sexta-feira, 22 de abril de 2011

Rubem Fonseca - A Coleira do Cão

Rubem Fonseca - A Coleira do Cão - 5.ed. - Rio de Janeiro : Agir, 2010. Conto Brasileiro.

"Fiquei de repente calado e sentindo a coisa que me dá de vez em quando, nas ocasiões em que os dias ficam compridos e isso começa de manhã quando acordo sentindo uma aporrinhação enorme e penso que depois de tomar banho passa, depois de tomar café passa, depois de fazer ginástica passa, depois do dia passar passa, mas não passa e chega a noite e estou na mesma, sem querer mulher ou cinema, e no dia seguinte também não acabou. Já fiquei uma semana assim, deixei crescer a barba e olhava as pessoas, não como se olha um automóvel, mas perguntando, quem é?, quem é?, quem-é-além-do-nome?, e as pessoas passando na minha frente, gente pra burro neste mundo quem é?"
(A Força Humana - pág. 31)


Cá estou no feriado a folhear a extraordinária narrativa de Rubem Fonseca. A Coleira do Cão é o segundo livro do autor, publicado em 1965. Questiona a prisão do homem a sua existência, vindo a imagem do cão que, mesmo liberto, carrega um pedaço da corrente. A imagem do prisioneiro de si mesmo.

Nas oito histórias do volume, "A força humana", "O gravador", "Relatório de Carlos", "A opção", "O grande e o pequeno", "Madona", "Os graus" e "A coleira do cão", conto que dá nome ao livro, Rubem Fonseca exercita, em contos longos, a capacidade de imersão completa no universo narrado. Uma das obras literárias mais ricas e complexas de nosso tempo, que pões cada leitor diante de sua própria imagem em meio à beleza e à violência do mundo.

"Havia uns trinta anos que eu não chorava;é uma coisa estranha que preciso contar em detalhes. Após algum tempo os olhos se fecham; você sente as lágrimas molhando o seu rosto e uma sensação de alívio como se você fosse um homem envenenado e uma veia se abrisse e lentamente pusesse para fora todo o sangue ruim, fazendo-o sentir-se melhor a cada gota que saísse - mais leve, mais leve, mais bom, mais puro, mais digno, mais feliz na sua automisericórdia."

Rubem Fonseca nasceu em 1925 e é autor de 25 livros, dentro os quais romances, novelas, coletâneas de contos e O romance morreu, que reúne crônicas publicadas no Portal Literal. Recebeu cinco vezes o premio Jabuti e em 2003 os prêmios Juan Rulfo e Camões.

5 comentários:

  1. Esse blog é providencial em um país muito fraco de leitores...
    Temos uma necessidade a ser cumprida nesse aspecto e o teu blog, Nós Todos Lemos, diminui o peso desse desafio. Parabéns pelo blog,
    Abraços, Mário

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  2. Oi Lígia,

    Me chamo Túlio. Conheci agora o seu blog. Tem vários comentários sobre mtos livros q tbm já li. Achei mto interessante. Só queria sugerir um livro a você. É o "Sobressalto" do Kenneth Cook. Um grande livro. Eu já havia comentado com outros 'blogs' para que postassem alguma coisa sobre essa edição, mas deram pouca atenção. O livro vale mto a pena, é mto bem escrito! E o enredo é arrebatador. Basta dizer que foi filmado há alguns anos atrás.

    Só para constar, eu escrevo contos. Se puder dá uma olhada no meu blog, lá tem alguns textos meus, se achar interessante deixa um comentário. De leitor p/ leitor, ok? Desculpa me 'alongar', é q ainda não entendo mto bem cm funciona essa coisa de blog.

    Gostei mto do "Nós todos lemos". Abs.

    Túlio

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  3. Túlio,
    Somente agora vi o teu comentário.
    Infelizmente não localizei o teu blog.
    Obrigada pela dica do livro e comentário.
    Abraços.

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  4. Bibliotecando por aí,
    Obrigada pelo comentário, muito justo por sinal quando diz que o desafio de tornar leitores é grande em um país onde pouco se incentiva o ato de ler.
    Volte sempre.

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    1. Oi Lígia gostaria de saber se tem como você mandar um trecho do conto "A coleira do cão" de Ruben Fonseca

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