CATA-VENTO
JULHO de 1920
(Fuente Vaqueros,
Granada)
VENTO do Sul,
moreno, ardente,
que passas sobre minha carne,
trazendo-me semente
de brilhantes
olhares, empapado
de flores de laranjeira.
Tornas vermelha a lua
e soluçantes
os álamos cativos, mas vens
demasiado tarde!
Já enrolei a noite de meu conto
na estante!
Sem nenhum vento,
acredita em mim!,
gira, coração;
gira, coração.
Ar do Norte,
urso branco do vento!
Que passas sobre minha carne
tremente de auroras
boreais,
com tua capa de espectros
capitães,
e rindo estrepitosamente
do Dante.
Oh! polidor de estrelas!
Mas vens
demasiado tarde.
Meu armário está musgoso
e perdi a chave.
Sem nenhum vento,
acredita em mim!,
gira, coração;
gira, coração.
Brisas, gnomos e ventos
de nenhuma parte.
Mosquitos da rosa
de pétalas pirâmides.
Alísios destetados
entre as rudes árvores,
flautas na tormenta,
deixai-me!
Tem fortes cadeias
minha recordação,
e está catriva a ave
que desenha com trinos
a tarde.
As coisas que vão não voltam nunca,
todo o mundo sabe disso,
e entre o claro gentio dos ventos
é inútil queixar-se.
Não é verdade, choupo, mestre da brisa?
É inútil queixar-se!
Sem nenhum vento,
acredita em mim!
gira, coração;
gira, coração.
Nascido em 5 de junho de 1898, em Fuente Vaqueros, quando a Espanha tentava florescer nas letras e nas artes, Federico Garcia Lorca teve em Granada, provincia de sortilégios e muitos apelos telúricos, seu berço e túmulo.
O poeta e dramaturgo de trágico destino legou-nos uma obra que ultrapassou as fronteiras do tempo e de sua tão querida espanha. Esse artesão da palavra produziu, em tão breve período de tempo e de forma tão intensa, uma obra que reúne a essência do pensamento e da sensibilidade hispânica aliada a uma poesia com os traços universais que caracterizam os grandes poetas.
A vida e a obra de Garcia Lorca delinearam o perfil de um homem versátil, irrequieto, questionador, carismático, espontâneo e musical, amante da vida em todo o seu esplendor. É o poeta que levanta o grande véu que encobre as coisas do mundo vísível, que alimenta nossa alma e torna nossa vida menos feia e menos triste, cantando nossas alegrias e chorando nossas dores com o sublime ofício da palavra.
Tem muita sorte em possuir esta obra em mãos, Lígia. Afinal, ler Lorca é muito agradável. Compartilho também o gosto pelos poemas deste gentil poeta espanhol. Aqui uns dos meus poemas favoritos:
ResponderExcluirSe as minhas mãos pudessem desfolhar
Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.
Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.
Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!
Abraços.
Alex,
ResponderExcluirBelíssimo poema!!!
Beijos e grata pelo carinho.