quarta-feira, 11 de abril de 2018

Mário Quintana

Mário Quintana
Jamais compreendereis a terrível simplicidade das minhas palavras porque elas não são palavras: são rios, pássaros, naves...




"Descobri outro dia que o Quintana é um anjo disfarçado de homem. Às vezes, quando ele se descuida ao vestir o casaco, suas asas ficam de fora." Assim Érico Veríssimo descreveu o poeta que, com apenas 13 anos, publicou seus primeiros versos na revista literária Hyloea, do Colégio Militar de Porto Alegre.

Em 1926, Mário Quintana começou a trabalhar no setor de literatura estrangeira da Editora Globo. Naquele mesmo ano, ganhou um concurso de contos do Diário de Notícias com "A sétima personagem". A partir da década de 30, passou a colaborar com o jornal O Estado do Rio Grande e a traduzir autores como Papini, Maupassant, Proust, Charles Morgan, Voltaire e Virginia Woolf.

Quintana estreou como poeta, em 1940, ao editar A rua dos cataventos, obra formada por 35 sonetos. O livro obteve boa aceitação de público e crítica no Rio Grande do Sul. Mas o poeta só ganharia repercussão nacional com seu quarto livro, O aprendiz de feiticeiro, pelo qual recebeu elogios de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e outros.

Em 1943, começou a escrever crônicas poéticas, intituladas Caderno H, na revista Província de São Pedro, que viriam a ser publicadas também no Correio do Povo, a partir de 1953, e depois reunidas em livro. "Caderno H porque todas as coisas acabam sendo escritas na última hora, na hora H, na hora final", explica Quintana.

De acordo com Gilberto Mendonça Teles, "a leitura da obra de Mário Quintana constitui um excelente modelo para um estudo desse tipo de metalinguagem interna, em que o sujeito da enunciação se volta para o próprio discurso, contemplando-o ou "contemplando" teoricamente as causas e os fatores de sua produção".

A obra multifacetada de Quintana não está vinculada a escolas literárias. O escritor utilizou as formas clássicas da poesia, como o soneto, mas também lançou mão do verso e da prosa.

Sem nunca ter se casado, o poeta morou grande parte da vida em hotéis, como o Majestic, onde viveu de 1968 a 1980, que foi tombado pelo patrimônio histórico, passando a chamar-se Casa de Cultura Mário Quintana. Humilde e avesso a entrevistas e homenagens, o poeta manteve suas atividades de tradutor e jornalista até pouco antes de morrer, aos 87 anos. A cidade de Porto Alegre parou para prestar a última homenagem ao seu poeta mais querido. Por onde passava, o cortejo com o corpo de Mário Quintana era saudado pelo povo com chuvas de papel picado, palmas e lenços brancos.


"O verdadeiro poeta faz poesia com as coisas mais simples e coriqueiras deste e dos outros mundos."

"Creio que um verdadeiro poeta, ainda que soubesse ser o único sobrevivente humano na face da terra, ainda assim escreveria poemas. Indagar para quê ou para quem? Isso aprofundaria o mistério da criação poética."

"Fumar é um jeito discreto de ir queimando as ilusões perdidas."

(Mário Quintana).


"Eis aí um poeta dito menor que sempre foi um elemento de perturbação na minha vida: Mário Quintana. Concluí um longo e pretensioso ensaio sobre o onírico com uma citação de Sapato. (...) Tudo o que dissera com abundância de autores e teorias, o poeta simplificaria numa pequena imagem de salgueiro."
                                                                                                                                            Fausto Cunha


"A poesia de Mário Quintana é decorrência da atitude autêntica de um poeta que sobrevive ao formalismo da poética vanguardista."
                                                                                                                                    Herculano Moraes


"Alguns de teus versos não precisam estar impressos em tinta e papel: eu os carrego de cor, e às vezes eles brotam de mim como se fossem meus. De certo modo, eles são meus, e hás de convir comigo que a glória de um poeta é conceder essas parcerias anônimas pelo mundo..."
                                                                                                                             Paulo Mendes Campos



A Oferenda

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos...
Trago-te estas mãos vazias
Que vão tomando a forma do teu seio.



O Auto-Retrato

No retrato que me faço
- traço a traço -
Às vezes me pinto nuvem
Às vezes me pinto árvore...

Às vezes me pinto coisas
De que nem há mais lembrança...
Ou coisas que não existem
Mas que um dia existirão...

E, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
Minha eterna semelhança,

No final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!


Obras do autor

POESIA: A Rua dos cataventos, 1940; Canções, 1946; Sapato Florido, 1948; O aprendiz de feiticeiro, 1950; Espelho mágico, 1951; Inédiots e esparsos, 1953; Apontamentos de hist´rias sobrenatural, 1976; A vaca e o hipogrifo, 1977; Na volta da esquina, 1979; Esconderijos do tempo, 1980; Diário poético; 1985; Baú de espantos, 1985; Porta giratória, 1988; A cor do invisível, 1989; Velório sem defunto, 1990.

ANTOLOGIAS E OBRAS COMPLETAS: Poesias, 1962; Prosa e verso, 1978; Nova antologia poética, 1981. Os melhores poemas, 1983; 80 anos de poesia, 1986.

LITERATURA INFANTIL: Batalhão das letras, 1948; Pé de pilão, 1975.

CRÔNICAS E OUTROS: Caderno H, 1973; Lili inventa o mundo, 1983; Nariz de vidro, 1984; Sapato Amarelo, 1984; Da preguiça como método de trabalho, 1987; Preparativos de viagem, 1987; Sapato furado, 1994.




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