domingo, 13 de novembro de 2011

Virginia Woolf - Entre os Atos

Entre os Atos - Virginia Woolf - tradução Lya Luft
prefácio Antônio Bivar
Novo Século Editora, 2008

"Não possuímos as palavras...
Elas estão por trás dos olhos, não sobre os lábios."

"Os livros são o espelho da alma."

Entre os Atos, de Virginia Woolf, é um livro para se ler detalhadamente, minuciosamente, sentindo cada compasso, cada ritmo ao percorrer suas páginas. Virgínia magistralmente coloca o mundo como representação onde cada ser expõe sua máscara na atuação do palco improvisado que se constrói ininterruptamente na história humana.

Bem poderia ter lido o aviso no belo prefácio de Lya Luft: Virginia se despede. Exagero? não aos sentidos.

"O último romance escrito por Virgínia Woolf, Entre os Atos, foi publicado postumamente, quatro meses depois de seu suicídio numa sexta-feira, 28 de março de 1941. Nascida em 25 de janeiro de 1882, Virgínia estava com 59 anos, dois meses e dois dias, quando afogou-se no Rio Ouse, meia milha da Monk´s House, sua residência campestre emRodmell, no condado de Sussex (distante pouco mais de uma hora de trem de Londres). A última pessoa que a viu foi John Hubbard, empegado de uma fazenda local. Hubbard contou que era por volta das 11h30 da manhã quando Virginia, de sobretudo e bengala, passou por ele em direção ao rio.
Virginia largou a bengala, enfiou pedras nos bolsos do casaco e entrou no rio. Deixara, em casa, cartas para o marido Leonard e para a irmã Vanesa 9que moraa a poucos quilômetros, na Fazenda Charleston). Nas cartas ela explicava ter certeza de estar ficando loucanovamente. E desta vez sem esperança de cura. creditava que nunca mais ficaria boa e não achava certo continuar dando trabalho aos outros. Para o marido ela escreveu: "Querido, tenho a certeza de que estou enlouquecendo de novo. De modo que estou fazendo o que me parece melhor. Não consigo mais lutar. Sei que estou estragando a sua vida e que semmim você poderá trabalhar. Você foi absolutamente paciente comigo e incrivelmente bom. Se alguém pudese me salvar, teria sido você." E termina: "Não creio que duas pessoas tenham sido mais felizes do que nós fomos."
(Lya Luft)


Pointz Hall, título original, o romance só ganhou o nome de "Entre os Atos" (Between the Acts) no dia da entrega para publicação e teve escrita simultânea a uma biografia para um amigo, Roger Fry, que a deixou, segundo páginas de seu diário, tensa por ter que abandonar seu livro original pelos encargos da proximidade da guerra que logo estourou. Segundo leitura de seu diário, Virginia nos anos que escreveu "Entre os Atos" parecia vivíssima e ágil. Por ocasião de Janeiro de 1939 Virginia se encontra com o pai psicanálise e ganha desse um narciso de presente. Desde 1924, em tradução de James Strachey, a editora de Virginia e Leonard Woolf vinha publicando as obras de Freud, já velho e doente por ocasião dessa visita.

"Aos leitores de "Entre os Atos" (em mais uma excelente tradução de Lya Luft) fica a forte impressão de que Virginia Woolf encerrou brilhantemente sua jornada de romancista fazendo perfeito uso da dialética da história. Não apenas a história de sua Inglaterra mas a história da humanidade, a luta da civilização contra a selvageria. Como escreveu John Lehmann: "Apesar de rude e fragmentada, Entre os Atos é a obra mais vigorosa e bem amarrada de Virginia Woolf. E o estranho simbolismo dá ao romance beleza e uma aterrorizante profundidade."
(Antônio Bivar - Membro do The Virginia Woolf - Society of Great Britain)


A narrativa de Virginia Woolf tem grande estilo, onde enlaça o humano neste conflito belamente montado que por vezes a beleza da força de suas singelas imagens são avassaladoras, seja nos contrastes de um ajuntamento de borboletas ou de uma tempestade.

"Baixou o jornal, e todos olharam para o céu a fim de constatar se o céu obedecia ao meteorologista. O tempo, sem dúvida, mostrava-se instável. Num momento, o jardim aparecia verde; noutro, cinzento. li vinha o sol - ilimitado êxtase de alegria, abraçando cada flor, cada folha. Depois, afastava-se compadecido, cobrindo a face como se não quisesse ver os sofrimentos humanos. Nas nuvens havia negligência, falta de simetria e ordem, quando se adensavam ou se esgarçavam Era a uma lei própria que obedeciam? Ou a lei nenhuma? Alguma não passavam de mechas de cabelo branco. Uma delas, bem no alto, muito distante, solidificara-se em dourado alabastro; era um mármore imortal. Por baixo dela haviz azul, azul puro, azul negro, azul jamais filtrado até a terra, esquivando-se a qualquer registro. Jamais caía sobre o mundo como o sol, a combra ou a chuva; antes, ignorava completamente essa esferazinha de terra colorida. Nenhuma flor jamais sentia esse azul; nenhum jardim."
(Entre Atos - Virgínia Woolf - págs.34,35)


Nascida em Londres, em 1882, Virginia Woolf tornou-se uma das mais importantes escritoras inglesas, conhecida também por suas posições feministas.Influenciada por Proust e Joyce, Virginia superou os limites impostos pela ficção realista, integrando à narrativa uma simultaneidade de eventos, criando uma nova concepção do tempo narrativo. Em 1941, após uma grave crise de depressão, Virgínia suicida-se no rio Ouse. Deixou ensaios, contos, biografias, uma extensa correspondência e romances como A Viagem, Noite e dia, O quarto de Jacob, As Ondas, entre outros.

 
(Lendo e construindo)

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