"O mar é para mim como o céu para um crente."
Vicente Augusto de Carvalho, nascido em Santos, litoral paulista, o "poeta do mar" - como viria a ser chamado - terminou os estudos longe de sua fonte de inspiração. Formou-se em Direito na Faculdade de São Paulo, em 1891.
Seus dois primeiros livros, Ardentias e Relicário, apresentavam um lirismo mais próximo do arrebatamento romântico do que da frieza descritiva do estetismo parnasiano, escola literária com a qual viria a ser associado. "A visão do oceano, da mata e da montanha e o encanto pela beleza da mulher são traços comuns do romântico e do parnasiano", aponta Alfredo Bosi, concordando com Euclides da Cunha, que prefaciou Poemas e canções. Para o escritor, Palavras ao mar é "... um dos mais breves e maiores poemas que ainda se escreveram na língua portuguesa".
Jornalista combativo, Vicente de Carvalho envolveu-se com a campanha republicana, tendo como princípio as idéias positivistas então em voga, chegando a ser eleito membro do Diretório Republicano de Santos. Nesta cidade, fundou o Diário da Manhã e O Jornal, e colaborava com A Tribuna e O Estado de S. Paulo.
Com o fim das suas atividades políticas - foi deputado do Congresso Constituinte do Estado -, mudou-se para Franca, no interior paulista, tornando-se fazendeiro. Retornaria a Santos, onde foi nomeado juiz em 1907 e, sete anos depois, ministro do Tribunal de Justiça. Em seu período positivista, Vicente de Carvalho parou de escrever poemas. Por isso seu nome não figura entre os parnasianos de ponta: Raimundo Correia, Olavo Bilac e Alberto de Oliveira. Mas a publicação de seus livros, no início do século XX, revelou, segundo Manuel Bandeira, "um quarto mestre, nada inferior aos outros, e em certos aspectos mesmo superior - mais vário, mais completo, mais natural, mais comovido". Para a professora e crítica Sônia Brayner, o poeta "jamais renegou os sentimentos líricos iniciais, assumindo uma posição independente frente às tendências formalistas".
Em 1909, foi eleito para a cadeira número 29 da Academia Brasileira de Letras, na sucessão de Artur Azevedo. Depois de se aposentar, deixou também o jornalismo, resumindo a sua participação na imprensa à publicação esparsa de versos na revista A Cigarra, e passou a dedicar-se com mais frequência ao seu passatempo favorito: a pescaria. Conta Amaury Ribeiro que "o poeta provocava a lenda de homem do mar que o circundava (...), sempre longe dos salões e da vida social, testando-se na praia, dormindo nos barcos, à espera das manhãs de pescaria". O "poeta do mar" faleceu vítima de uma pneumonia, adquirida durante um passeio de barco.
"Só explica tão forte empenho posto em granjear tão modesto resultado, como é um livro de versos, aquele fortíssimo instinto, profundamente humano, que se rebela contra a morte, sonhando, para depois dela, uma continuação, ainda que modificada, da vida."
"O autor de Poemas e canções não é legítimo parnasiano. Apenas soube aproveitar da escola poética de Bilac os grandes benefícios que trouxe, no Brasil, para a construção do verso."
Sugestões do Crepúsculo
Ao pôr-do-sol, pela tristeza
Da meia luz crepuscular,
Tem a toada de uma reza
A voz do mar.
Aumenta, alastra e desce pelas
Rampas dos morros, pouco a pouco,
O ermo de sombra, vago e oco,
Do céu sem sol e sem estrelas.
Tudo amortece e a tudo invade
Uma fadiga, um desconforto...
Como a infeliz serenidade
Do embaciado olhar de um morto.
Domada então por um instante
Da singular melancolia
De entorno - apenas balbucia
A voz piedosa do gigante.
Toda se abranda a vaga hirsuta,
Toda se humilha, a murmurar...
Que pede ao céu que não a escuta
A voz do mar?
1866 - Nasce no dia 5 de abril, em Santos - SP
1924 - Morre em 22 de abril, em São Paulo - SP
Obras do autor
POESIA: Ardentias, 1885; Relicário, 1888; Rosa, rosa do mar, 1902; Poemas e canções, 1908; Versos da mocidade, 1909.
PROSA: Verso e prosa, 1909; Páginas soltas, 1911; A voz dos sinos, 1916; Luisinha, 1924.
Fonte: 100 Anos de Poesia - Um Panorama da Poesia Brasileira do século XX
Com o fim das suas atividades políticas - foi deputado do Congresso Constituinte do Estado -, mudou-se para Franca, no interior paulista, tornando-se fazendeiro. Retornaria a Santos, onde foi nomeado juiz em 1907 e, sete anos depois, ministro do Tribunal de Justiça. Em seu período positivista, Vicente de Carvalho parou de escrever poemas. Por isso seu nome não figura entre os parnasianos de ponta: Raimundo Correia, Olavo Bilac e Alberto de Oliveira. Mas a publicação de seus livros, no início do século XX, revelou, segundo Manuel Bandeira, "um quarto mestre, nada inferior aos outros, e em certos aspectos mesmo superior - mais vário, mais completo, mais natural, mais comovido". Para a professora e crítica Sônia Brayner, o poeta "jamais renegou os sentimentos líricos iniciais, assumindo uma posição independente frente às tendências formalistas".
Em 1909, foi eleito para a cadeira número 29 da Academia Brasileira de Letras, na sucessão de Artur Azevedo. Depois de se aposentar, deixou também o jornalismo, resumindo a sua participação na imprensa à publicação esparsa de versos na revista A Cigarra, e passou a dedicar-se com mais frequência ao seu passatempo favorito: a pescaria. Conta Amaury Ribeiro que "o poeta provocava a lenda de homem do mar que o circundava (...), sempre longe dos salões e da vida social, testando-se na praia, dormindo nos barcos, à espera das manhãs de pescaria". O "poeta do mar" faleceu vítima de uma pneumonia, adquirida durante um passeio de barco.
"Só explica tão forte empenho posto em granjear tão modesto resultado, como é um livro de versos, aquele fortíssimo instinto, profundamente humano, que se rebela contra a morte, sonhando, para depois dela, uma continuação, ainda que modificada, da vida."
(Vicente de Carvalho)
"O autor de Poemas e canções não é legítimo parnasiano. Apenas soube aproveitar da escola poética de Bilac os grandes benefícios que trouxe, no Brasil, para a construção do verso."
(Mário de Andrade)
"Em matéria de linguagem e de regras em geral, Vicente de Carvalho foi, na mocidade, um revolucionário entusiasta, como o comum dos moços e até mais talvez. Afigurava-se-lhe a gramática portuguesa, em certos casos, apertada tirania exercida ilegalmente sobre o falar brasileiro."
(Euclides da Cunha)
Sugestões do Crepúsculo
Ao pôr-do-sol, pela tristeza
Da meia luz crepuscular,
Tem a toada de uma reza
A voz do mar.
Aumenta, alastra e desce pelas
Rampas dos morros, pouco a pouco,
O ermo de sombra, vago e oco,
Do céu sem sol e sem estrelas.
Tudo amortece e a tudo invade
Uma fadiga, um desconforto...
Como a infeliz serenidade
Do embaciado olhar de um morto.
Domada então por um instante
Da singular melancolia
De entorno - apenas balbucia
A voz piedosa do gigante.
Toda se abranda a vaga hirsuta,
Toda se humilha, a murmurar...
Que pede ao céu que não a escuta
A voz do mar?
1866 - Nasce no dia 5 de abril, em Santos - SP
1924 - Morre em 22 de abril, em São Paulo - SP
Obras do autor
POESIA: Ardentias, 1885; Relicário, 1888; Rosa, rosa do mar, 1902; Poemas e canções, 1908; Versos da mocidade, 1909.
PROSA: Verso e prosa, 1909; Páginas soltas, 1911; A voz dos sinos, 1916; Luisinha, 1924.
Fonte: 100 Anos de Poesia - Um Panorama da Poesia Brasileira do século XX