terça-feira, 3 de setembro de 2013

O que me sobra

Lixo Extraordinário
Hoje o dia foi extremamente longo e proveitoso porque me dediquei parte dele à família e outra parte ao trabalho que foi bastante rendoso. No retorno para casa ainda fiz um sacolão no centro da cidade, voltei de táxi porque obviamente o dono do carro branco da casa como das últimas vezes não foi me buscar e o filho motorista também não podia (o que é diferente de não queria, menos mal). Após arrumar as coisas na geladeira, lavar ovos e sucos, uma tentativa falha de passar, um banho, um café, encher a máquina, descobri que o lixo não fora tirado pelos homens da casa. Já saindo para a rua para colocar créditos para os bons filhos eis que o saco de lixo rasga e derrama um caldo frio em meus pés que voltaram ao tanque, à toalha de banho, enfim, ganhei a rua, o quarteirão, a farmácia. Chego em casa, alguns minutos vãs tentando ver se a cria pequena nota a presença de 'alguém' que entrou em casa, neste caso, eu, e enfim, pensei: subindo para descansar. Minha eterna mania de retirar a lixeira do banheiro foi maior á subida da escada. Enfim, olhei o lixo e pensei: vai que o lixeiro ainda não passou... caminhei ao portão novamente e depositei o lixo sob os outros e quando passo a chave no portão notei que algo, parecia um bicho agachou e começou revirá-lo. Abri o portão e vi que uma mulher pequena, baixa, morena, uns trinta e poucos anos já ganhava o lixo da vizinha do outro lado da rua. Ela me olhou e disse: não tenho vergonha não, vivo disto. Então eu falei: a senhora recicla... tenho material aqui para reciclar. Lembrei que talvez fizesse também como no documentário lixo extraordinário.Ela voltou e disse: Deus do céu, não acredito. Eu fechei o portão e trouxe meu material de reciclagem que levo à empresa mas ela se decepcionou. E eu mais ainda com ela porque o lixo estava destroçado. Ela pegou um potinho de creme com um dedo no fundo e me mostrou: olhe este, é disto que vivo. Este está bonzinho. Não entendi bem, mas notei que ela precisava de coisas que continham restos. Talvez material de higiene. Então voltei e catei os restos de cremes que estavam no tanque a  mais de ano e ninguém usava para amaciar as mãos enquanto usa a área de serviço, peguei mais algum shampoo, potes, desodorantes e umas roupas. Ela brilhou o olho e me agradeceu tanto tanto que acho que em um culto não ouvi tanto o nome de Deus. Fiquei pensando que eu reclamava por ter lixo para colocar para fora e tantos não reclamam por carregar para dentro de suas casas o lixo dos outros. A mulher agachada no lixo me aguardava e parecia uma loba, essa foi a impressão. Sua lembrança resgatou uma caixa perdia em minha memória estudantil.  Uma vez na faculdade de Letras o colega de classe, Sabino, que virou prefeito da cidade de Rio das Ostras escreveu uma poesia vencedora do concurso de poesia, sobre o Lobishomem que era assim, um homem no lixo. Depois que ela se foi fiquei pensando que ela levou cremes e roupa mas será que queria comida... nem deu tempo de perguntar, ela parecia ter ganho o trabalho de uma semana em minha porta e foi somente o que me sobra, como tantas outras coisas.  


4 comentários:

  1. Dias comuns podem se tornar dias marcantes...talvezpor sua simplicidade.abraços pr ati

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  2. Adorei seu blog, obrigada por me seguir!

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  3. Lia Noronha,
    Que alegria tua presença.
    Verdade, tem dias que são tão complexos que almejamos sua simplicidade.
    Abraços.

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  4. Andie,
    Também me identifiquei muito com teu espaço.
    Obrigada por comentar.

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