quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Clarice Lispector/Entre-vistas



Ler um livro de entrevistas a princípio pode parecer adentrar através da 'palavra expressa' na intimidade do outro. No livro "Clarice Lispector - Entrevistas", difícil vislumbrar onde termina a rotina profissional da entrevistadora na arte de pesquisadora em conquistar o entrevistado com êxito para superar as expectativas do trabalho proposto e onde começa um grande diálogo. Clarice bem elabora todas as perguntas de maneira que muitas envolvem seu trabalho literário, fruto da curiosidade da alma humana, do conhecer através do outro a si própria, como ser humano comum, entretanto, com um olhar essencial à realidade do outro que se revela sempre especial.

É um livro para leitura vagarosa, onde cada entrevistado tem a oportunidade de saborear a boa prosa de Clarice quando formula perguntas, abrangentes como a vida, como quem deseja saber pelo outro o essencial que a vida propõe seja em literatura, música, artes cênicas, artes plásticas ou esportes. Como o ser humano é um pouco de tudo, melhor abrir o livro aleatoreamente e vislumbrar cada palavra conquistada por Clarice Lispector nos caros entrevistados, sejam eles Lygia Fagundes Telles, Rubem Braga, Tom Jobim, Pablo Neruda, Elis Regina, Fernando Sabino, Ferreira Gullar, Oscar Niemeyer ou Isaac Karabtchevsk, entre outros. Lógico que tudo acaba em um grande bate-papo, com a profundidade que somente Clarice pode proporcionar. Imaginar Tom e Clarice argumentando se a literatura e a música acabariam algum dia e em que tempo ocorreria ... felizmente concluíram que nunca acabariam (a fórmula dessa sabedoria, só os grandes podem calcular). "Só a criação satisfaz" responde em bom tom.

"Qual a coisa mais importante do mundo?";
"Qual a coisa mais importante para a pessoa como indivíduo";
"O que é o amor?";

pergunta Clarice...

"O amor";
"Saber situar-se neste mundo de alegrias e tristezas em que vivemos, certos de que não estamos sozinhos, ...";
"Sentir a fragilidade das coisas e a pouca importância de tudo que realizamos.";
"Dar ao amor o sentido universal que merece.";

foram respostas... só lendo!

Falando em leitura, não há como não pensar em releitura e pensar em releitura é pensar em Rubem Braga que curiosamente relatou pretender realizar uma seleção de todos os livros num só volume por estar em situação de 'esgotamento'. Não pretendia reeditar, nem reler seus livros, por achar a releitura um processo um tanto 'chato'... Não sei se conseguiu (reeditar o livro). Clarice Lispector concordou com ele, disse evitar ao máximo ter que reler seus trabalhos e fica mesmo espantada com pessoas que fazem releitura... Imagina! Bom, naquela época não existia a rede, é isto!

Hum... boa releitura!

Lispector, Clarice, 1920-1977 - Entrevistas, [organização de Claire Williams; preparação de originais e notas bibliográficas de Teresa Montero]. - Rio de Janeiro: Rocco, 2007.
Foto digital: Lígia Guedes

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