arte de seduzir, Laclos conquista a jovem em 1783, apesar da diferença de idade - está com 42 anos, e ela, com dezoito. Só se casariam, contudo, em 1786, dois anos após o nascimento de seu primeiro filho, Étienne.
Logo após o casamento, Laclos faz circular por Paris e La Rochelle uma carta dirigida "aos senhores da Academia Francesa" na qual se manifesta contra os elogios daquela instituição ao marechal de Vauban, considerado um mestre em fortificações e um verdadeiro deus para o Exército francês. Em resposta a Laclos, o ministro da Guerra retira-lhe o direito de gozar um mês de afastamento pelas núpcias e ordena-lhe que se reintregue imediatamente às tropas, então em Metz. Laclos permanece no Exército até outubro de 1788, quando seu regimento é transferido para La Fère e ele passa a trabalhar para o duque Orléans. Em pouco tempo torna-se o único conselheiro de seu amo. Ativo e cauteloso, observa o que se passa ao redor e age em segredo, ampliando suas ligações com grupos revolucionários e frequentando três clubes, onde se reúnem alguns dos homens mais importantes do movimento.
O inverno que precede a Revolução é o pior do século. A colheita fora desastrosa, e o povo passa fome. Seguindo os conselhos de Laclos, Filipe de Orleans faz largos gestos filantrópicos, e em pouco tempo torna-se um ídolo do povo. Mas seus ideais de transformação política e social não encontram ressonância nso comandantes da Revolução, que consideram perigosa sua popularidade. A Luís XVI tampouco agradam os atos do duque. Para distanciá-lo da corte, envia-o a Londres. Corre o ano de 1789, e Laclos acompanha o duque.
Durante a estada em Londres, Filipe de Orléans dedica-se a resolver seus problemas financeiros. A Laclos, ninguém vê. Fechado em seu gabinete de trabalho, encarrega-se da correspondência do duque e, ao mesmo tempo, prepara uma retirada honrosa para si próprio.
Mas em 5 de fevereiro de 1790 é assinada a aliança entre Inglaterra, Prússia e Holanda.
Depois de tentar em vão obter o cargo de embaixador em Londres, o duque de Orléans resolve voltar à França. Encontra Paris tumultuada: a Revolução explodira em 1789. pessoalmente, nada sofre. Na assembléia, recebe calorosos aplausos da ala esquerda. Laclos continua a seu lado, embora sua importância houvesse diminuído bastante, assim como seu salário. Laclos, então, lança-se abertamente na política, acreditando que só mesmo da Revolução poderia esperar alguma coisa. Adere à Sociedade dos Amigos da Constituição e passa a fazer parte do Clube dos Jacobinos, centro de reunião de um grupo de revolucionários.
Luís XVI acompanha atentamente a evolução dos acontecimentos no reino, prevendo a violência que se desencadearia. O soberano resolve deixar as Tulherias para a Semana Santa em Saint-Cloud. No caminho, é barrado por populares enraivecidos. Na manhã seguinte toda a imprensa monarquista ataca Laclos, acusando-o de haver incitado o povo a impedir a viagem de Luís XVI. Sua reputação cai sensivelmente.
Em 21 de junho de 1792 Paris amanhece sem rei: é constatada a fuga de Luís XVI. Num célebre reunião dos jacobinos, Laclos propõe elaborar-se uma petição assinada por milhares de cidadãos para ser enviada à Assembléia, declarando vago o trono. A Assembléia recusa a proposta. Desgostoso com a política, ele não vê outra solução a não ser voltar para a vida militar: por meio de indicações, consegue o posto de comissário do poder executivo em Châlons, onde as forças francesas enfrentam os exércitos da Prússia. Sob suas ordens, a França conquista a importante vitória de Valmy.
No dia 22 de setembro de 1792 é proclamada a República. Laclos, aos 52 anos, é nomeado chafe do Estado-Maior do Exército dos Pireneus, e parte com a família para Toulouse. Após envolver-se em discussões políticas, é designado governador-geral dos estabelecimentos franceses da Índia. Há tempos ele vem solicitando essa colocação. O outro lado do mar seria, na realidade, sua única salvação: como colaborador do duque de Orléans, angariara o ódio de todos. A mudança para a Índia, porém, não se realiza.
A situação de Filipe de Orléans não é menos complicada: é preso, julgado e condenado à guilhotina. Laclos, cujo nome sempre estiver aligado ao orleanismo, também é preso, mas graças à influência de um velho amigo do tempo de La Rochelle, o escritor é transferido do cárcere para a prisão domiciliar. Pouco tempo depois, contudo, recebe nova ordem de prisão. Em 3 de dezembro de 1794 é novamente libertado.
Suas amizades lhe garantem um emprego que lhe permite viver como um burguês. Nomeado general-de-brigada em 27 de fevereiro de 1800, Laclos, aos 59 anos e com os membros paralisados pelo reumatismo, solicita um posto ativo, e é designado para o Exército do Reno. Em abril do mesmo ano serve na Basiléia, e em junho é indicado para um comando em Grenoble. Permanece ali durante pouco mais de um mês: em agosto transfere-se para a Itália, com todos os seus homens, cavalos e material. Retorna à França em 1801, onde fica, por três meses, junto da mulher e dos filhos - "o grande Étienne, a esperta Soulange e o gordo Charles". No ano seguinte porém, como membro do Comitê de Artilharia, sua atividade volta a ser intensa.
Na primavera de 1803, aos 62 anos, recebe ordens de partir para São Domingos, a fim de combater os negros amotinados. De última hora é alterado seu roteiro: deve ir para Tarento, sul da Itália, região de prais quentes e pantanosas, onde grassam as febres mais temidas que os soldados inimigos. Ao cabo de uma longa e penosa viagem, por estradas horríveis e sob um sol tórrido, chega finalmente a seu destino. Vítima de disenteria, Lalcos fica preso ao leito desde o dia 2 de agosto até a hora de sua morte. Não tem mais forças nem para escrever. Seu ajudante-de-campo trata-o como "o filho mais dedicado". O soldado velho e cansado pressente que vai morrer. Em nenhum momento pronuncia o nome de Deus. Em lugar de preocupar-se com o futuro misterioso, volta-se para a vida que ficará atrás de si, única realidade que pode conceber. Dita para a mulher conselhos detalhados sobre a administração a ser dada à sua pequena fortuna e sobre o futuro dos filhos. Envia cartas a Marmont e Bonaparte, pedindo-lhes que cuidem de sua família. No dia 5 de setembro de 1803, após 35 dias de doença, morre o autor de As Relações Perigosas. Gouvion Saint-Cyr manda sepultá-lo na pequena ilha de São Pedro, diante da enseada de Tarento, no meio de um forte qeu recebe o nome de Laclos. Diz-se, porém, que em 1815 suas cinzas foram espalhadas ao vento.
Fonte: coleção obras-primas - grandes autores - vida e obra.
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