Gógol |
1809 - Em 19 de março, nasce na província de Poltava, Ucrânia, Nicolai Vassílievitch Gógol, filho de Vassíli Afanássievitch Gógol-Ianóvski e Maria Ivanovna.
1820 - É enviado ao liceu de Poltava, juntamente com seu irmão Ivan.
1821 - Morre seu irmão Ivan. É enviado para o liceu de Niêjin.
1825 - Morre o pai de Gógol.
1826 - Dirige A Estrela, revista elaborada pelos alunos do liceu de Niêjin.
1828 - Parte para a capital da Rússia, São Petersburgo, em companhia do amigo Danilévski.
1829 - Publica o poema Hans Kuchelgarten, sob o pseudônimo de V. Alov. Parte para a Alemanha em agosto. Em setembro reTorna a São Petersburgo.
1831 - Publica o conto A Noite de São João na revista mensal Letras Patrióticas. Em março passa a lecionar no Instituto Patriótico das Jovens Nobres. Em julho conhece o poeta Púchkin. Em setembro publica o primeiro volume de Noites na Fazenda perto de Dikanka.
1832 - Viaja para sua terra natal.
1834 - É nomeado professor-adjunto de História na Universidade de São Petersburgo.
1835 - Publica Arabescos e Mirgórod. Escreve O Inspetor Geral e começa Almas Mortas.
1836 - Estréia da peça O Inspetor Geral. Em junho parte para o exterior com o amigo Danilévski.
1842 - Publica Almas Mortas (*). Dá início ao segundo volume dessa obra.
1843 - Queima pela primeira vez manuscritos da segunda parte de Almas Mortas (*).
1846 - Começa a publicar Extratos de uma Correspondência.
1847 - Publica Confissões de um Autor.
1848 - Em janeiro viaja para a Terra Santa Chega a Jerusalém em 18 de fevereiro.
1849 - Termina de escrever a segunda parte de Almas Mortas.
1852 - Queima todos os seus manuscritos. Morre em 21 de janeiro.
(*) Almas Mortas
Publicado em 1842, Almas Mortas conta a história de um aventureiro que compra, a baixo preço. os camponeses russos mortos desde o último censo, mas ainda vivos nas listas do fisco. Uma trapaça que permite traçar um panorama da vida da província e um esboço do homem russo por inteiro, pelo seu lado negativo. Gógol iniciou um segundo volume de Almas Mortas, mas em um momento de angústia acabou queimando os manuscritos. Alguns anos depois retoma a continuação da obra e a conclui, mas pouco antes de morrer queima novamente os originais.
Amanhece em São Petersburgo. Acordado de seus sonhos, Nicolai Vassílievitch Gógol esfrega os olhos, passa água sobre o rosto e sente o impacto do primeiro dia na capital. Corre até a janela para olhar o Nieva. Mas não há Nieva algum. Olha para Danilévski, que ainda dorme, para todos os cantos do pequeno quarto, e não pode conter a sensação de um ódio inexplicável. Nada é como imaginava.
No dia seguinte e nos outros será a mesma coia. Aquela sensação de perplexidade o acompanhará pelas ruas cheias de marasmo. E estará com ele quando voltar para casa, conversar com Dnailévski, olhar para o lugar onde deveria estar o rio Nieva e escrever para sua mãe.
O pai, Bassíli Afanássievitch Gógol-Ianósvki, falecido em 185, tinha sido um proprietário qeu empregava mais de cem "almas" - assim eram chamados os servos. A mãe, Maria Ivánovna, amava o marido e os filhos de maneira apaixonada. Era uma mulher de extraordinária sensibilidade. Transmitiu ao pequeno Gógol sua personalidade contraditória e um intenso sentimento religioso que o levaria ao misticismo.
Já na infância aconteciam coisas que o deixavam perdido entre a fé e o temor. muitas vezes ouvia vozes que chamavam seu nome - segundo crenças populares, isso significava presságio de morte. Então ele fugia e procurava alguém que pudesse protegê-lo. Quando as vozes o deixavam, sorria e encarava o mundo com coragem e felicidade.
Seu mundo começou no dia 19 de março de 1809, na província de Poltava, Ucrânia. Um universo fantástico bem maior que a paisagem estranhamento dividida: de um lado, enormes áreas desocupadas; de outro, grandes glebas de terra pertencentes a poucos proprietários. Para servi-los havia as "almas", que com seu suor semeavam a terra, sem nunca possuí-la.
Desde menino ouvia as canções do folclore russo, ia às feiras, assistia aos teatrinhos de fantoches, escutava lendas e fábulas e aos poucos, assimilava o modo de pensar de seu povo.
Em 1820 foi enviado ao liceu de Poltava, junto com seu irmão Ivan. Com as férias de verão vieram também os ventos misteriosos que carregaram a vida de Ivan. Ficou sem saber o significado da vida e da morte, perdido entre o luto as lágrimas e o vazio.
Em 1821 Gógol seguiu para o liceu de Niêjin levando uma bagagem de sentimentos conturbados. Talvez por isso nunca tenha se integrado de fato aos colegas e professores. Após a morte do pai, parecia que nada mais havia a fazer em Niêjin. Gógol começou então a sonhar com São Petersburgo. Quando deixou Niêjin, em 1828, viveu durante seis meses com a mãe e os irmãos. Depois partiu para a capital em companhia do amigo Danilévski.
Gógol sabia que como simples escriturário nunca poderia realizar seus projetos. O emprego serviria apenas para satisfazer às necessidades mais urgentes, e logo percebeu que o salário não bastaria para fazê-lo sobreviver, e acabou pedindo ajuda à mãe.
Na verdade, ele já havia feito algumas tentativas de manter-se por si mesmo. Em 1829 publicou Hans Kuchelgarten. O poema, assinado com o pseudônimo de V. Alov, refletia as primeiras influências literárias. Contudo, a obra era inferior à produção dos poetas médios da época. A crítica reagiu de forma tão negativa que Gógol, tomado de desespero, correu às livrarias, recolheu os exemplares ainda existentes, levou-os para casa e queimou-os.
A essa experiência seguiu-se uma enorme angústia, que o fez partir para o exterior no primeiro navio que encontrou. Em agosto chegou à Alemanha; em setembro estava de volta a São Petersburgo, em péssima situação financeira. Mais tarde conseguiu emprego e foi morar com dois amigos.
Enquanto ia sobrevivendo apertadamente, o jovem Gógol prestava atenção no rumo que as coisas tomavam em seu país. Os intelectuais revelavam crescente preocupação com os problemas do povo russo, sobretudo com o analfabetismo da maior parte da população.
Reprimidos pela censura, tendo universidades e jornais sufocados por inspeções militares, os intelectuais viam a literatura como único meio de divulgar idéias novas. Assim, foi a partir de 1830 que a literatura russa conseguiu suas primeiras vitórias, apesar das repressões.
Essa mudança abriu novas perspectivas a Gógol, que passou a colaborar na revista Letras Patrióticas. Seu primeiro conto, A Noite de São João, saiu em fevereiro de 1831. Foi o suficiente para fazê-lo trabalhar intensamente em sua nova obra. Noites na Fazenda perto de Dikanka. Em março abandonou o emprego burocrático para dar aulas no Instituto Patriótico das Jovens Nobres.
Em julho desse mesmo ano conheceu o poeta Púchkin e, durante um mês, encontraram-se todos os dias. Púchkin não havia lido nada do jovem estreante; depois de alguns contato, percebeu-lhe a inexperiência, o espírito conturbado, a cultura deficiente. Mas também descobriu a maior característica literária de Gógol: saber mostrar como ninguém a superficialidade do homem vulgar.
Ainda em setembro desse ano, Gógol - agora quase um discípulo de Púchkin - publicou o primeiro volume de Noites na Fazenda perto de Dikanka. O segundo volume da obra, publicado em março de 1832, repetiu o êxito anterior. A obra é uma coleção de contos sobre os costumes populares de sua terra que se destaam o humor fantástico e a superstição.
Logo no início de abril Gógol resolveu visitar a terra natal, onde passou seis meses.
Em outubro retornou a São Petersburgo, levando consigo as irmãs, que iam estudar no Instituto Patriótico. Sentiu-se um pouco triste, angustiado, alguns dias após a chegada. Faltava-lhe inspiração. E assim passou todo o ano de 1833, queixando-se aos amigos sobre sua falta de imaginação.
Gógol sabia que como simples escriturário nunca poderia realizar seus projetos. O emprego serviria apenas para satisfazer às necessidades mais urgentes, e logo percebeu que o salário não bastaria para fazê-lo sobreviver, e acabou pedindo ajuda à mãe.
Na verdade, ele já havia feito algumas tentativas de manter-se por si mesmo. Em 1829 publicou Hans Kuchelgarten. O poema, assinado com o pseudônimo de V. Alov, refletia as primeiras influências literárias. Contudo, a obra era inferior à produção dos poetas médios da época. A crítica reagiu de forma tão negativa que Gógol, tomado de desespero, correu às livrarias, recolheu os exemplares ainda existentes, levou-os para casa e queimou-os.
A essa experiência seguiu-se uma enorme angústia, que o fez partir para o exterior no primeiro navio que encontrou. Em agosto chegou à Alemanha; em setembro estava de volta a São Petersburgo, em péssima situação financeira. Mais tarde conseguiu emprego e foi morar com dois amigos.
Enquanto ia sobrevivendo apertadamente, o jovem Gógol prestava atenção no rumo que as coisas tomavam em seu país. Os intelectuais revelavam crescente preocupação com os problemas do povo russo, sobretudo com o analfabetismo da maior parte da população.
Reprimidos pela censura, tendo universidades e jornais sufocados por inspeções militares, os intelectuais viam a literatura como único meio de divulgar idéias novas. Assim, foi a partir de 1830 que a literatura russa conseguiu suas primeiras vitórias, apesar das repressões.
Essa mudança abriu novas perspectivas a Gógol, que passou a colaborar na revista Letras Patrióticas. Seu primeiro conto, A Noite de São João, saiu em fevereiro de 1831. Foi o suficiente para fazê-lo trabalhar intensamente em sua nova obra. Noites na Fazenda perto de Dikanka. Em março abandonou o emprego burocrático para dar aulas no Instituto Patriótico das Jovens Nobres.
Em julho desse mesmo ano conheceu o poeta Púchkin e, durante um mês, encontraram-se todos os dias. Púchkin não havia lido nada do jovem estreante; depois de alguns contato, percebeu-lhe a inexperiência, o espírito conturbado, a cultura deficiente. Mas também descobriu a maior característica literária de Gógol: saber mostrar como ninguém a superficialidade do homem vulgar.
Ainda em setembro desse ano, Gógol - agora quase um discípulo de Púchkin - publicou o primeiro volume de Noites na Fazenda perto de Dikanka. O segundo volume da obra, publicado em março de 1832, repetiu o êxito anterior. A obra é uma coleção de contos sobre os costumes populares de sua terra que se destaam o humor fantástico e a superstição.
Logo no início de abril Gógol resolveu visitar a terra natal, onde passou seis meses.
Em outubro retornou a São Petersburgo, levando consigo as irmãs, que iam estudar no Instituto Patriótico. Sentiu-se um pouco triste, angustiado, alguns dias após a chegada. Faltava-lhe inspiração. E assim passou todo o ano de 1833, queixando-se aos amigos sobre sua falta de imaginação.
Precisava atirar-se a uma obra que exigisse todos o seu potencial. Talvez uma História Universal em oito ou nove volumes. Mas para escrevê-la necessitava de maiores conhecimentos e de experiências mais intensas, que só conseguiria dando aulas. Em julho de 1834 obteve uma vaga de professor-adjunto na Universidade de São Petersburgo. No entanto apenas sua primeira aula causou boa impressão, pois as seguintes demonstraram claramente que ele havia esgotado todo seu conhecimento e todas suas idéias na aula de estréia.
No fim desse ano, consciente de seu fracasso Gógol demite-se. Mas não recaiu nas crises de angústia. Ao contrário, logo no início de 1835 pôs-se a trabalhar com vontade: em fevereiro sai o volume Arabescos, que reuniu dados biográficos, conferências e os contos A Perspectiva Nevski, Diário de um Louco e O Retrato. A mesma série de contos ambientados em São Petersburgo pertencem O Nariz, de 1835, e O Capote, de 1842, possivelmente inspirado nas experiências do escritor como frustrado funcionário público. O Nariz é a história de um homem que acorda e sente falta de seu nariz. O tema irreal e humorístico oculta um significado bastante verdadeiro, a perda da segurança cotidiana provocada por uma situação inesperada.
O Capote conta a história de um modesto funcionário que, com enorme sacrifício, consegue economizar dinheiro para comprar um capote. Porém a vestimenta logo é roubada. Vítima de um destino infeliz, ele adoece e morre. Seu fantasma passa a roubar capotes durante a noite.
Em março de 1835 foi publicado Mirgórod, coletânea de contos de inspiração popular com sabor humorístico. Dentre todos, o conto que recebeu a melhor acolhida por parte do público foi Taras Bulba, escrito nos padrões de uma novela histórica. Ainda nesse ano nasceu O Inspetor Geral, que sairia em 1836, e começou a elaborar Almas Mortas. Ainda em 1835 Gógol retornou à universidade. Queria fazer mais uma tentativa de firmar-se como professor e, ao mesmo tempo, prosseguir nos estudos que lhe possibilitariam escrever sua volumosa História Universal. Em dezembro desse ano demitiu-se de novo, abandonando para sempre o magistério e a obra histórica.
No ano seguinte, sua maior preocupação foi montar a comédia O Inspetor Geral, que estreou em abril. As opiniões do público e da crítica dividiram-se, embora ninguém tivesse percebido mais que o significado aparente da peça.
Gógol, que só prestava atenção ás críticas negativas, mergulhou novamente em crises de angústia. Em 6 de jnho de 1836 deixou São Peterburgo acompanhado de Danilé-vski. Após ter passado um longo período viajando pela Alemanha, França e Suíça, Gógol chegou a Roma em maro de 1837. Na bagagem levava os primeiros capítulos e Almas Mortas, sua obra mais importante.
Embora estivesse ainda muito abatido, pôs-se a trabalhar com afinco. Distante de seu país, as coisas lhe pareciam mais claras. Estava quase alcançando o equilíbrio emocional quando recebeu uma notícia que o deixou totalmente prostrado: o poeta Púchkin acabara de morrer num duelo. Gógol pensava apenas em morrer. Deitava-se na cama e ficava esperando a morte. E ela não chegava. Quando terminou o ano de 1838, levantou-se do leito e procurou encarar a vida com novo lento. Foi com esse ânimo que Jukóvski o encontrou no início de 1839. Gógol ficou sabendo que suas irmãs haviam deixado o Instituto Patriótico e estavam precisando de emprego. Ajudado pelo amigo, retornou à Rússia poucos meses depois.
Chegou a Moscou em setembro, apreensivo e triste. Não se demorou na cidade. Poucos dias depois, tomou o caminho de São Petersburgo. Lembranças sombrias assaltaram-no. Sentiu que não poderia ficar ali por muito tempo. Mas não tinha recursos para lançar-se a nova viagem. Os amigos compadeceram-se dele. Poetas, romancistas, sonhadores, todos reuniram suas minguadas economias, e, ao fim de alguns messes, entregaram-lhe uma pequena fortuna: 4.000 rublos. Em junho de 1840 Gógol estava outra vez em Roma, bem longe dos críticos e dos nevoeiros russos.
Novamente foi tomado por presságios de morte. Depois de uma fase de crises respiratórias e distúrbios cardíacos, mandou chamar um padre, certo de que fosse morrer. Mas sobreviveu, e passou a acreditar que Deus o ressuscitara. Em agosto de 1841 viajou para a Rússia com o manuscrito completo de Almas Mortas. Seu estado nervoso, já bastante grave, piorou quando teve de enfrentar a censura, que pretendia fazer enormes cortes em seu livro. As objeções começavam pelo título, que, segundo os censores, ridicularizava o dogma cristão da imortalidade da alma. Apesar de todos os contratempos, a obra foi publicada graças à intervenção de alguns amigos.
Almas Mortas e um retrato fiel da Rússia da época, quando ainda reinava o regime de servidão. Os bens de um proprietário eram avaliados pela quantidade de "almas" (servos) que ele possuía e pelas quais pagava um imposto. O poeta Púchkin sugeriu ao escritor a seguinte situação: um esperto proprietário compra as "almas" mortas por um preço baixo e hipoteca-as como vivas, com grande lucro. Gógol aproveitou a idéia para levar o leitor a uma viagem por toda a Rússia, descrevendo as condições do povo.
Preocupado com a impressão negativa do povo russo que sua obra transmitia, Gógol decidiu escrever mais dois livros, nos quais os personagens seriam reabilitados.Em 1843 iniciou o segundo volume da obra. Todavia, acometido de uma de suas crises, queimou os manuscritos.
Emocionalmente, sobrevivia equilibrando-se numa tênue linha, cercado por medo, calafrios e angústias. Em 1846 começou a publicar Extratos e uma Correspondência, que provocou nos leitores e críticos uma reação bastante desfavorável. Era a primeira vez que um escritor se abria com tanta sinceridade. Mas essa honestidade, para a Rússia da época, significava escândalo.
Gógol já não sabia o que fazer. No ano seguinte publicou Confissões de um Autor, em que expressou seus protestos contra as críticas que vinha sofrendo. De nada adiantou. Todos estavam contra ele: amigos, inimigos, políticos, revolucionários, liberais, moderados, a família imperial e os literatos.
Suas crises tornaram-se cada vez mais violentas. Em janeiro de 1848 partiu para a Terra Santa. De retorno á Rússia, pôs-se a peregrinar pelo interior do país. Procurava conhecer melhor seu povo para dar continuidade a sua obra. Finalmente, em 1849 concluiu a segunda parte de Almas Mortas.
Já fazia algum tempo que o escritor estava estreitamente ligado ao padre Mateus Konstantinóvski, que professava a negação da Vida, da Arte e do Homem Criador. Gógol tentava resistir a suas influências, mas, cansado de lutar, passou a aceitar a ideia da morte como uma senda de salvação. Não só desistiu de publicar o livro como resolveu destruí-lo. Na noite de 11 de fevereiro de 1852 acordou o criado e mandou-o queimar os manuscritos. Depois caiu de cama e ficou inerte, esperando a chegada da morte. Deixou de se alimentar e de ingerir qualquer remédio, dizendo: "É preciso que vocês me deixem, porque sei que devo morrer". Em 21 de fevereiro, por fim, cumpriram-se os presságios.
Fonte: coleção obras-primas - grandes autores - vida e obra.
No fim desse ano, consciente de seu fracasso Gógol demite-se. Mas não recaiu nas crises de angústia. Ao contrário, logo no início de 1835 pôs-se a trabalhar com vontade: em fevereiro sai o volume Arabescos, que reuniu dados biográficos, conferências e os contos A Perspectiva Nevski, Diário de um Louco e O Retrato. A mesma série de contos ambientados em São Petersburgo pertencem O Nariz, de 1835, e O Capote, de 1842, possivelmente inspirado nas experiências do escritor como frustrado funcionário público. O Nariz é a história de um homem que acorda e sente falta de seu nariz. O tema irreal e humorístico oculta um significado bastante verdadeiro, a perda da segurança cotidiana provocada por uma situação inesperada.
O Capote conta a história de um modesto funcionário que, com enorme sacrifício, consegue economizar dinheiro para comprar um capote. Porém a vestimenta logo é roubada. Vítima de um destino infeliz, ele adoece e morre. Seu fantasma passa a roubar capotes durante a noite.
Em março de 1835 foi publicado Mirgórod, coletânea de contos de inspiração popular com sabor humorístico. Dentre todos, o conto que recebeu a melhor acolhida por parte do público foi Taras Bulba, escrito nos padrões de uma novela histórica. Ainda nesse ano nasceu O Inspetor Geral, que sairia em 1836, e começou a elaborar Almas Mortas. Ainda em 1835 Gógol retornou à universidade. Queria fazer mais uma tentativa de firmar-se como professor e, ao mesmo tempo, prosseguir nos estudos que lhe possibilitariam escrever sua volumosa História Universal. Em dezembro desse ano demitiu-se de novo, abandonando para sempre o magistério e a obra histórica.
No ano seguinte, sua maior preocupação foi montar a comédia O Inspetor Geral, que estreou em abril. As opiniões do público e da crítica dividiram-se, embora ninguém tivesse percebido mais que o significado aparente da peça.
Gógol, que só prestava atenção ás críticas negativas, mergulhou novamente em crises de angústia. Em 6 de jnho de 1836 deixou São Peterburgo acompanhado de Danilé-vski. Após ter passado um longo período viajando pela Alemanha, França e Suíça, Gógol chegou a Roma em maro de 1837. Na bagagem levava os primeiros capítulos e Almas Mortas, sua obra mais importante.
Embora estivesse ainda muito abatido, pôs-se a trabalhar com afinco. Distante de seu país, as coisas lhe pareciam mais claras. Estava quase alcançando o equilíbrio emocional quando recebeu uma notícia que o deixou totalmente prostrado: o poeta Púchkin acabara de morrer num duelo. Gógol pensava apenas em morrer. Deitava-se na cama e ficava esperando a morte. E ela não chegava. Quando terminou o ano de 1838, levantou-se do leito e procurou encarar a vida com novo lento. Foi com esse ânimo que Jukóvski o encontrou no início de 1839. Gógol ficou sabendo que suas irmãs haviam deixado o Instituto Patriótico e estavam precisando de emprego. Ajudado pelo amigo, retornou à Rússia poucos meses depois.
Chegou a Moscou em setembro, apreensivo e triste. Não se demorou na cidade. Poucos dias depois, tomou o caminho de São Petersburgo. Lembranças sombrias assaltaram-no. Sentiu que não poderia ficar ali por muito tempo. Mas não tinha recursos para lançar-se a nova viagem. Os amigos compadeceram-se dele. Poetas, romancistas, sonhadores, todos reuniram suas minguadas economias, e, ao fim de alguns messes, entregaram-lhe uma pequena fortuna: 4.000 rublos. Em junho de 1840 Gógol estava outra vez em Roma, bem longe dos críticos e dos nevoeiros russos.
Novamente foi tomado por presságios de morte. Depois de uma fase de crises respiratórias e distúrbios cardíacos, mandou chamar um padre, certo de que fosse morrer. Mas sobreviveu, e passou a acreditar que Deus o ressuscitara. Em agosto de 1841 viajou para a Rússia com o manuscrito completo de Almas Mortas. Seu estado nervoso, já bastante grave, piorou quando teve de enfrentar a censura, que pretendia fazer enormes cortes em seu livro. As objeções começavam pelo título, que, segundo os censores, ridicularizava o dogma cristão da imortalidade da alma. Apesar de todos os contratempos, a obra foi publicada graças à intervenção de alguns amigos.
Almas Mortas e um retrato fiel da Rússia da época, quando ainda reinava o regime de servidão. Os bens de um proprietário eram avaliados pela quantidade de "almas" (servos) que ele possuía e pelas quais pagava um imposto. O poeta Púchkin sugeriu ao escritor a seguinte situação: um esperto proprietário compra as "almas" mortas por um preço baixo e hipoteca-as como vivas, com grande lucro. Gógol aproveitou a idéia para levar o leitor a uma viagem por toda a Rússia, descrevendo as condições do povo.
Preocupado com a impressão negativa do povo russo que sua obra transmitia, Gógol decidiu escrever mais dois livros, nos quais os personagens seriam reabilitados.Em 1843 iniciou o segundo volume da obra. Todavia, acometido de uma de suas crises, queimou os manuscritos.
Emocionalmente, sobrevivia equilibrando-se numa tênue linha, cercado por medo, calafrios e angústias. Em 1846 começou a publicar Extratos e uma Correspondência, que provocou nos leitores e críticos uma reação bastante desfavorável. Era a primeira vez que um escritor se abria com tanta sinceridade. Mas essa honestidade, para a Rússia da época, significava escândalo.
Gógol já não sabia o que fazer. No ano seguinte publicou Confissões de um Autor, em que expressou seus protestos contra as críticas que vinha sofrendo. De nada adiantou. Todos estavam contra ele: amigos, inimigos, políticos, revolucionários, liberais, moderados, a família imperial e os literatos.
Suas crises tornaram-se cada vez mais violentas. Em janeiro de 1848 partiu para a Terra Santa. De retorno á Rússia, pôs-se a peregrinar pelo interior do país. Procurava conhecer melhor seu povo para dar continuidade a sua obra. Finalmente, em 1849 concluiu a segunda parte de Almas Mortas.
Já fazia algum tempo que o escritor estava estreitamente ligado ao padre Mateus Konstantinóvski, que professava a negação da Vida, da Arte e do Homem Criador. Gógol tentava resistir a suas influências, mas, cansado de lutar, passou a aceitar a ideia da morte como uma senda de salvação. Não só desistiu de publicar o livro como resolveu destruí-lo. Na noite de 11 de fevereiro de 1852 acordou o criado e mandou-o queimar os manuscritos. Depois caiu de cama e ficou inerte, esperando a chegada da morte. Deixou de se alimentar e de ingerir qualquer remédio, dizendo: "É preciso que vocês me deixem, porque sei que devo morrer". Em 21 de fevereiro, por fim, cumpriram-se os presságios.
Fonte: coleção obras-primas - grandes autores - vida e obra.
"Almas Mortas" é hilário. Gogol é o pai da literatura moderna russa. "Todos somos filhos do "Capote" - disse uma vez o mestre Dostoievski. E sem duvida ele é bom.
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