Wislawa Szymborska |
Alguns -
ou seja nem todos.
Nem mesmo a maioria de todos, mas a minoria.
Sem contar a escola onde é obrigtório
e os próprios poetas
seriam talvez uns dois em mil.
Gostam -
mas também se gosta de canja de galinha,
gosta-se de galanteios e da cor azul,
gosta-se de um xale velho,
gosta-se de fazer o que se tem vontade
gosta-se de afagar um cão.
De poesia -
mas o que é isso, poesia.
Muita resposta vaga
já foi dada a essa pergunta.
Pois eu não sei e não sei e me agarro a isso
como a uma tábua de salvação.
[Alguns gostam de poesia]
Poemas / Wislawa Szymorska; Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien - São Paulo : Companhia das Letras, 2011.
Escolhi o livro [poemas] , de Wislawa Szymborska, como presente especial a minha amada filha poetisa Carla Guedes, que faz aniversário no próximo mês de agosto. Para uma amante das letras e em especial de poesias, acredito ser o presente que a deixará deslumbrada com a qualidade dos poemas da autora polonesa, ganhadora do Prêmio Nobel de literatura de 1996, que sempre escreveu pouco mas merecedora do nobre prêmio, provando que quantidade não é qualidade.
Beirando aos 90 anos, toda a sua produção, que cabe num volume relativamente pequeno, pode ser lida em um dia ou dois, mas requer tempo para ser de fato apreciada. E isso não porque ela "escreva difícil", pois, para os poetas poloneses nascidos no entre guerras, quando seu país ressurgiu das ruínas de três impérios, não havia crime ou pecado maior que o hermetismo, a obscuridade. Pelo contrário: seus versos, que, lúcidos e acessíveis, nunca recorrem a referências esotéricas e a passes verbais de mágica, desdobram-se quase como equações lógicas cuja argumentação pode ser acompanhada por qualquer um. Nem por isso se trata de uma poesia fácil, no sentido de feita com facilidade. Sua arte, que é a da contenção, da economia e da reticência, pressupõe, em cada poema, uma intencionalidade meticulosamente pensada e, portanto, uma prolongada gestação. A polonesa só escreve seus poemas necessários e os escreve apenas uma vez, vale dizer, ela inventa procedimentos novos para cada um deles e não os repete nem os converte, como fazem bardos menores, em matriz xerográfica de dúzias de poemas similares.
Com uma obra completa mais seleta do que as antologias dos outros, Szymborska prova que muito da grandeza se revela naquilo que um autor se recusa a escrever. Sua poesia já foi chamada de filosófica e, condizentemente, enfatiza antes a indagação sistemática do que as eventuais respostas, mas as perguntas que dirige a uma realidade hostil são tão atípicas (embora também tão naturais e incontornáveis) quanto as de um pré-socrático que o túnel do tempo despejasse no centro da principal área de desastre do século XX. Foi em polonês que se escreveu a melhor poesia dos últimos cinquenta ou sessenta anos, e, pelas mãos de Szymborska, a geração de poetas que testemunhou a Segunda Guerra e o Holocausto, a ocupação nazista e a tirania comunista mostrou como a sanidade e a lucidez podem brotar da terra arrasada. (Nelson Ascher)
Beirando aos 90 anos, toda a sua produção, que cabe num volume relativamente pequeno, pode ser lida em um dia ou dois, mas requer tempo para ser de fato apreciada. E isso não porque ela "escreva difícil", pois, para os poetas poloneses nascidos no entre guerras, quando seu país ressurgiu das ruínas de três impérios, não havia crime ou pecado maior que o hermetismo, a obscuridade. Pelo contrário: seus versos, que, lúcidos e acessíveis, nunca recorrem a referências esotéricas e a passes verbais de mágica, desdobram-se quase como equações lógicas cuja argumentação pode ser acompanhada por qualquer um. Nem por isso se trata de uma poesia fácil, no sentido de feita com facilidade. Sua arte, que é a da contenção, da economia e da reticência, pressupõe, em cada poema, uma intencionalidade meticulosamente pensada e, portanto, uma prolongada gestação. A polonesa só escreve seus poemas necessários e os escreve apenas uma vez, vale dizer, ela inventa procedimentos novos para cada um deles e não os repete nem os converte, como fazem bardos menores, em matriz xerográfica de dúzias de poemas similares.
Com uma obra completa mais seleta do que as antologias dos outros, Szymborska prova que muito da grandeza se revela naquilo que um autor se recusa a escrever. Sua poesia já foi chamada de filosófica e, condizentemente, enfatiza antes a indagação sistemática do que as eventuais respostas, mas as perguntas que dirige a uma realidade hostil são tão atípicas (embora também tão naturais e incontornáveis) quanto as de um pré-socrático que o túnel do tempo despejasse no centro da principal área de desastre do século XX. Foi em polonês que se escreveu a melhor poesia dos últimos cinquenta ou sessenta anos, e, pelas mãos de Szymborska, a geração de poetas que testemunhou a Segunda Guerra e o Holocausto, a ocupação nazista e a tirania comunista mostrou como a sanidade e a lucidez podem brotar da terra arrasada. (Nelson Ascher)
Wislawa Szymborska nasceu em 1923 em Bnin, na Polônia. Em 1931 mudou-se com a família para Cracóvia, onde vive até hoje. Estudou literatura e sociologia na Universidade de Cracóvia. Trabalhou por quase trinta anos na revista literária Zycie Literackie.
Uau que maravilha... Gostei muito daqui e já estou seguindo para voltar mais vezes.
ResponderExcluirAbraços
Carlos Hamilton
www.mesadeconversa.com