quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Mario Vargas Llosa - Sabres e Utopias - Visões da América Latina

Mario Vargas Llosa - Sabres e Utopias - Visões da América Latina

"A riqueza da América Latina está no fato de ela ser muitas coisas ao mesmo tempo, o que faz dela um microcosmo no qual coabitam quase todas as raças e culturas do mundo. Cinco séculos após a chegadas dos europeus às suas praias, serras e matas, os latino-americanos de origem espanhola, portuguesa, italiana, alemã, chinesa ou japonesa são tão oriundos do continente como os que têm seus ascendentes nos antigos astecas, toltecas, maias, quéchuas, aimarás ou caribes. E as marcas deixadas pelos africanos no continente, onde também estão há cinco séculos, estão presentes por todos os lados: nos tipos humanos, na fala, na música, na comida e até mesmo em certas formas de prática religiosa. Não é exagero dizer que não existe tradição, cultura, língua e raça que não tenha acrescentado alguma coisa a esse efervescente redemoinho de misturas e uniões que se realizam em todos os aspectos da vida na América Latina. Esse amálgama é o seu maior patrimônio: ser um continente que cerece de identidade justamente porque contém todas elas. E porque continua a se transformar todos os dias."
(Sabres e Utopias - p.317)
Vargas Llosa, Mario - Sabres e Utoias : Visões da América Latina / Mario Vargas Llosa; seleção e prefácio de Carlos Granés; tradução Bernardo Ajzenberg. - Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.

"... A América Latina é e, ao mesmo tempo, não é a Europa. Não é Europa porque a América Latina é também o pré-hispânico e o africano que se fundiram ou convivem nela com o que nso chegou da Europa, bem como as diversas mestiçagens disso resultantes. Mas é Europa, por outro lado, porque dali vieram as línguas que a integram ao resto do mundo, as religiões, as crenças que organizaram a sua vida e a orte, as instituições que - boas ou ruins, bem ou mal aplicadas - regulam suas sociedades e foram as coordenadas dentro das quais os latino-americanos pensam, agem, gozam ou sofrem." (trecho de "Sabres e Utopias", pp.352-353).

Sabres e Utopias, um dos livros mais recentes de Vargas Llosa nos mostra que não só é um excelente romancista - "um dos melhores do mundo", nas palavras de John Updike -, mas também um crítico e ensaísta brilhante, e um exímio observador da história recente da América Latina.

Nos artigos reunidos neste livro, ele fala sobre os mais diversos temas: política, direitos humanos, literatura e artes plásticas, economia e História. Acima de tudo, Vargas Llosa se mostra um defensor aguerrido da democracia e liberdade.

"Conforme o ângulo de que é vista, a América Latina apresenta um panorama estimulante ou desolador. Da perspectiva política, não há dúvida de que este é o melhor momento de toda a sua história republicana. (...)
Esse processo de democratização política do continente não deve ser avaliado apenas com critérios estatísticos. O que ele tem de mais significativo é a sua natureza, ou seja, o fato de ser um processo autenticamente popular. Pela primeira vez em nossa história republicana, não foram as elites nem a pressão estrangeira o fator impulsionador para a formação de regimes civis e democráticos, mas sim, sobretudo, o povo, as amplas massas de mulheres e homens humildes já cansados de tanta demagogia e da brutalidade, seja das ditaduras militares, seja dos grupos e partidos revolucionários. (...)"


Ele ataca com precisão tanto os regimes militares de direita, corruptos e violentos, quanto as ditaduras de esquerda, que prometem utopias mas entregam somente repressão e autoritarismo.

Com respeito ao Brasil, ele faz análises impactantes sobre a situação política atual, constrói relatos comoventes sobre autores como Euclides da Cunha e Jorge Amado.

Vargas Llosa expressa "os riscos e esperanças frente a América Latina. Seus textos são construídos não por ordem cronológica mas por assuntos, tratando de temas polêmicos como revoluções, nacionalismo, populismo, indigenismo, corrupção - a maior das ameaças à credibilidade das democracias - até a descoberta das ideias liberais, sua defesa irrestrita do regime democrático e sua paixão pela literatura e pela arte latino-americanas."

Mário Vargas Llosa é jornalista, dramaturgo, ensaísta, crítico literário, e um dos mais importantes escritores da atualidade. Nascido em Arequipa, no Peru, em 1936, viveu em Paris na década de 1960 e lecionou em diversas universidades norte-americanas e europeias ao longo dos anos.

Autor de uma extensa obra literária, foi vencedor dos prestigiosos prêmios Cervantes, Príncipe de Astúrias, PEN/Nabokov e Grinzane Cavour. O autorr divide seu tempo atualmente entre Londres, Paris, Madri e Lima. É autor, entre outros livros, dos romances Travessuras da menina má, Pantaleão e as visitadoras, Tia Julia e o escrevinhador e Elogio da madrasta, publicados no Brasil, pela Alfaguara.

Carlos Granés Maya nasceu em Bogotá, Colômbia, em 1975. É doutor em antropologia social pela Universidade Complutense de Madri e autor do livro La Revancha de la Imaginación: Antropología de los Procesos de Creación, Mario Vargas Llosa y José Alejandro Restrepo.

2 comentários:

  1. Lígia, Sabres e Utopias foi dos melhores livros que já li. Extremamente bem escrito, uma aula de história e sociologia. Vargas Llosa dá um banho.
    Abraço.
    Regina
    www.livroerrante.blogspot.com

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  2. Regina,
    O autor é tem uma forma bem clara de escrita, levando conhecimento amplo ao leitor.
    Obrigada pela visita e comentário, Regina, uma opinião tua, tão grande leitora é lei, rsrs.

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