Dostoiévski |
1821 - Em 30 de outubro, em Moscou, nasce Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski.
1837 - Morre a mãe de Dostoiévski. Transfere-se para São Peterburgo e ingressa na Escola de Engenharia Militar.
1839 - Seu pai é assassinado.
1841 - Inicia as obras Bóris Godunov e Maria Stuart, mas não as conclui.
1843 - Passa a trabalhar na seção de Engenharia de São Petersburgo. Traduz Eugênia Grandet, de Balzac, e Dom Carlos, de Schiller.
1844 - Dostoiévski demite-se do cargo público para se dedicar à literatura.
1845 - Publica Pobre Gente.
1847 - Sai a segunda edição de Pobre Gente. Sofre uma crise de epilepsia.
1848 - Publica o romance O Duplo.
1849 - É preso e condenado à morte. Comutada a pena, parte para a Sibéria.
1854 - É incorporado como soldado raso em uma guarnição siberiana.
1857 - Casa-se com Maria Dimítrievna Issáievna.
1859 - Volta a São Petersburgo.
1861 - Publica Recordações da Casa dos Mortos. Funda o jornal O Tempo.
1862 - Viaja ao exterior com a jovem Polina Súslova.
1863 - Retorna à Rússia.
1864 - Funda o periódico A Época. Morrem sua esposa e seu irmão.
1867 - Dostoiévski casa-se com Ana Grigórievna. Publica Crime e Castigo (*).
1868 - Nasce a primeira filha.
1871 - Volta a São Petersburgo e publica Os Possessos.
1874 - Publica O Adolescente e Diário de um Escritor.
1880 - Publica Os Irmãos Karamázovi.
1881 - Morre em 28 de janeiro, e é sepultado três dias depois no Cemitério Alieksandr Niévski, em São Petersburgo.
(*) Crime e Castigo
Dostoiévski parece ter se inspirado em seu sofrimento ao escrever Crime e Castigo. Nesse livro, cujo cenário retrata os becos sombrios e vielas com imensos casarões de São Petersburgo, bem como a paisagem desolada da Sibéria, estão presentes o interesse permanente pelo problema moral do crime e todas as contradições da época em que viveu Dostoiévski, considerado um dos maiores escritores russos de todos os tempos.
Em junho de 1812 a Rússia é invadida pelas tropas napoleônicas, e a elas se rende após sanguenta batalha. Após cinco semanas numa Moscou incendiada, abandonada por seus moradores, tem início a famosa retirada do Grande Exército, ordenada por Napoleão. Mas as tropas russas seguem-lhe as pegadas atá a Alemanha, e nesse país travam diversas batalhas. A perseguição continua até Paris, onde, no mês de março de 1814, Alexandre I entra triunfalmente.
De volta à Rússia, jovens oficiais se impressionam com os abusos da burocracia, com a arbitrariedade do governo, com o sofrimento dos servos, com juízes corruptos, entre outros desmandos. Algumas sociedades secretas começam a se organizar para reverter a situação, e até 1820 ocorrem vários movimentos revolucionários por todo o país.
Nesa Rússia conturbada, na cidade de Moscou, nasce Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski, em outubro de 1821, descendente de uma aristocrática família lituana, porém agora sem fortuna alguma.
O pequeno Dostoiévski cresce em meio à pobreza e a pessoas doentes; seu pai é médico em um sanatório para pobres em Moscou, e é aí que reside a família.
Além das condições materiais bastante adversas, ainda lhe amarguram a vida o temperamento despótico e brutal do pai, que vive aos gritos com ele, e a passividade triste e nervosa de sua mãe, Maria Fiódorovna Nietcháieva. Martiirzado, o menino alimenta a esperança de que o pai morra o que chega a pedir a Deus em suas preces. Contudo, quem morre é sua mãe, que não resite a tantos sofrimentos.
Viúvo, Mikhail dedica-se com mais afinco ao trabalho e resolve mandar o filho para a escola militar de engenharia, em São Petersburgo, atual Leningrado E é ali entre exercícios de campanha e cálculos matemáticos, que o adolescente Fiódor descobre o prazer da literatura. Entrega-se febrilmente à leitura, e fica impressionado com Schiller, Dickens, George Sand e Balzac. As idéias de muitos escritores de séculos anteriores, como Byron, Shakespeare e Cervantes, e de seu contemporâneo Victor Hugo, mais tarde influenciariam suas obras.
A inesperada notícia do assassinato do pai, em 1839, acaba pesando na consciência do jovem Fiódor, que tanto rezara para ver-se livre dele. Amargurado, angustiando pelo remorso, sentindo-se responsável por toda a miséria do ser humano, ele busca se redimir por meio da criação literária. Aos vinte anos começa a escrever Bóris Godunow e Maria Stuart, que não só refletem a preocupação de seguir a moda romântica como também sua problemática pessoal: o primeiro é a história de um tirano, como seu pai, e o segundo é o drama de uma rainha infeliz e injustiçada, como sua mãe. Fiódor não conclui nenhuma das duas obras.
Em 1843 termina os estudos e vai servir como alferes na seção de Engenharia de São Petersburgo. Nessa mesma época traduz duas obras românticas: Eugênia Grandet, de Victor Hugo, e a peça Dom Carlos, de Schiller. No ano seguinte, ainda tentando seguir os padrões do romantismo, Dostoiévski começa a elaborar Pobre Gente, novela que descreve o ambiente medíocre em que vive. Por fim, cada vez mais fascinado pela literatura, demite-se do cargo público para dedicar-se inteiramente à carreira de escritor.
Publicada em 1845, Pobre Gente transforma-se em grande sucesso de público e de crítica, o que o encoraja a escrever com mais afinco. Em 1847, ano em que sai a segunda edição de Pobre Gente, sofre uma série crise de epilepsia. No ano seguinte publica O Duplo, romance que não obtém o mínimo sucesso literário.
A fase de glória parece estar chegando ao fim, a fama começa a declinar: os críticos e autoridades literárias russas quer tanto o haviam elogiado chegam a confessar de público que se enganaram e que haviam exaltado equivocadamente seu talento literário.
Tão inesperada mudança de opinião isola Dostoiévski do convívio geral. É tomado então por repentinas dúvidas a respeito da própria capacidade e de qual seria sua real vocação.
Em 1848 Dostoiévshi, aos 21 anos, começa a frequentar um grupo socialista revolucionário em São Petersburgo, do qual passa a fazer parte. Mais tarde, no entanto, no livro Os Possessos, denunciaria o clima de violência e niilismo vigente entre os revolucionários, acusando-os de agir sobretudo movidos pelo tédio e de viverem inutilmente à custa dos servos.
Antes do rompimento com o grupo, porém, o escritor já se havia comprometido em favor do socialismo, em seus discursos públicos. Denunciado juntamente com os companheiros de grupo, é preso e condenado à morte por fuzilamento.
Já no patíbulo, no momento em que se iria cumprir a sentença, um toque de clarim interrompe a execução. Para incredulidade e imenso alívio dos réus, o auditor imperial anuncia que Nicolau I mudara de idéia e que a pena de morte fora comutada em prisão perpétua com trabalhos forçados na Sibéria.
Para lá segue o escritor, então, na véspera do Natal de 1849. Na bagagem que leva é pouco o peso: um exemplar do Evangelho - só! Mas quanto alento, força e inspiração lhe dá a leitura desse único livro. Daí a certeza renovada de que os sofrimentos são o preço necessário da redenção.
Na convivência com ladrões, criminosos e prostitutas no exílio, Dostoiévski jamais põe em dúvida a bondade humana. No livro Recordações da Casa dos Mortos, ele registraria: "Posso testemunhar que no ambiente mais ignorante e mesquinho encontrei sinais incontestáveis de uma espiritualidade extremamente viva".
Após cinco intermináveis anos de trabalhos forçados, em 1854, com 33 anos, Dostoiévski é incorporado como soldado raso em uma guarnição siberiana, onde passa outros cinco anos. Não tem amigos nem família, tampouco dinheiro. Na fria solidão da Sibéria, sofre o suplício de apaixonar-se por uma mulher casada, Maria Dimítrievna Issáievna. Seu sofrimento aumenta quando ela se muda para outra cidade, mas depois de alguns meses, para sua alegria, ele vislumbra uma esperança: Maria fica viúva. Em menos de um ano, passado o período de luto, eles se casam, em 1857.
O casamento, porém, não tem um bom começo. Na noite de núpcias Dostoiévski sofre uma violenta crise de epilepsia, como já tivera anos antes. A mulher apenas o observa, com o espanto estampado nos olhos.
Não há consolo na Sibéria: a desolação da paisagem o deprime, sua saúde é péssima, o casamento revela-se um fracasso. Tudo que lhe resta é escrever um novo romance, Recordações da Casa dos Mortos, e esperar que o czar lhe dê permissão para voltar a São Petersburgo.
Nicolau I já está morto, e seu sucessor, Alexandre II, atende-lhe o pedido. Em novembro de 1859 o escritor volta à cidade que tão bem retrataria em seus contos e romances.
O retorno, porém, é melancólico e solitário: os amigos já o esqueceram, o público também. Com o irmão Mikhail, funda um periódico, O Tempo, em 1861, A publicação de Recordações da Casa dos Mortos, nesse mesmo ano, ajuda-o a fazer ressurgir seu nome, mas a fama não é suficiente para livrá-lo das graves dificuldades financeiras. Tudo o que ganha, Dostoiévski gasta com o jornal e com a mulher doente, contrai empréstimos que não consegue pagar, e por fim, ao ver-se ameaçado por credores, foge para o exterior, em 1862. Deixa a mulher em São Petersburgo e, com recursos obtidos na Caixa de Socorros a Escritores Necessitados, percorre a Alemanha, Itália, Suíça, França e Inglaterra, levando consigo uma jovem estudante, partidária do feminismo, entusiasta da literatura e candidata a romancista: Polina Súslova, que posteriormente seria a musa inspiradora das personagens de O Jogador, O Idiota e Os Irmãos Karamázovi, entre outros. No entanto, gasta no jogo tudo o que lhe resta e mais o que consegue ganhar com a penhora de seus pertences e os de Polina.
De volta a Petersburgo, em 1863, Dostoiévski encontra Maria agonizante e o jornal fechado por ordem do governo. No ano seguinte, encontra ânimo e funda então outro periódico, A Época. Ainda em 1864, num período de três meses, morrem Maria e Mikhail, ficando a seu encargo a sobrevivência da cunhada viúva e dos sobrinhos. É em meio a esse sentimento de angústia que Dostoiévski inicia a redação de Memórias do Subterrâneo, obra que marca o completo amadurecimento literário do escritor. A partir desse livro ele superaria os modismos românticos que marcaram as obras anteriores, passando a interessar-se pela sondagem dos mistérios da existência e da complexidade da alma humana, pelo refortalecimento das qualidades essenciais do povo russo e pela busca do homem bom. Entretanto, embora tenha encontrado o caminho para se realizar como escritor, Dostoiévski é um homem solitário e infeliz. Polina, que ele deixara em Paris, recusa seu pedido de casamento, e ele se afunda mais e mais em dívidas de jogo. Quando seu editor exige que ele cumpra o prazo para a conclusão do manuscrito de Crime e Castigo, ele contrata a estenógrafa Ana Grigórievna para ajudá-lo, e finalmente encontra na jovem de 21 anos a companheira que procurara por toda sua vida. Casa-se com ela em 1867, aos 46 anos. A paixão pelo jogo, porém, só faz aumentar-lhe as dívidas. Os credores voltam com as ameaças de cadeia, e Dostoiévski emigra com Ana para a Europa Ocidental. Um adiantamento do editor permite-lhe fixar-se em Genebra. Mas o vício o persegue, tudo empenha - da aliança ao capote - e tudo perde.
A morte da primeira filha em 1868, com três meses de idade, ameaça comprometer sua sanidade mental, o que é agravado pelo sentimento de culpa por privar a amada esposa do conforto e dos bens materiais. Sem filha, sem paz, o casal abandona Genebra e a literatura. Vagueia pela Itália, atormentado pela solidão, curtindo a saudade da pátria distante e da filha morta. Amigos compadecidos e o editor mandam-lhe da Rússia uma ajuda financeira, que, mais uma vez, esvai-se nos cassinos. A Dostoiévski não resta escolha senão voltar a escrever, e o faz sem cessar, procurando ganhar o mínimo para o sustento doméstico. O nascimento da segunda filha, em 1869, vem atenuar um pouco a rudeza da vida. Com ânimo renovado, o casal retorna à Rússia em 1871, ano que publica Os Possessos.
Dois anos depois Dostoiévski assume o cargo de redator-chefe em O Cidadão. E é a partir dessa época que escreve algumas de suas obras-primas. Em 1874 publica O Adolescente e Diário de um Escritor, e em 1880 Os Irmãos Karamázovi .Torna-se ídolo de seus leitores, guia espiritual, exemplo de força e coragem, o "Escritor da Rússia", que , ao retratar a alma de seu povo, evidenciara a própria condição humana.
As aspirações de Dostoiévski estão, enfim, realizadas. Não só o escritor alcança seus intentos: o homem encontra o amor sofridamente buscado, a alegria de ter os filhos que quis e a paz que tanto almejara.
Mas já não há tempo para ser feliz. Num dia nevado de 1881, vítima de uma hemorragia, morre aos sessenta anos Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski, consagrado até hoje como um dos mestres da literatura universal.
Fonte: coleção obras-primas - grandes autores - vida e obra.
Publicada em 1845, Pobre Gente transforma-se em grande sucesso de público e de crítica, o que o encoraja a escrever com mais afinco. Em 1847, ano em que sai a segunda edição de Pobre Gente, sofre uma série crise de epilepsia. No ano seguinte publica O Duplo, romance que não obtém o mínimo sucesso literário.
A fase de glória parece estar chegando ao fim, a fama começa a declinar: os críticos e autoridades literárias russas quer tanto o haviam elogiado chegam a confessar de público que se enganaram e que haviam exaltado equivocadamente seu talento literário.
Tão inesperada mudança de opinião isola Dostoiévski do convívio geral. É tomado então por repentinas dúvidas a respeito da própria capacidade e de qual seria sua real vocação.
Em 1848 Dostoiévshi, aos 21 anos, começa a frequentar um grupo socialista revolucionário em São Petersburgo, do qual passa a fazer parte. Mais tarde, no entanto, no livro Os Possessos, denunciaria o clima de violência e niilismo vigente entre os revolucionários, acusando-os de agir sobretudo movidos pelo tédio e de viverem inutilmente à custa dos servos.
Antes do rompimento com o grupo, porém, o escritor já se havia comprometido em favor do socialismo, em seus discursos públicos. Denunciado juntamente com os companheiros de grupo, é preso e condenado à morte por fuzilamento.
Já no patíbulo, no momento em que se iria cumprir a sentença, um toque de clarim interrompe a execução. Para incredulidade e imenso alívio dos réus, o auditor imperial anuncia que Nicolau I mudara de idéia e que a pena de morte fora comutada em prisão perpétua com trabalhos forçados na Sibéria.
Para lá segue o escritor, então, na véspera do Natal de 1849. Na bagagem que leva é pouco o peso: um exemplar do Evangelho - só! Mas quanto alento, força e inspiração lhe dá a leitura desse único livro. Daí a certeza renovada de que os sofrimentos são o preço necessário da redenção.
Na convivência com ladrões, criminosos e prostitutas no exílio, Dostoiévski jamais põe em dúvida a bondade humana. No livro Recordações da Casa dos Mortos, ele registraria: "Posso testemunhar que no ambiente mais ignorante e mesquinho encontrei sinais incontestáveis de uma espiritualidade extremamente viva".
Após cinco intermináveis anos de trabalhos forçados, em 1854, com 33 anos, Dostoiévski é incorporado como soldado raso em uma guarnição siberiana, onde passa outros cinco anos. Não tem amigos nem família, tampouco dinheiro. Na fria solidão da Sibéria, sofre o suplício de apaixonar-se por uma mulher casada, Maria Dimítrievna Issáievna. Seu sofrimento aumenta quando ela se muda para outra cidade, mas depois de alguns meses, para sua alegria, ele vislumbra uma esperança: Maria fica viúva. Em menos de um ano, passado o período de luto, eles se casam, em 1857.
O casamento, porém, não tem um bom começo. Na noite de núpcias Dostoiévski sofre uma violenta crise de epilepsia, como já tivera anos antes. A mulher apenas o observa, com o espanto estampado nos olhos.
Não há consolo na Sibéria: a desolação da paisagem o deprime, sua saúde é péssima, o casamento revela-se um fracasso. Tudo que lhe resta é escrever um novo romance, Recordações da Casa dos Mortos, e esperar que o czar lhe dê permissão para voltar a São Petersburgo.
Nicolau I já está morto, e seu sucessor, Alexandre II, atende-lhe o pedido. Em novembro de 1859 o escritor volta à cidade que tão bem retrataria em seus contos e romances.
O retorno, porém, é melancólico e solitário: os amigos já o esqueceram, o público também. Com o irmão Mikhail, funda um periódico, O Tempo, em 1861, A publicação de Recordações da Casa dos Mortos, nesse mesmo ano, ajuda-o a fazer ressurgir seu nome, mas a fama não é suficiente para livrá-lo das graves dificuldades financeiras. Tudo o que ganha, Dostoiévski gasta com o jornal e com a mulher doente, contrai empréstimos que não consegue pagar, e por fim, ao ver-se ameaçado por credores, foge para o exterior, em 1862. Deixa a mulher em São Petersburgo e, com recursos obtidos na Caixa de Socorros a Escritores Necessitados, percorre a Alemanha, Itália, Suíça, França e Inglaterra, levando consigo uma jovem estudante, partidária do feminismo, entusiasta da literatura e candidata a romancista: Polina Súslova, que posteriormente seria a musa inspiradora das personagens de O Jogador, O Idiota e Os Irmãos Karamázovi, entre outros. No entanto, gasta no jogo tudo o que lhe resta e mais o que consegue ganhar com a penhora de seus pertences e os de Polina.
De volta a Petersburgo, em 1863, Dostoiévski encontra Maria agonizante e o jornal fechado por ordem do governo. No ano seguinte, encontra ânimo e funda então outro periódico, A Época. Ainda em 1864, num período de três meses, morrem Maria e Mikhail, ficando a seu encargo a sobrevivência da cunhada viúva e dos sobrinhos. É em meio a esse sentimento de angústia que Dostoiévski inicia a redação de Memórias do Subterrâneo, obra que marca o completo amadurecimento literário do escritor. A partir desse livro ele superaria os modismos românticos que marcaram as obras anteriores, passando a interessar-se pela sondagem dos mistérios da existência e da complexidade da alma humana, pelo refortalecimento das qualidades essenciais do povo russo e pela busca do homem bom. Entretanto, embora tenha encontrado o caminho para se realizar como escritor, Dostoiévski é um homem solitário e infeliz. Polina, que ele deixara em Paris, recusa seu pedido de casamento, e ele se afunda mais e mais em dívidas de jogo. Quando seu editor exige que ele cumpra o prazo para a conclusão do manuscrito de Crime e Castigo, ele contrata a estenógrafa Ana Grigórievna para ajudá-lo, e finalmente encontra na jovem de 21 anos a companheira que procurara por toda sua vida. Casa-se com ela em 1867, aos 46 anos. A paixão pelo jogo, porém, só faz aumentar-lhe as dívidas. Os credores voltam com as ameaças de cadeia, e Dostoiévski emigra com Ana para a Europa Ocidental. Um adiantamento do editor permite-lhe fixar-se em Genebra. Mas o vício o persegue, tudo empenha - da aliança ao capote - e tudo perde.
A morte da primeira filha em 1868, com três meses de idade, ameaça comprometer sua sanidade mental, o que é agravado pelo sentimento de culpa por privar a amada esposa do conforto e dos bens materiais. Sem filha, sem paz, o casal abandona Genebra e a literatura. Vagueia pela Itália, atormentado pela solidão, curtindo a saudade da pátria distante e da filha morta. Amigos compadecidos e o editor mandam-lhe da Rússia uma ajuda financeira, que, mais uma vez, esvai-se nos cassinos. A Dostoiévski não resta escolha senão voltar a escrever, e o faz sem cessar, procurando ganhar o mínimo para o sustento doméstico. O nascimento da segunda filha, em 1869, vem atenuar um pouco a rudeza da vida. Com ânimo renovado, o casal retorna à Rússia em 1871, ano que publica Os Possessos.
Dois anos depois Dostoiévski assume o cargo de redator-chefe em O Cidadão. E é a partir dessa época que escreve algumas de suas obras-primas. Em 1874 publica O Adolescente e Diário de um Escritor, e em 1880 Os Irmãos Karamázovi .Torna-se ídolo de seus leitores, guia espiritual, exemplo de força e coragem, o "Escritor da Rússia", que , ao retratar a alma de seu povo, evidenciara a própria condição humana.
As aspirações de Dostoiévski estão, enfim, realizadas. Não só o escritor alcança seus intentos: o homem encontra o amor sofridamente buscado, a alegria de ter os filhos que quis e a paz que tanto almejara.
Mas já não há tempo para ser feliz. Num dia nevado de 1881, vítima de uma hemorragia, morre aos sessenta anos Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski, consagrado até hoje como um dos mestres da literatura universal.
Fonte: coleção obras-primas - grandes autores - vida e obra.
Crime e Castigo!
ResponderExcluirUm erro crasso: Eugenia Grandet que o mestre traduziu não é de Vitor Hugo e sim do grande Balzac. Dostoiévski é mil. Adoro seus romances.
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