quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Cassiano Ricardo Leite


Cassiano Ricardo

Não fui quem sou, quando nasci.
Nem sei quem sou, quando amo.



1895
Nasce no dia 26 de julho, em São José dos Campos - SP

1974
Morre em 14 de janeiro, no Rio de Janeiro - RJ




Aos 10 anos, Cassiano Ricardo publicou seus primeiros versos no jornalzinho manuscrito O Ideal, que ele próprio editava na escola. E com 16 anos, lançou o primeiro livro, Dentro da noite.


Em 1923, trabalhava no jornal Correio Paulistano, quando conheceu Plínio Salgado, Menotti del Picchia e Raul Bopp, aderindo ao movimento modernista. Em 1926, lanço o livro Vamos caçar papagaios, que o incluiu entre os artífices das tendências nacionalista do Modernismo. Mas ganhou celebridade com Martim Cererê, de 1928, que, baseado em lendas indígenas, conta a origem do Brasil. Neste mesmo ano, foi nomeado para o serviço público como censor teatral e cinematográfico.

Sempre ligado à vida política do país, Cassiano Ricardo acabou sendo preso por envolvimento com a Revolução Constitucionalista, em 1932, quando era secretário do governador Pedro de Toledo. O poeta foi militante da Bandeira, grupo que lutava por "uma democracia social brasileira, contra as ideologias dissolventes e exóticas". No ensaio "Marcha para Oeste", refere-se a Getúlio Vargas como "o homem bom governando os homens bons". Foi convidado para dirigir no Rio de Janeiro o jornal A Manhã, porta-voz do Estado Novo.

Em 1937, Cassiano Ricardo sucedeu a Paulo Setúbal na cadeira n. 31 da Academia Brasileira de Letras. A partir da publicação de Um dia depois do outro, sua poesia adquire um lirismo introspectivo, filosófico, enaltecendo a solidão e o silêncio. Manuel Bandeira viu uma renovação do poeta, "como que este, debruçando-se sobre si mesmo, tivesse descoberto as fontes mais profundas de sua inspiração". Para Péricles Eugênio da Silva Ramos, a poesia de Cassiano Ricardo chega à maturidade com A face perdida: "Reflete o estado de espírito de alguém que, já vivido, monologa na fronteira entre a vida e a morte." Homem aberto às novas idéias, o poeta acompanhou os movimentos de vanguarda dos anos 50 e 60: participou da revista Invenção e publicou dois livros na linha de pesquisas do concretismo e da poesia-práxis.

A intimidade com o poder e o fato de ter sido censor e colaborador do Estado Novo estigmatizou o poeta, criando, como observa Luíza Franco Moreira, "bons pretextos para não ler sua obra". Mas, segundo a professora, "há motivos ainda melhores para começar a leitura e fazer justiça à qualidade de sua poesia e sua prosa".




"O poema pertence a uma certa língua; a poesia, a todas as línguas."

"A palavra primitiva - não há quem o ignore - era poética por excelência, dada a origem metafórica da linguagem. Depois, já em outro estágio, passou ela a servir apenas de veículo para transmitir o conceito poético. Tornou-se descolorida, gastaa; e o que a salvava era o que o poeta tinha a dizer."

Cassiano Ricardo


"Cassiano Ricardo é um poeta intranquilo. Tem exercido a poesia como um atormentado ofício. Tem se imposto uma permanente superação de si mesmo (...). Um poeta que vestiu, com a maior humildade, todas as roupas que a emoção da vida lhe exigiu; e escolhendo um novo estilo, quase limitada a obedecer ao curso dos acontecimentos e dos ambientes, sem querer fingir de isolado ou evadido."

José Guilherme Merquior


"(Cassiano Ricardo) encontrou o seu espaço e não precisa mais refletir porque a sua própria poesia reflete para ele, reflete o mundo."

Paulo Mendes Campos


RELÓGIO

Diante de coisa tão doída
conservemo-nos serenos.

Cada minuto de vida
nunca é mais, é sempre menos.

Ser é apenas uma face
do não ser, e não do ser.

Desde o instante em que se nasce
já se começa a morrer.



Obras do autor

POESIA: Dentro da noite, 1915; A flauta de Pã, 1917; Jardim das Hespérides, 1920; A mentirosa de olhos verdes, 1924; Vamos caçar papagaios, 1926; Borrões de verde e amarelo, 1927; Martim Cererê, 1928; Canções da minha ternura, 1930; Deixa estar, jacaré, 1931; O sangue das horas, 1943; Um dia depois do outro, 1947; Poemas murais, 1950; A face perdida, 1950; O arranha-céu de vidro, 1956; João Torto e a fábula, 1956; Poesias completas, 1957; Montanha-russa, 1960; A difícil manhã, 1960; Jeremias sem-chorar, 1964; Poemas escolhidos, 1965; Os sobreviventes, 1971.

ENSAIO: o Brasil no original, 1936; O negro da bandeira, 1938; A  Academia e a poesia moderna, 1939; Marcha para Oeste, 1940; A poesia na técnica do romance, 1953; O tratado de Petrópolis, 1954; Pequeno ensaio de bandeirologia, 1959; 22 e a poesia de hoje, 1962; Algumas reflexões sobre a poética de vanguarda, 1964; O indianismo de Gonçalves Dias, 1964; Poesia-práxis e 22, 1966.

MEMÓRIAS: Viagem no tempo e no espaço, 1970. 


Fonte: 100 Anos de Poesia - Um panorama da poesia brasileira do século XX - Volume I; Organização Claufe Rodrigues e Alexandra Maia


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