quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Oliver Sacks - Um antropólogo em Marte

Oliver Sacks
Um antropólogo em Marte : sete histórias paradoxais - Oliver Sacks; tradução Bernardo Carvalho. - São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

O caso do pintor daltônico, O último hippie, Uma vida de cirurgião, Ver e não ver, A paisagem dos seus sonhos, Prodígios e Um antropólogo em marte são casos clínicos extraordinários de que o neurologista nos apresenta com uma visão tendo como foco a individualidade humana e suas complexidades pois faz referência a indivíduos cujas vida, pressionadas por situações-limite (por vezes trágicas, em geral dramáticas) podendo nos levar a compreender melhor o que somos.

O caso do pintor daltônico
Relata a história do Sr. I que teve um colapso abrupto e completo da visão das cores, após um suposto acidente de carro passando a viver num mundo em preto-e-branco. Daltonismo total, raro. A partir do relato do paciente, desse sensível artista que em início de março de 1986 relata sua história em carta ao Dr. Oliver começa assim uma batalha pela compreensão das possibilidades da situação vigente e futura:
"Sou um artista consideravelmente bem-sucedido que acaba de passar dos 65 anos. No dia 2 de janeiro deste ano eu ia dirigindo meu carro quando levei uma trombada de um pequeno caminhão, do lado do passageiro. Durante a consulta no ambulatório de um hospital local, me disseram que eu tinha sofrido uma concussão. Durante o exame de vista, descobriram que eu não conseguia distinguir letras ou cores. As letras pareciam caracteres gregos. Minha visão era tal que tudo parecia visto através de uma tela de um televisor em preto-e-branco. Depois de alguns dia passei a distinguir as letras e fiquei com uma visão de águia - consigo ver uma minhoca se contorcendo a uma quadra de distância. A precisão do foco é inacreditável. MAS ESTOU COMPLETAMENTE DALTÔNICO. Procurei oftalmologistas que nada sabem sobre esse daltonismo. Procurei neurologistas - inutilmente. Mesmo sob hipnose, continuo sem distinguir as cores. Passei por todo tipo de exame. Todos os que você conseguir imaginar. "

A reflexão possível deste primeiro conto, poderia assim chamá-lo é instantânea ao que leva a refletir José Saramago no seu livro "Ensaio sobre a cegueira". É um mundo novo descortinado a partir da narrativa. Um mundo em que o ser humano poderá desfrutar, renovando percepções, novas concepções de vida possível a partir de novos ângulos. Ângulo diferente de tudo a que está acostumado, suas regras sociais, suas rotinas, tudo caindo por terra e novos valores a aflorar para que a vida continue, seja de que forma for.

Sete narrativas sobre a natureza e a alma humana, aviso o autor no prefácio, e sobre como elas colidem de formas inesperadas. As pessoas deste livro passaram por condições neurológicas tão diversas quanto a síndrome de Tourette, o autismo, a amnésia e o daltonismo total. Elas exemplificam essas condições, são "casos" no sentido médico tradicional - mas também são indivíduos únicos, cada um vivendo (e, em certo sentido, criando) seu próprio mundo.

Oliver Sacks nasceu em Londres, em 1933, e mora nos EUA, onde leciona no Albert Einstein College of Medicine (Nova York). É autor de Enxaqueca, Tempo de Despertar (que inspirou o filme homônimo com Robert de Niro e Robin Williams), O homem que confundiu sua mulher com um chapéu, A ilha dos daltônicos, Vendo vozes, Tio Tungstênio, Com uma perna só e Alucinações musicais - todos publicados pela Companhia das Letras.


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