quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Virgílio

Virgílio

70 a.C. - Em outubro, nasce Virgílio (em latim, Publis Vergilius Maro), em Andes, vilarejo próximo a Mântua, Itália.



55 a.C. - Recebe a toga viril dos cidadãos romanos.
               Muda-se para Milao.

53 a.C. - Muda-se para Roma.

49 a.C. - Muda-se para Nápoles após a eclosão da guerra civil deflagrada por César.

44 a.C. - Retorna a Andes.

42 a.C. - Começa a escrever as Bucólicas.

39 a.C. - Publica as Bucólicas.

36 a.C. - Começa a escrever as Geórgicas.

31 a.C. - Começa a escrever a Eneida.

19 a.C. - Viaja para a Grécia e para o Oriente.
               Regressa para a Itália.
               Morre em Brindisi e é sepultado em Nápoles.


Filho de um casal de camponeses de ascendência etrusca - Magia Pola e Istimicon -, Públio Virgílio Marão nasceu no mês de outubro do ano 70 a.C numa localidade chamada Andes, atual Pietole, perto de Mântua, ao norte da Itália. Além de agricultor, o pai de Virgílio era artesão, mágico, astrólogo e médico.

Conta uma lenda que, quando estava grávida, Magia sonhou que dava à luz um ramo de louros, que, ao cair no solo, criou raízes, floresceu e transformou-se em uma árvore frondosa, refleta de flores e frutos. Depois do sonho, Magia e Istimicon foram falar com o famoso poeta e filósofo Tito Lucrécio, irmão de Magia, para saber qual o significado do sonho. O filósofo, então predisse: "Você dará à luz um menino que se tornará famoso como poeta ou artista. Quando estiver crescido, levem-no aos mais famosos poetas para que aprenda com eles. É recomendável que lhe dêem o nome de Virgílio". Pouco tempo depois, enquanto caminhava pelos campos ao lado do marido, subitamente desviou-se da trilha, encostou-se num barranco e deu à luz o menino, que não chegou sequer a chorar, tão dócil era seu temperamento. Segundo o costume da época, quando uma mulher dava à luz, imediatamente após o parto ela semeava no local um álamo. A muda plantada pela mãe de Virgílio cresceu e desenvolveu-se tão rápido que em pouco tempo ela estava do tamanho de outras, plantadas muito antes. Recebeu o nome de "árvore de Virgílio" e passou a ser reverenciada por mulheres grávidas e mães de recém-nascidos, que faziam junto a ela orações em que pediam um parto tranquilo e uma criança saudável.

Os pais derma à criança o nome de Públio Virgílio Marão. Públio porque puplius em latim significa joelho grande, pois o bebê era corpulento; Virgílio traduz-se por ramo de louros; e Marão devido ao tom moreno de sua pele (maro, em latim).

A premonição da mãe de Virgílio se concretizou: seu filho deixaria um legado de grande valor para a humanidade. Observador, sábio e erudito, Virgílio se tornaria um dos mais célebres poetas latinos, cuja obra influenciaria grandes escritores e poetas e é considerada, até hoje, um modelo de perfeição literária.

Virgílio passou a infância na propriedade do pai e teve uma educação esmerada. Até os quinze anos de idade estudou na cidade de Cremona, na região da Lombardia. Foi com essa idade que recebeu a toga viril, uma vestimenta usada pelos cidadãos da Roma Antiga, segundo o costume da época, enrolada duas vezes ao redor do corpo e que caía em dobras. A toga dos homens adultos era branca lisa (a dos meninos tinha uma borda púrpura, e a dos imperadores e generais uma borda púrpura bordada).

Com quinze anos Virgílio foi para Milão, onde se dedicou com devoção ao estudo de literatura grega e romana, latim, matemática e medicina. Seus conhecimentos eram reconhecidos por todos, e chegou a ser chamado pelo cavalariço-mor do imperador Augusto para examinar os cavalos doentes. Com muita habilidade, Virgílio tratou de vários deles e os curou.

Mais tarde foi para Roma, onde estudou retórica e conheceu poetas e homens de Estado que desempenhariam um importante papel em sua vida - entre eles, Caio Mecenas e Asínio Pólio. Quando eclodiu a guerra civil em 49 a.C., deflagrada por César, Virgílio mudou-se para a cidade de Nápoles, onde estudou filosofia.

O objetivo de Virgílio era se especializar em direito, porém, depois de uma única fraca atuação em um tribunal, perdeu o interesse e retornou a sua propriedade para dedicar-se à escrita. Em 41 a.C. as terras foram confiscadas pelos veteranos de Antônio, que na época era o senhor de Roma e rival do imperador Augusto. Virgílio foi para a capital protestar contra a expropriação das terras. O escritor e cônsul Asínio Pólio, que o protegia, determinou então que a propriedade fosse restituída a Virgílio e seu irmão, uma vez que eles haviam acabado de perder o pai. Algum tempo depois Virgílio teve novamente as terras confiscadas, porém, dessa vez, em troca de uma indenização.

No ano 42 a.C, incentivado por Pólio, Virgílio iniciou a composição das Bucólicas, dez poemas pastorais inspirados nos Idílios do poeta grego Teócito. A obra foi muito apreciada nos círculos literários e, mais tarde, foi adaptada para o teatro. As Bucólicas elogiam, em belíssimos versos, a vida no campo. Tratam da nostalgia do homem da grande cidade diante da vida na natureza.

Após a publicação das Bucólicas, em 39 a.C., o poeta Horário, que era amigo de Virgílio, apresentou-o a Caio Mecenas, cavaleiro da corte do imperador e também poeta. Cercado de letrados ilustres, como Horácio, Cornélio Galo, Propércio, Asínio Pólio e Valério Messala Corvino, Mecenas convidou Virgílio para ingressar em seu círculo literário.  A partir de então Virgílio se converteu no mais entusiasta colaborador da política restauradora e pacificadora do imperador Augusto e passou a ser considerado um dos escritores mais estimados do novo regime, do qual tornou-se uma espécie de poeta oficial.

Durante sete anos Virgílio dedicou-se a compor um grande painel da vida rústica, um poema didatico sobre a vida e o trabalho no campo - as Geórgicas - composto por quatro livros: cultivo da terra e época apropriada para as diversas atividades agrícolas; cultivo das árvores; criação de gado; e criação de abelhas. Nessa obra, de cunho patriótico e social, a ciência agrícola e a poesia se fundem numa unidade perfeita.

Virgílio era um homem alto e corpulento, de tez morena, e embora houvesse sido criado em meio a bosques e árvores, tinha a saúde delicada, talvez em consequência do clima úmido da Lombardia. Sofria de constantes dores de estômago, de garganta e de cabeça, e muitas vezes expelia sangue ao tossir. Era um homem reservado e introvertido, possuía um coração generoso e sensível e um grande amor pelas pessoas e pela natureza. Essa personalidade explica suas mais notáveis qualidades: o amor pelos pequenos prazeres e pelos animais, a propensão à solidão, a imaginação fértil e o sendo de nostalgia.

Por incentivo do imperador, Virgílio começou a escrever a Eneida. Os últimos anos de sua vida foram dedicados a escrever esse poema épico em doze cantos que celebra a história do império romano e narra a queda de Tróia, as aventuras de Enéias, o estabelecimento dos troianos na Itália e a sua contribuição para a fundação de Roma. Os seis primeiros cantos, que narram os episódios dos amores de Dido e a descida do herói Enéias aos Infernos, foram inspirados na Odisséia; os outros seis cantos se aproximam mais dos relatos guerreiros da Ilíada, ambos poemas épicos atribuídos a Homero. Além da influência de Homero, percebe-se também a dos poetas alexandrinos na Eneida, que foi recebida pelos contemporâneos de Augusto como a mais importante epopéia nacional e teve grande repercussão na literatura da Idade Média e do Renascimento.

Em Eneida Virgílio  aperfeiçoou com tanta habilidade e sutileza a musicalidade e a precisão técnica do hexâmetro datílico - um padrão rítmico introduzido no verso épico pelo poeta latino Quinto Ênio - que desde então a obra é considerada um modelo de perfeição literária.

Admirador da cultura helênica, Virgílio sempre acalentava o sonho de conhecer a Grécia, e pretendia escrever mais três cantos da Eneida durante essa viagem, quando teria oportunidade de conhecer os cenários de sua obra. Antes de embarcar, no entanto, consciente de sua saúde precária, deixou instruções com seus amigos Vario Rufo e Plotio Tuca para que queimassem o manuscrito da Eneida caso alguma coisa acontecesse a ele antes que a obra fosse concluída, uma vez que a considerava imperfeita.

Durante a viagem de volta o estado de saúde de Virgílio se agravou, e assim que ele chegou à Itália, faleceu na cidade de Brindisi, no ano 19 a.C.

O imperador Augusto, entretanto, reconhecendo a importância da obra, não permitiu que ela fosse destruída. Contrariando a instrução de Virgílio, ordenou que fosse publicada. A Eneida tornou-se um clássico de imediato. Não levou muito tempo para que a epopéia fosse considerada a mais importante obra da língua latina e transformasse Virgílio em um dos mais célebres poetas de todos os tempos.

É também atribuída a Virgílio a autoria de uma coleção de poemas épicos menores, algumas elegias e um poema didático - com o título de Appendix Vergiliana -, que teriam sido escritos em sua juventude.

Na Idade Média foram interpretados significados filosóficos em seu conteúdo. A obra revela o profundo conhecimento do autor do passado histórico e literário greco-romano. Virgílio é considerado o poeta do equilíbrio. Sua descrição do mundo exterior é vívida, colorida e harmoniosa; e ninguém poderia expressar melhor o mundo interior, o retrato da alma, os sentimentos delicados, as mais profundas emoções, sem cair no melodrama.

Virgílio foi considerado um visionário, profeta e mágico. Seu estilo e sua técnica influenciaram grandes poetas, como Dante Alighieri, que considerava a obra de Virgílio, sua arte de escrever, seu uso da linguagem e a musicalidade de seus versos um verdadeiro primor. Não é de admirar que tenha sido considerado o poeta nacional de Roma, "o representante por excelência do gênio latino no pensamento e na arte", o "pai do Ocidente", e que sua obra seja considerada, até hoje, um modelo de perfeição literária.



Fonte: coleção obras-primas - grandes autores - vida e obra.

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