domingo, 19 de junho de 2011

Pablo Neruda - A poesia

(Pablo Neruda)

Tem momentos em nossas vidas que a reflexão nos leva a nos desligarmos de leituras longas. Somente a poesia talvez cumpra este papel de reconecção, de completude, velhas companheiras de caminhada.

Observava o quão lindo é o encontro do homem com a poesia tão bem expresso nas palavras de Pablo Neruda, grande conhecedor dos sentimentos humanos, através desta belíssima poesia:

E foi nessa idade... Chegou a poesia
para me buscar. Não sei, não sei de onde
saiu, de inverno ou rio.
Não sei como nem quando,
não, nao eram vozes, não eram
palavras, nem silêncio,
porém desde uma rua me chamava,
desde os ramos da noite,
de repente entre os outros,
entre fogos violentos
ou regressando sozinho,
ali estava sem rosto
e me tocava.
Eu não sabia o que dizer, minha boca
não sabia
nomear,
meus olhos eram cegos,
e algo golpeava em minha alma,
febre ou asas perdidas,
e me fui fazendo só,
decifrando
aquela queimadura,
e escrevi a primeira linha vaga,
vaga, sem corpo, pura
tontice, pura sabedoria
de quem não sabe nada,
e vi de repente
o céu
degranado e aberto,
planetas,
plantações palpitantes,
a sombra perfurada,
crivada
de flechas, fogo e flores,
a noite esmagadora, o universo.

E eu, mínimo ser,
ébrio do grande vazio
constelado,
à semelhança, à imagem
do mistério,
me senti parte pura
do abismo,
rolei com as estrelas,
meu coração se desatou no vento.

(De Memorial de Isla Negra - Pablo Neruda)

4 comentários:

  1. Estava no mundo de k, e vim aqui conhecer o seu blog e simplesmente adorei.

    Bjs

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  2. Jugioli,

    Agradeço a presença.
    O Mundo de K é mesmo um local de encontro.
    Beijos.

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  3. li a autobiografia desse maravilhoso poeta chileno "Confesso que vivi" - uma vida extraordinariamente poética em todos os sentidos

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    1. Raimundo, obrigada pela visita e comentário. Sds, Lígia Guedes.

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