A elegância do ouriço - Muriel Barbery |
"Estar vivo talvez seja isto: espreitar os instantes que morrem."
Surpreendente o livro A elegância do ouriço! Linguagem leve, poética, aprofundada sobre a vivência humana, o sentido da vida, o estar no mundo. Trata com maestria as inter-relações.
"Qual é essa guerra que travamos, na evidência de nossa derrota? Manhã após manhã, já exaustos com todas essas batalhas que vêm, reconduzimos o pavor do cotidiano, esse corredor sem fim que, nas derradeiras horas, valerá como destino por ter sido tão longamente percorrido. Sim, meu anjo, eis o cotidiano: enfadonho, vazio e submerso em tristezas. As alamedas do inferno não são estranhas a isso; lá caímos um dia por termos ficado ai muito tempo. De um corredor às alamedas: então se dá a queda, sem choque nem surpresa. Cada dia reatamos com a tristeza do corredor e, passo após passo, executamos o caminho da nossa sombria danação.
Ele terá visto as alamedas? Como se nasce, depois de se ter caído? Que pupilas novas em olhos calcinados? Onde começa a guerra, e onde cessa o combate?
Então, uma camélia.
Sensível quando desnuda a alma humana seja através da história de Renée, zeladora de um prédio luxuoso no coração de Paris, tendo o coração amante da literatura (seu gato se chama Leon em homenagem a um escritor Russo) e da arte.
"Para que serve a Arte? Para nos dar a abreve mas fulgurante ilusão da camélia, abrindo no tempo uma brecha emocional que parece irredutível à lógica animal. Como nasce a Arte? Nasce da capacidade que tem o espírito de esculpir o campo sensorial. Que faz a Arte por nós? Ela dá forma e torna visíveis nossas emoções, e, ao fazê-lo, apõe o selo de eternidade presente em todas as obras que, por uma forma particular, sabem encarnar a universalidade dos afetos humanos."
A também moradora do prédio, a adolescente Paloma, que tem por projeto se suicidar no dia do seu aniversário colocando fogo no seu luxuoso apartamento caso não encontre um sentido para sua vida de inadaptação ao meio em que vive revelado em seu diário onde mantém anotações: os Pensamentos profundos e o Diário do movimento do mundo desenvolve um raciocínio de pura filosofia.
"A eternidade nos escapa.
Nesses dias, em que soçobram no altar de nossa natureza profunda todas as crenças românticas, políticas, intelectuais, metafísicas e morais que os anos de instrução e educação tentaram imprimir em nós, a sociedade, campo territorial cruzado por grandes ondas hierárquicas, afunda no nada do Sentido. Acabam-se os ricos e os pobres, os pensadores, os pesquisadores, os gestores, os escravos, os gentis e os malvados, os criativos e os conscienciosos, os sindicalistas e os individualistas, os progressistas e suas cartas e risos, seus comportamentos e enfeites, sua linguagens e seus códigos, inscritos na carta genética do primata médio, significam apenas isto: manter o própria nível ou morrer."
Kakuro Ozu, novo morador do prédio, dono de gatos com nomes de personagens russos entra em cena contracenando com as caras protagonistas dando novo sentido a suas vidas e busca da felicidade.
Final surpreendente. Recomendadíssimo!
"Qual é essa guerra que travamos, na evidência de nossa derrota? Manhã após manhã, já exaustos com todas essas batalhas que vêm, reconduzimos o pavor do cotidiano, esse corredor sem fim que, nas derradeiras horas, valerá como destino por ter sido tão longamente percorrido. Sim, meu anjo, eis o cotidiano: enfadonho, vazio e submerso em tristezas. As alamedas do inferno não são estranhas a isso; lá caímos um dia por termos ficado ai muito tempo. De um corredor às alamedas: então se dá a queda, sem choque nem surpresa. Cada dia reatamos com a tristeza do corredor e, passo após passo, executamos o caminho da nossa sombria danação.
Ele terá visto as alamedas? Como se nasce, depois de se ter caído? Que pupilas novas em olhos calcinados? Onde começa a guerra, e onde cessa o combate?
Então, uma camélia.
Sensível quando desnuda a alma humana seja através da história de Renée, zeladora de um prédio luxuoso no coração de Paris, tendo o coração amante da literatura (seu gato se chama Leon em homenagem a um escritor Russo) e da arte.
"Para que serve a Arte? Para nos dar a abreve mas fulgurante ilusão da camélia, abrindo no tempo uma brecha emocional que parece irredutível à lógica animal. Como nasce a Arte? Nasce da capacidade que tem o espírito de esculpir o campo sensorial. Que faz a Arte por nós? Ela dá forma e torna visíveis nossas emoções, e, ao fazê-lo, apõe o selo de eternidade presente em todas as obras que, por uma forma particular, sabem encarnar a universalidade dos afetos humanos."
"A eternidade nos escapa.
Nesses dias, em que soçobram no altar de nossa natureza profunda todas as crenças românticas, políticas, intelectuais, metafísicas e morais que os anos de instrução e educação tentaram imprimir em nós, a sociedade, campo territorial cruzado por grandes ondas hierárquicas, afunda no nada do Sentido. Acabam-se os ricos e os pobres, os pensadores, os pesquisadores, os gestores, os escravos, os gentis e os malvados, os criativos e os conscienciosos, os sindicalistas e os individualistas, os progressistas e suas cartas e risos, seus comportamentos e enfeites, sua linguagens e seus códigos, inscritos na carta genética do primata médio, significam apenas isto: manter o própria nível ou morrer."
Kakuro Ozu, novo morador do prédio, dono de gatos com nomes de personagens russos entra em cena contracenando com as caras protagonistas dando novo sentido a suas vidas e busca da felicidade.
Final surpreendente. Recomendadíssimo!
Muriel Barbery nasceu em Bayeux, em 1969. Ex-aluna da École Normale Supérieure, em Paris, atualmente leciona filosofia na Normandia, onde mora. Estreou na literatura com o romance Une gourmandise (2000), traduzido em doze línguas. Seu segundo livro, A elegância do ouriço, foi uma das grandes sensações literárias de 2006 na França.
Concordo plenamente com você. Um livro fabuloso!
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