terça-feira, 7 de setembro de 2010

palavra expressa - autores diversos


A BOCA DA LUA

E eu aqui, namorando
A lua.
Num quarto crescente
Que mais parece uma boca.
A boca sua.
Sob os meus pés,
O mundo das águas
Azuis.
Hoje mansas,
Parecem seguir o caminho
Da luz.
Há dias que eu não vejo
Terra
E a brisa alimenta a chama
De partida. No horizonte tem uma
Embarcação
E eu aqui, querendo beijar
A lua
Num quarto crescente
Que mais parece uma boca
A boca sua.

(Jorge Piri)


A ESPERA

Singular é a espera por teu encontro.
Metade de mim nada manso,
Tudo ciclone: vazio intenso neste cômodo derradeiro.
Lá fora o pálido inverno arde,
Num imenso azul de fim de mundo
Plácidas constelações derramadas
Pelo nada do universo (pretume uniforme
Que me emudece de espanto e respeito).
Espreito fechaduras por entre portas inexistentes.
Reviro a alma, inquietante.
Quietude.
Esperar-te é convulsionar-me de sensações hediondas.

(Carla Guedes)

Olhando a poesia do caro colega Piri, sinto saudades do tempo em que em recitais a céu aberto nos reuníamos para declamar tantas outras palavras. Ver suas poesias e de tantos outros poetas reunidos em um único espaço traz esperança de que a terra do ouro negro é também a terra onde a sensibilidade de seus filhos a engrandecem através da palavra expressa.

Para o poeta Octavio Paz, é preciso democratizar a palavra poética para fazer da sociedade um poema coletivo. Foi a proposta do livro palavra expressa. Pelas mãos de dezessete poetas , dos encontros promovidos pelo projeto literário Palavra Expressa, da Biblioteca Pública Municipal Dr. Télio Barreto e fundação Macaé de Cultura, resultou esta coletânea dos escritores que já viveram, vivem ou que se deslocam pela cidade de "sangue negro", que dela extraem matéria para compor o seu tema urgente, seu canto de vidamorte. Esse canto é sem fronteiras: percorre o Atlântico, expande-se e encarna-se na deriva humana.

São poetas macaenses ou poetas que na e com a cidade inscrevem traços íntimos, afetivos. Alguns evocam a terra onde o sabor da macaba arde na boca. Surpreendem-se com o enlace rio-mar, com a altura e a profundidade: cidade dos contrastes.

O desejo da coletânea é registrar a diferença, os desvios: a palavra pronunciada no presente, as identificações fragmentárias, a mobilidade do entorno e do interno. O fluxo que a cidade traga e entrega. Mas também é um exercício de cartografar confluências. Pura produção poética que há em Macaé, a Princesinha do Atlântico.

Autores: Carla Guedes Braga, Carla Pereira da Silva, Conceição de Maria Pereira Alves, Corsinio Soares Francisco, Gerson Dudus, Harlen dos Santos, Iêda Moraes da Silva, Jaíra Pacheco Branco, Jorge Piri, Joventino de Oliveira Gomes, Laurita de Souza Santos Moreira, Maria Clara Curty Soares Bastos, Regina Céli Moreira Nunes, Rita Maria Salazar Brennand, Rosane Machado de Carvalho, Sandra Olivia Wyatt, Silvana Teixeira.

Palavra expressa / org. Rosane Machado Carvalho, Gerson Dudus, Carla Pereira Silva. Rio de Janeiro: imprimatur, 2008. 92p.

Um comentário:

  1. Interessante, mas muitas vezes a lua representa a uma pessoa querida que não está mas ao nosso lado...

    Fique com Deus, senhorita Lígia Guedes.
    Um abraço.

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