O que me sobra
Hoje o dia foi extremamente longo e proveitoso porque me dediquei parte dele à família e outra parte ao trabalho que foi bastante rendoso. No retorno para casa ainda fiz um sacolão no centro da cidade, voltei de táxi porque obviamente o dono do carro branco da casa como das últimas vezes não foi me buscar e o filho motorista também não podia (o que é diferente de não queria, menos mal). Após arrumar as coisas na geladeira, lavar ovos e sucos, uma tentativa falha de passar, um banho, um café, encher a máquina, descobri que o lixo não fora tirado pelos homens da casa. Já saindo para a rua para colocar créditos para os bons filhos eis que o saco de lixo rasga e derrama um caldo frio em meus pés que voltaram ao tanque, à toalha de banho, enfim, ganhei a rua, o quarteirão, a farmácia. Chego em casa, alguns minutos vãs tentando ver se a cria pequena nota a presença de 'alguém' que entrou em casa, neste caso, eu, e enfim, pensei: subindo para descansar. Minha eterna mania de retirar a lixeira do banheiro foi maior á subida da escada. Enfim, olhei o lixo e pensei: vai que o lixeiro ainda não passou... caminhei ao portão novamente e depositei o lixo sob os outros e quando passo a chave no portão notei que algo, parecia um bicho agachou e começou revirá-lo. Abri o portão e vi que uma mulher pequena, baixa, morena, uns trinta e poucos anos já ganhava o lixo da vizinha do outro lado da rua. Ela me olhou e disse: não tenho vergonha não, vivo disto. Então eu falei: a senhora recicla... tenho material aqui para reciclar. Lembrei que talvez fizesse também como no documentário lixo extraordinário.Ela voltou e disse: Deus do céu, não acredito. Eu fechei o portão e trouxe meu material de reciclagem que levo à empresa mas ela se decepcionou. E eu mais ainda com ela porque o lixo estava destroçado. Ela pegou um potinho de creme com um dedo no fundo e me mostrou: olhe este, é disto que vivo. Este está bonzinho. Não entendi bem, mas notei que ela precisava de coisas que continham restos. Talvez material de higiene. Então voltei e catei os restos de cremes que estavam no tanque a mais de ano e ninguém usava para amaciar as mãos enquanto usa a área de serviço, peguei mais algum shampoo, potes, desodorantes e umas roupas. Ela brilhou o olho e me agradeceu tanto tanto que acho que em um culto não ouvi tanto o nome de Deus. Fiquei pensando que eu reclamava por ter lixo para colocar para fora e tantos não reclamam por carregar para dentro de suas casas o lixo dos outros. A mulher agachada no lixo me aguardava e parecia uma loba, essa foi a impressão. Sua lembrança resgatou uma caixa perdia em minha memória estudantil. Uma vez na faculdade de Letras o colega de classe, Sabino, que virou prefeito da cidade de Rio das Ostras escreveu uma poesia vencedora do concurso de poesia, sobre o Lobishomem que era assim, um homem no lixo. Depois que ela se foi fiquei pensando que ela levou cremes e roupa mas será que queria comida... nem deu tempo de perguntar, ela parecia ter ganho o trabalho de uma semana em minha porta e foi somente o que me sobra, como tantas outras coisas.
Dias comuns podem se tornar dias marcantes...talvezpor sua simplicidade.abraços pr ati
ResponderExcluirAdorei seu blog, obrigada por me seguir!
ResponderExcluirLia Noronha,
ResponderExcluirQue alegria tua presença.
Verdade, tem dias que são tão complexos que almejamos sua simplicidade.
Abraços.
Andie,
ResponderExcluirTambém me identifiquei muito com teu espaço.
Obrigada por comentar.