terça-feira, 12 de setembro de 2017

Walter Scott

Walter Scott

1771 - Em 15 de agosto, em Edimburgo, Escócia, nasce Walter Scott.

1773-79 - Vive em Sandy Knowe, na fazenda do avô.
1779 - Retorna a Edimburgo.
1787 -Aos 16 anos, começa a cursar Direito.
1792 - Forma-se advogado.
1797 - Casa-se com Marguerite-Charlotte Carpenter.
1799 - Torna-se delegado do condado de Selkirk.
            Traduz do alemão para o inglês o poema Lenore, de Burger, e o drama Goetz von Berlichingen, de Goethe.
1802 - Publica Minstrelsy of the Scottish Border.
1805 - Escreve Lay of the Last Minstrel.
1808-13 - Publica Marmion, The Lady of the Lake, Vision of  Don Roderick e Rokeby.
1812 - Compra um castelo em Abbotsford, próximo de Melrose.
1814 - Publica Waverley, considerado o primeiro romance histórico.
1815-19 - Publica O Astrólogo, O Antiquário, Tales of My Landlord, Os Puritanos da Escócia, Rob Roy e A Noiva de Lammermoor.
1820 - Publica Ivanhoé (*).
            Recebe o título de barão.
1820-25 - Publica The Monastery, The Abbot, Kenilworth, The Pirate, The Fortunes of Nigel, Peveril of the Peak, Quentin Durward, St. Roman's Well, Redgauntlet, Tales of the Crusaders.
1826 - Morrem sua mulher, Charlotte, e seu filho mais novo.
1827 - Sua saúde começa a declinar.
1830 - Publica Letters on Demonology and Witchcraft e Count Robert of Paris.
1831 - Publica Castle Dangerous.
1832 - Morre no Castelo de Abbotsford.


(*) Ivanhoé
Criador do romance histórico ocidental - estilo mais tarde imitado por Balzac, Gógol e outros -, Walter Scott exalta, em Ivanhoé, os cavaleiros medievais, o amor cortês, as batalhas sangrentas e aventuras espetaculares. Depois de ter caído em descrédito a partir da segunda metade do século XIX, Scott é hoje reconhecido como um dos maiores autores da literatura mundial.


"E assim, nossa muito amada Maria Stuart foi aprisionada e vilmente executada pelos ingleses. Um de seus antepassados, homem querido de todos e chamado pelo povo 'o velho Beardie', deixou crescer a barba para mostrar a tristeza que lhe causara a derrota da Escócia e a desgraça de sua soberana..."

O pequeno Walter ouvia extasiado o relato de tia Janet. Chegara a hora de dormir, mas na noite seguinte, ela continuaria. Eram histórias apaixonadas, refletas de aventuras verídicas, vividas pelos jacobitas, católicos escoceses que lutavam pela dinastia Stuart.

Com dois anos o menino dora levado de Edimburgo, onde nascera, em 1771, para a fazenda de seu avô. Um acidente, ou, segundo alguns, a poliomielite, deixara-lhe um defeito físico na perna. Acreditava-se que o ar puro do campo contribuiria para restabelecê-lo. E aos oito anos, de fato, o menino parecia ter se recuperado. Não era, porém, uma cura total, e pelo resto da vida ele sofreria as consequências da enfermidade - ou do acidente. 

De volta a Edimburgo em 1779, o garoto, de certa maneira, "descobriu" os próprios pais, com quem tivera até então pouco contato. O velho Walter Scott era um advogado importante e, segundo os vizinhos, um homem tão bondoso que, em vez de cobrar dos clientes, concedia-lhes empréstimos que terminava sempre perdoando, sem jamais se queixar. Por outro lado, era um calvinista rígido, incapaz de perdoar à mulher ou aos filhos quando, alguma vez, acontecia de esquecerem o dia do jejum e da penitência.

Anne Rutherfor, sua esposa, não parecia incomodar-se muito com esse autoritarismo, inscrito, segundo o modo de pensar da época, na "ordem natural das coisas". Sempre risonha, era mãe afetuosa, contava histórias e até fazia versos para os filhos.

O pequeno Walter estava longe de ser aluno brilhante, e para ele a época das aulas era um "tempo perdido" intercalado entre duas férias. Quando estas chegavam, começava para ele a "verdadeira" vida na fazenda do avô. Na biblioteca da mansão havia poucos livros, que Walter conhecia quase completamente. Certa vez, quando explorava as redondezas, descobriu uma espécie de biblioteca circulante, onde se achavam desde os antigos romances de cavalaria até as obras mais recentes. Com entusiasmo e avidez, entregou-se à leitura.

As leituras constituíam não só uma apaixonante distração para Walter mas também o principal motivo de sua popularidade entre os colegas. Na hora do recreio formavam-se largos círculos à sua volta, para ouvi-lo contar as lendas e os relatos populares que conhecia, as histórias fantásticas e as emocionantes aventuras do seu respeitável repertório.

Entre os mestres, no entanto, ele não era particularmente estimado. Embora reconhecessem seu talento, os professores não consideravam que isso o isentasse de aprender latim, aritmética e outras matérias, nas quais obtinha resultados bem pouco satisfatórios.

Preocupado com as más notas do filho e desejoso de fazê-lo seguir a carreira jurídica, o velho Scott contratou para ele um professor particular, que o salvou do fracasso total. E aos dezesseis anos, apesar de mal preparado, o rapaz iniciou o curso de Direito. Para uma imaginação fértil como a sua, eram estudos áridos e maçantes, só amenizados pelas aulas de história e de literatura. Sem grande convicção, diplomou-se em 1792. A profissão de advogado só lhe traria uma vantagem: proporcionaria a tenda com a qual podia adquirir novos romances e livros de poesia.

A arte e a literatura achavam-se ainda, em grande parte, sob influência dos modelos clássicos herdados do Renascimento, movimento cultural que despontara na Europa em meados do século XV e estendera-se até fins do século XVI.

O início da Revolução Industrial, em meados do século XVIII, trouxera consigo mais progresso e riquezas, porém, ao mesmo tempo, a busca desenfreada do lucro levara muitos fabricantes a impor a seus operários condições de trabalho e de vida lamentáveis. Homens, mulheres e até mesmo crianças trabalhavam duramente de catorze a dezesseis horas por dia, alimentando-se mal e frequentemente compartilhavam o mesmo quarto com várias outras famílias.

Revoltando-se contra o materialismo e o utilitarismo das idéias dominantes, uma nova geração de escritores começava a reclamar a volta à simplicidade e á natureza, ao homem considerado mais profundo nos sentimentos e não necessariamente no intelecto. Era o início de um novo movimento literário, o Romantismo.

O chamado "espírito romântico" adaptava-se particularmente ao temperamento do jovem Scott. Desde a infância, gostava de sentir-se perto da natureza. Mesmo depois de estabelecido como advogado, sempre que possível voltava ao campo e empreendia longas caminhadas solitaria, sem se incomodar com o sol, a chuva ou o vento.

Numa dessas excussões conheceu Marguerite-Charlotte Carpenter, filha de um protestante de Lyon que se refugiara na Escócia após a Revolução Francesa. Aproximados pelo amor comum à natureza, às caminhadas e às historias populares, os dois jovens casaram-se em 1797.

Walter Scott desejava ardentemente dedicar-se à literatura. Sua profissão, contudo, não lhe deixava o tempo necessário. A oportunidade apresentou-se em 1799, quando obteve o cargo de delegado no condado de Selkirk, pois esse era um posto tranquilo e razoavelmente bem remunerado.

Como primeiro exercício literário, traduziu para o inglês o poema Lenore, de Burger, e o drama Goetz von Berlichingen, de Goethe. Não lhe faltaram os aplausos dos amigos, mas Scott desejava escrever seus próprios poemas. Com tal intento procurou adaptar para a Escócia o gênero de baladas românticas compostas por Goethe para os alemães. Minstrelsy of the Scottish Border - Cancioneiro da Fronteira Escocesa -, publicado em 1802, não traz rigorosamente poemas ou relatos romanescos, mas um misto das duas formas em que Scott insere as tradições escocesas.

O sucesso estimulou-o a prosseguir na mesma linha: Lady of the Last Minstrel - o Canto do último Trovador - escrito em 1805, marmion, publicado em 1808, The Lady of the Lake - A Senhora do Lago -, em 1810, Vision of Don Roderick - A Visão de Dom Roderick -, lançado em 1811, e Rokeby, em 1813, fazem de Walter Scott um poeta conhecido e apreciado.

Além da fama, seus livros proporcionavam-lhe uma renda considerável. Em 1811 havia reunido a soma suficiente para realizar um velho sonho: morar em pleno campo. Nessa ocasião adquiriu o castelo de Abbotsford, às margens do rio Tweed, na Escócia. Era um lugar maravilhoso para o seu trabalho de escritor, perto dos lugares, dos homens e das tradições que inspiravam sua obra. Certo dia, em 1812, passando diante de uma livraria, viu na vitrina um livro intitulado Childe Harold, escrito por um rapaz de apenas 24 anos, Lord Byron. Eram versos parecidos com o gênero que compunha, mas incomparavelmente superiores. Concluindo que talvez jamais conseguisse escrever poemas tão apaixonados, Walter Scott resolveu tentar outro gênero literário.

Dois anos depois estava pronto Waverley e criado o romance histórico. Primeiro volume de uma trilogia, o enredo dessa obra é complexo, feito de batalhas, fugas, traições e aventuras de toda sorte. Basicamente, o romance histórico compõe-se de uma trama que constitui o argumento da obra e é, geralmente, fictícia. Essa trama insere-se num fundo histórico que corresponde à exata descrição da realidade.

Waverley é considerado o primeiro verdadeiro romance histórico, precursor de uma série destinada a criar escola. Depois viriam Guy Mannering - O Astrólogo -, em 1815; O Antiquário, em 1816; Tales of My Landlord - Contos do Meu Senhorio -, em 1817; Os Puritanos da Escócia e Rob Roy, em 1818; A Noiva de Lammermoor, em 1819, e outros.

Não se sabe exatamente qual a razão que levou Scott a não assinar o seu primeiro livro e a conservar-se no anonimato durante doze anos. Segundo alguns, ele não considerava a tarefa de escrever histórias suficientemente digna para um funcionário do Tribunal. Parece mais provável que de início, sentindo-se inseguro quanto ao sucesso da obra, não desejasse arriscar sua reputação. Mais tarde verificou-se que o mistério sobre o nome do autor contribuía ainda mais para aumentar o fascínio que seus romances exerciam sobre o público.

Os personagens de Scott são nobres e cavaleiros, mas também mordomos e mendigos, camponeses e homens simples. Os episódios e os ambientes são sempre sensacionais e marcantes; em O Antiquário, por exemplo, há uma tempestade, uma piquenique nas ruínas, os funerais noturnos de uma condessa. Um ponto é comum a todos os romances: a ação se desenrola necessariamente no passado, seja ele remoto, seja recente. Na ânsia de afastar-se do presente, o Romantismo - e especialmente o romance histórico - refugia-se no passado, em particular no passado medieval. Essa preferência pela Idade Média decorria do inflamado nacionalismo romântico; nos tempos medievais situam-se a fundação dos reinos, as raízes das nações européias, os heróis que os escritores românticos desejavam exaltar. Tendo em mente tal objetivo, em 1820 Scott elaborou Ivanhoé. Com esse livro o "autor de Waverley" atingia o auge da fama.  Muitas de suas obras estavam traduzidas em várias línguas; às festas de Abbotsford compareciam artistas de prestígio e membros da nobreza. Numa viagem ao continente, Scott foi recebido pelos reis da França e da Bélgica. Em 1820 tornou-se barão e passou a assinar sir Walter Scott. Nas altas rodas a identidade do romancista já não era segredo; para o público, todavia, continuava sendo uma fascinante incógnita.

Continuando a explorar a veia que tanto sucesso fizera com o público, Walter Scott produzia aproximadamente dois romances por ano: The Monastery - O Mosteiro e The Abbot - O Abade em 1820; Kenilworth em 1821; The Pirate - O Pirata, The Fortunes of Nigel - As Venturas de Nigel - e Peveril of the Peak em 1822; Quentin Durward em 1823; St. Roman´s Well - O Poço de St. Roman - e Redgauntlet em 1824; e, finalmente, Tales of the Crusaders - Contos dos Cruzados - , em 1825.

Ao lado da mulher e dos quatro filhos o escritor levava uma vida confortável mas extremamente ativa. Sua renda anual chegava a 10.000 libras, o que, somado às posses da família, parecia garantir-lhe um futuro tranquilo. O ano de 1826 traria, contudo, uma série de infelicidades para Scott. Primeiramente, a morte da esposa e do filho caçula; em seguida, a falência de seus editores, em cuja firma o escritor possuía considerável participação. Scott teve então de trabalhar duramente para saldar as dívidas.

Embora sua saúde começasse a declinar, entre 1827 e 1830 escreveu uma série de contos, reunidos sob o título de Crônicas de Canongate; a Vida de Napoleão Bonaparte, em 1827, em nove volumes, pra cuja elaboração consultara os arquivos de Londres e Paris; A Formosa Donzela de Perth, em 1828; Ana de Geierstein, em 1829. De volta à Escócia, revelou seu "segredo", declarando-se publicamente "o autor de Waverley". Porém, as homenagens que se seguiram não puderam levantar-lhe o moral abalado, especialmente porque, em seguida, sua biografia de Napoleão recebeu uma acolhida fria da crítica inglesa e duros ataques da francesa.

Continuando a trabalhar infatigavelmente, publicou, ainda nesse período, História da Escócia, em dois volumes, e Contos do Vovô, em quatro séries. Como resultado dessa extraordinária atividade, em dois anos conseguiu pagar parte de sua dívida.

Contudo, em finas de 1829 a família começou a se alarmar com a sua saúde. Em fevereiro do ano seguinte o escritor sofre o primeiro ataque de apoplexia, que o deixou parcialmente paralisado. Apesar da insistência dos médicos e dos amigos, que lhe recomendavam repouso, Scott continuou a escrever.  Em 1830 publicou Letters on Demonology and  Witchcraft - Cartas sobre a Demonologia e a Bruxaria - e o romance Count Robert of Paris - Conde Roberto de Paris -. No ano seguinte, lançou Castle Dangerous - Castelo Perigoso. Scott trabalhava igualmente numa grande edição de suas obras completas em 48 volumes, para a qual redigia notas, introduções e comentários.

Além da saúde, suas convicções políticas sofreram sério abalo durante o ano de 1830, quando uma revolução derrubou os Bourbon do trono francês. Admirador da família real francesa, Scott apelou fervorosamente ao público britânico em favor dos exilados.

Com o declínio de sua capacidade mental, o escritor passou a acreditar que houvesse liquidado todas as dívidas e que se achava novamente livre. Sentindo que seus dias estavam contados, ninguém procurou convence-lo do contrário. Quando soube que os médicos aconselhavam o romancista a mudar de ares, o governo britânico colocou um navio à sua disposição. Scott efetuou um cruzeiro pelo Mediterrâneo, mas já não podia apreciar completamente a beleza ao seu redor. Ainda em viagem, foi vítima de novo ataque apoplético. Solicitou então que o transportassem rapidamente à Escócia, onde desejava morrer.

Em julho de 1832 sir Walter Scott estava no castelo de Abbotsford, entre as árvores, os animais e os livros. Morreu no dia 21 de setembro.





Fonte: coleção obras-primas - grandes autores - vida e obra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails