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Anderson Braga Horta |
"Pequeno verme num pomar de estrelas,
deu-me o pai infinitas vidas
para em todas ardê-las."
Anderson Braga Horta começou a conviver com a poesia ainda na infância, pois seus pais eram poetas. Entretanto, só desenvolveu o gosto pela literatura depois que se mudou para a casa dos aós, em Manhumirim, cidade próxima de Laginha, onde ficara sua família. O entusiasmo pela poesia foi despertado pelo "estonteante mergulho na poesia de Castro Alves, especialmente no Navio Negreiro". Posteriormente, a leitura das obras de Olavo Bilac, Cruz e Souza, Alphonsus de Guimaraens e Augusto dos Anjos ampliou seu horizonte literário. Outros integrantes de sua "salada de versos": Camões, Guerra Junqueiro, Pessoa e Drummond.
O poeta vê três fases distintas em sua poesia: A primeira, "ancorada na tradição, do clássico ao romântico, do parnasiano ao simbolista"; a segunda, "a do descobrimento da poesia contemporânea (modernistas e pós ou neomodernistas), fase em que se manifestaram explosivamente as inquietações filosóficas, religiosas e sociais"; e a terceira, "atual, a fase pública, inciiada com a edição do primeiro livro solo, em 1971", onde aparecem ainda resquícios das anteriores.
Apesar de ter publicado poucos livros ao longo das duas últimas décadas, no ano 2000 o poeta colocou no mercado três obras poéticas: Quarteto arcaico, Pulso e Fragmentos da paixão, com o qual disputaria o prêmio Jabuti. E é cheio de esperanças que Anderson Braga Horta chega ao século XXI: "Direi o que desejo ver florir: uma poesia livre e desassombrada, isenta de preconceitos rançosos ou supostamente progressistas; capaz de tocar com virtuosismo todos os instrumentos, desde os tradicionais até os de recente criação, sem reacionarismo e sem a novidadeirice de soit disant vanguardistas; uma poesia em que a palavra seja vista em todas as suas faces, utilizada em todas as suas potencialidades, fônicas, visuais e sinestésicas, denotativas e conotativas, significativas e musicais."
ÓRFICA
I
Que ser é esse de que o céu se espanta?
O corpo esquartejado
levam-no os rios, bebem-no os mares,
vai com o vento nos ares.
Faz-se terra na terra.
Torna-se nada em todos os quadrantes.
Mas a cabeça canta.
II
Que corpo é esse
arcaico
animado de um fogo
entre o sagrado e o laico?
Corpo que se destroça,
fogo que se levanta.
III
Ai, o corpo se esfaz em limo, em lama.
As pernas, extintas, erram por seiva.
As mãos, arrancadas, crispam-se por frutos.
Mas a cebeça
canta!
Obras do autor
POESIA: Altiplano e outros poemas, 1971; Marvário, 1976; Incomunicação, 1977; Exercícios de homem, 1978; Cronoscópio, 1983; O cordeiro e a nuvem (antologia poética), 1984; O pássaro no aquário, 1990; Auto das trevas, 1997; Dos sonetos na corda de sol, 1999; Fragmentos da paixão, 2000; Quarteto arcaico, 2000.
Fonte: 100 Anos de Poesia - Um panorama da poesia brasileira no século XX - Volume II, pág. 188.
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