A revista Cidade Nova de janeiro do corrente ano na seção "na estante", por Fernanda Pompermayer (fernanda@cidadenova.org.br) apresentou um crítica literária sobre o livro de contos de Érico Veríssimo entitulado Fantoches e outros contos aqui reproduzida:
Livro: Fantoche e outros contos
Autor: Érico Veríssimo
Editora: Companhia das letras, São Paulo, 2007
Páginas: 352
Preço: R$46,33
O longa "O tempo e o vento", de Jayme Monjardim, trouxe à memória dos brasileiros o escritor gaúcho Érico Veríssimo (1905-1975), m dos nossos autores clássico do século 20. O talento de Érico talvez tenha se perdido no tempo, levado pelo vento... mas nem por isso deixa de ser real e autêntico.
Além de sua obra-prima homônima ao filme - que é retratada por Monjardim apenas em parte - Érico escreveu dezenas de outros livros. O primeiro deles foi Fantoches, ainda em 1932, reunindo os seus primeiros contos, como se fossem peças de teatro. Depois vieram os romances Clarissa (1933), Música ao longe (1935) e muitos outros. Érico enveredou inclusive pela literatura infantil, escreveu diários de viagem e por fim suas memórias, em Solo de clarineta. Fantoches e outros contos é uma reedição do original Fantoches, acrescido de outros contos mais tardios. O volume conta com uma característica muito especial: para a edição comemorativa dos 40 anos da publicação de Fantoches, Érico, escritor mais maduro, apontou sobre o livro várias observações, inclusive ilustradas por ele mesmo, come espírito crítico e com o grande senso de humor que o caracterizou - dá para entender o talento e a veia humorística do filho, Luis Fernando Veríssimo.
A primeira parte da versão atual apresenta o livro original com os fac-símiles das páginas anotadas por Érico. "Há uns vinte anos, relendo os contos que formam o presente volume, tive sensação de ser pai de mim mesmo. Torando a l~e-los agora, vinte anos mais tarde, sinto-me como se eu fosse o meu próprio avô..." (Érico Veríssimo, 1972).
Na segunda parte (Outros contos), o autor dá um show com contos mais maduros e reflexivos. Só para dar água na boca:
As mãos de meu filho. "Todos aqueles homens e mulheres ali na platéia sombria parecem apagados habitantes dum submundo, criaturas em voz nem movimento, prisioneiros de algum perverso sortilégio. Centenas de olhos estão fitos na zona luminosa do palco. A luz circular do refletor envolve o pianista e o piano, que neste instante formam um só corpo, um monstro todo feito de nervos sonoros. Beethoven."
O navio das sombras. "É noite escura e o cais está deserto. Ivo ergue a gola do sobretudo. Sente muito frio, e o silêncio enorme e hostil enche-o de um vago medo. Vai viajar. Mas é estranho... Tudo parece diferente do que ele sempre imaginara. O grande transatlântico se desenha sem contornos certos contra o céu de fuligem. Não se vê um só vulto humano no cais. Advinha-se, entretanto, na treva, a presença rígida e gelada dos guindastes."
A ponte. "O médico tinha prometido vir às cinco da tarde com a interpretação da radiografia. Mário esperava-o, angustiado, na biblioteca de seu apartamento, imaginando o pior. Era um sábado de maio e ele estava sozinho desde as três, tentando concentrar-se na leitura de uma novela. Impossível. Tinha a atenção vaga e inquieta e, além da dor habitual no estômago, a garra do medo agora lhe oprimia o peito, dificultava-lhe a respiração."Na segunda parte (Outros contos), o autor dá um show com contos mais maduros e reflexivos. Só para dar água na boca:
As mãos de meu filho. "Todos aqueles homens e mulheres ali na platéia sombria parecem apagados habitantes dum submundo, criaturas em voz nem movimento, prisioneiros de algum perverso sortilégio. Centenas de olhos estão fitos na zona luminosa do palco. A luz circular do refletor envolve o pianista e o piano, que neste instante formam um só corpo, um monstro todo feito de nervos sonoros. Beethoven."
O navio das sombras. "É noite escura e o cais está deserto. Ivo ergue a gola do sobretudo. Sente muito frio, e o silêncio enorme e hostil enche-o de um vago medo. Vai viajar. Mas é estranho... Tudo parece diferente do que ele sempre imaginara. O grande transatlântico se desenha sem contornos certos contra o céu de fuligem. Não se vê um só vulto humano no cais. Advinha-se, entretanto, na treva, a presença rígida e gelada dos guindastes."
O grande Érico Veríssimo toca o fundo da alma de quem o lê. Por isso, é imperdível.
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